Impávido, assistia a certa distância àquele desfile serpenteante e rocambolesco, tempestuoso e caótico, cheio de sons, cores e cheiros, feito de personagens envergando lustrosos trajes ou despidas de tudo. Peles de todas as cores, ou não estivessem as emoções à flor da pele. Rostos de todos os feitios, manifestando alegria ou tristeza, ódio ou amor, uns alheados, como que indiferentes a tudo, outros ostentando a falsa firmeza de quem pretende conhecer uma estranha coreografia em constante alteração. Corpos frágeis e engelhados, vergados sob o peso de indizíveis adversidades, arrastavam-se num esforço sobre-humano, fazendo por manter a compostura, enquanto bobos espalhafatosos cabriolavam como loucos, sacudidos por risos espasmódicos e delirantes. Havia quem dançasse, havia quem mantivesse um passo firme. Via-me em muitos dos trejeitos daquelas figuras tão familiares. Também eu vinha da noite dos tempos, também os alicerces do meu ser assentavam sobre mil milhões de anos, minúsculo pedaço de uma eternidade que nem todas as mentes juntas conseguem abarcar. Embora tivesse parado para o observar, também eu era parte do cortejo da vida…
Imagem: Desfile
(original:http://www1.istockphoto.com/file_thumbview_approve/3016604/2/istockphoto_3016604_crowded_street.jpg)
A apreciação da beleza e o desejo de atingi-la são tão velhos quanto a humanidade, mas a ideia de que ela seja um atributo de um objecto sexual só apareceu, surpreendentemente, com Charles Darwin, na segunda metade do século XIX. Darwin, cuja curiosidade a respeito da evolução não deixou inexplorado nenhum aspecto desse tema, acreditava que a beleza estava relacionada com a sexualidade. No seu livro A Descendência do Homem faz um esboço da teoria da selecção sexual. De acordo com ele, os animais sexualmente mais atraentes têm mais êxito na conquista de um parceiro e maior probabilidade de deixarem mais descendentes. Desse modo, reflectia ele, se o acasalamento é guiado por esses padrões, a selecção sexual favoreceria as formas de beleza manifestadas na humanidade. Embora cada raça tenda a admirar as características que lhe são únicas e que a distinguem das demais, a beleza, a etérea, fugaz e indizível beleza, tem uma qualidade universal que transcende os critérios locais; em todos os lugares, ela suscita sempre admiração e prazer.
Imagem: Afrodite (Botticelli) (http://users.sch.gr/pchaloul/anagennisi/Botticelli-spring-Afrodite.jpg)
Governos e religiões sempre usaram condicionamentos operantes para conseguir que as pessoas ajam e morram por uma causa. Mesmo que a causa seja justa, qualquer condicionamento é iníquo. É preocupante que os resultados dependam tanto do espectro moral de quem formula as contingências. Não suporto reis-filósofos da república, nem falsos santos, opulentos e hipócritas. Detesto a forma como a informação é manipulada e assusto-me com o assentimento acéfalo. A propaganda é uma arma, mas a inteligência devia bastar para que se evitasse o logro…
Imagem: Propaganda (www.signs-of-the-times.org/image/image/501/medium/hitler_propaganda.jpg)
“Os componentes da sociedade não são os seres humanos, mas as relações que existem entre eles.”
Muitos dos comportamentos humanos, ditos normais, são fruto de pressões evolutivas. Determinados comportamentos existentes em culturas tão distantes quanto diferentes, que no entanto exibem características comuns, tornam o ser humano um organismo adaptado socialmente ao meio em que se insere, e provam que a par da cultura, a biologia tem um papel fulcral na organização das sociedades. Certas regras sociais, que também podem ser vistas em grupos de insectos ou de primatas, servem para resguardar a própria existência do indivíduo, mas acima de tudo tendem a facilitar a transmissão do património genético às gerações futuras, de forma a perpetuar a espécie.
Imagem: Abelhas (http://acordeao.planetaclix.pt/Abelhas2.jpg)
Hoje há no mundo mais de seis mil milhões de seres humanos de reacções imprevisíveis, cada um deles controlado por três instâncias psíquicas, que segundo Freud serão o id, o ego e o superego, ou, numa visão mais moderna, o cérebro reptiliano, o sistema límbico e o córtex cerebral. Existe também uma infinidade de motivações sociais, económicas, políticas e religiosas. Para se poderem fazer previsões exactas sobre a humanidade, seria necessário lidar com milhões de milhões de variáveis, algo que é virtualmente impossível. Além disso, existe um outro problema. Consideremos gotas de água caindo sobre uma pedra. Enquanto a acção da água sobre a rocha pode ser modelada de maneira a que se consigam fazer previsões sobre os resultados dessa actividade, cada ser humano possui uma consciência mais ou menos desenvolvida e, o que é mais, em plena actualização. Na natureza, um estímulo igual tende sempre a provocar um efeito igual, e é essa regularidade que permite a elaboração das leis das ciências exactas. Mas o mesmo estímulo sócio-psíquico, num indivíduo, não desencadeia sempre a mesma sensação, porque o homem reage não directamente ao estímulo, mas sim à consciência que tem desse estímulo, o que leva a que a mesma pessoa possa ter atitudes diferentes, em tempos diversos, perante situações idênticas.
Imagem: Homem-Universo-Sociedade (www.spaceandmotion.com/Images/cosmology/human-universe-society-cosmos.jpg)
“A sociedade em si é uma rede, entrançada e profunda, semelhante ao emaranhado dos ramos de uma floresta, ou às intermináveis ondulações da água que flúi num regato. Somos os fios dessa interminável rede, ligados uns aos outros, entrançados numa malha de relações sociais expandidas em todas as direcções, partilhando ideias, estendendo o conhecimento, interagindo em benefício de todos e de cada um. Havendo igualdade de oportunidades, privilegia-se a diversidade; o valor de cada indivíduo deve ser reconhecido e incentivado. A incompetência é motivo de vergonha; quem a demonstra reconhece de imediato as suas falhas e tenta colmatá-las. Caminha-se para uma meritocracia sem os erros inerentes a um pesado sistema burocrático e centralizador, responsável, num passado não muito distante, pelo colapso económico e social, do qual resultou uma breve mas terrível idade das trevas.”
V.A.D. em Memórias do Futuro
Imagem: Rede (http://mobblog.plannermob.com.br/wp-content/uploads/2006/08/rede.jpg)
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