Suspendo o tempo nos fios da vontade, seguro os ponteiros do relógio que imagino, recuso o escoar dos segundos, não o quero para mim. Crio nas minhas mãos a eternidade, pedaço de vidro cristalino, incontáveis e estranhos mundos, conjectura de espaço sem fim. Brinco no centro galáctico, inundo-me de emoção e pasmo, perco-me num labirinto inventado, entre estrelas e quasares. Nada no cosmos é estático, encho-me de exaltado entusiasmo, não há segredo que não seja revelado, todos os mistérios se tornam vulgares. Conheço a verdade e o seu inverso; tenho a vida inteira e mais um pouco para aprender o que há a saber. A mente funde-se com o Universo… (Eu sei, às vezes pareço louco, mas não há nada a fazer…!)
Imagem: Universo! (www.faemalia.net/USPictures/Backgrounds/universe.jpg)
Olhando a Natureza à nossa volta, vemos que ela é extremamente bela e diversificada, mas não temos a consciência de que é feita a partir de coisas extremamente pequenas, blocos de construção com nomes estranhos, com os quais tudo é composto. E há as forças. Sem elas, as coisas não encontrariam o seu lugar; objectos e seres vivos ruiriam como castelos de cartas. Não haveria mais nada com forma e o Universo não passaria de um conjunto caótico de partículas dispersas. A compreensão do verdadeiro segredo das coisas não está somente na compreensão da matéria, mas também no entendimento daquilo que faz com que uma força seja o que é. Esta ideia é qualquer coisa que deveria tocar a nossa imaginação e é uma questão filosoficamente muito mais complexa e fundamental. Os bosões intermediários são os agentes das forças. São eles que, passeando entre as partículas, transportam a mensagem. São partículas que não têm a função de objecto, mas sobretudo de transportadoras de força. São os bosões que, finalmente, definem esta ordem de coisas que é a nossa.
Imagem: Bozão Z (www.physicsmasterclasses.org/exercises/hands-on-cern/pictures/wi_uppg3.gif)
A dificuldade sentida no entendimento da estrutura infinitesimal do espaço-tempo levou alguns teóricos a virarem-se para um campo inesperado: a física da matéria condensada, o estudo de substâncias comuns, como cristais ou líquidos, e das suas interacções em sistemas de grandes dimensões. Tal como o espaço-tempo, a matéria condensada é vista como um continuum, quando observada em grandes escalas, mas, ao contrário do espaço-tempo, tem uma estrutura microscópica bem conhecida, governada pela mecânica quântica. Além disso, a propagação do som num fluido em movimento é análoga à propagação da luz num espaço-tempo encurvado. Alguns trabalhos têm sugerido a possibilidade de que o espaço-tempo é constituído por grânulos, tal como um fluido é feito de incontáveis moléculas. Isto pode significar que, para distâncias extremamente curtas, o espaço-tempo pode manifestar características governadas por leis que não cabem no âmbito da relatividade. Teria Aristóteles razão, quando defendia a tese de que a Natureza abomina o vazio absoluto? O conceito de que a própria estrutura do Universo é feita de uma espécie de matéria-energia aglomerada em pacotes discretos vai ganhando um peso cada vez maior, fazendo crer que a relatividade é uma mera aproximação bem sucedida a uma teoria da Natureza bem mais profunda e unificadora.
Imagem: Espaço-Tempo (www.unpronounceable.com/graphics/raytraces/spacetime3.jpg)
Quando Albert Einstein publicou a sua teoria da relatividade restrita, em 1905, rejeitou liminarmente a ideia, em vigor até ao século XIX, segundo a qual a luz se propagaria no espaço sideral através da vibração de uma hipotética substância, o éter. Em vez disso, argumentou, as ondas de luz podem viajar no vácuo sem serem suportadas por qualquer material, ao contrário das ondas sonoras, que são vibrações do meio no qual se propagam. Este postulado é intocado nos outros dois pilares da física moderna, a relatividade geral e a mecânica quântica. Até aos dias de hoje, todos os dados experimentais, em escalas que vão desde o sub-nuclear até aos anos-luz, são explicados com êxito por estas três teorias. No entanto, os físicos enfrentam um profundo problema conceptual. Conforme compreendidas actualmente, a relatividade e a mecânica quântica são incompatíveis. A acção da gravidade, atribuída ao encurvamento do espaço-tempo pela presença de um corpo massivo, tem teimosamente recusado um enquadramento na teoria quântica. Os teóricos têm feito apenas pequenos progressos no sentido de entender a estrutura do espaço-tempo, altamente encurvada, que a mecânica quântica os faz crer existir em distâncias extremamente curtas. Haverá uma solução para este problema?
Imagem: Onda (www.maretec.mohid.com/Estuarios/Inicio/Mohid2000_files/image020.gif)
A visão científica do universo é radicalmente diferente daquilo em que acreditavam os cristãos da Idade Média. Contudo, é aceite pela moderna cosmologia a existência de um início do tempo, aquando do Big Bang. O fim é algo muito mais nebuloso; está por determinar se o universo é aberto ou fechado, embora pesquisas datadas dos finais da década de 90 do século XX, baseadas na observação de supernovas extremamente distantes, sugiram que a aceleração da expansão do universo é positiva. Num cosmos em expansão cada vez mais rápida é pouco provável que alguma força possa reverter o processo, sendo assim quase certo que vivemos num universo aberto. No entanto, a hipótese de um universo fechado não pode ser completamente arredada. Se a densidade média for superior à densidade crítica, a gravidade acabará por fazer parar a expansão e forçar a reversão do processo. O cosmos contrair-se-á, e acabará por colapsar sobre si próprio, até que toda amatéria fique concentrada numa singularidade. Dar-se-á aquilo a que se convencionou chamar de Big Crunch. E depois? Não poderá recomeçar tudo? Não poderá ocorrer um outro Big Bang? Não poderão o tempo e o universo ser cíclicos? Não poderia Platão ter tido um vislumbre da verdade?
Imagem: Tiempo (www.bluethinking.com/evam/cpg132/albums/userpics/10001/tiempo.jpg)
"Era uma vez, há muito, muito tempo..." Desde a alvorada da humanidade que a história do mundo foi abordada sob a forma de conto: através da mitologia e das histórias passadas de geração em geração, os homens sempre tentaram explicar como tudo começou. A questão do "quando" surgiu muito mais tarde. Nas mentes dos nossos ancestrais, o tempo não havia tido um início; supunham-no eterno, ainda que com ciclos perpétuos de recomeço. Não é a natureza governada por ciclos ininterruptos? A alternância da noite e do dia, a contínua sequência das fases da lua, a dança das estações... Nas mais antigas tradições hindus, que remontam a 4 milénios, o mundo era recreado incessantemente pela meditação do deus Brahma; os astecas supunham regenerar o cosmos através dos sacrifícios humanos. A astronomia antiga, ao colocar a Terra no centro de um universo onde os astros aparentam ser animados de movimentos circulares perfeitos, reforçou essa concepção cíclica. Para os filósofos gregos, como Platão, " o tempo imita a eternidade, desenrolando-se em círculos." Foi o cristianismo que perturbou essa relação antiga entre Homem e tempo: com a Génese, que descreve a criação do mundo em seis dias, e com o Apocalipse, construiu-se uma história linear, feita de eventos únicos e fundadores. O universo passou a evoluir de uma maneira irreversível, desde o seu início até ao seu fim. Passou a haver um tempo inicial e um tempo final. A necessidade de conhecer o "quando" tornou-se inevitável.
Imagem: Brahma (http://mythologiesetlegendes.ifrance.com/brahma.jpg)
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