"Não vejo na natureza nenhum motivo para acreditar em Deus. Nem sou o único. Estrabão diz que os Galicianos não tinham nenhuma noção de um ser superior. Quando os missionários tiveram de falar de Deus aos indígenas das Índias Ocidentais, conta-nos Acosta, tiveram de usar palavra espanhola Dios. Não acreditareis, mas na sua língua não existia nenhum termo adequado. Se a ideia de Deus não é conhecida na natureza, deve portanto tratar-se de uma invenção humana... Mas não me olheis como se eu não tivesse sãos princípios e não fosse um fiel servidor do meu rei. Um verdadeiro filósofo não pretende de modo algum subverter a ordem natural das coisas. Aceita-a. Só pretende que o deixem cultivar os pensamentos. (...) Para outros, é uma sorte que existam papas e bispos para reter as multidões da revolta e do crime. A ordem do estado exige uma uniformidade do comportamento, a religião é necessária ao povo e o sábio deve sacrificar parte da sua independência para que a sociedade se mantenha firme. E para impedir que a sua língua seja arrancada. E para evitar ser queimado numa fogueira."
Excerto de A Ilha do Dia Antes, de Umberto Eco. Escritor e filósofo italiano, é autor de diversos romances históricos, entre os quais O Nome da Rosa, obra que viria a ser adaptada ao cinema.
"O gnosticismo, caro Íon, é uma filosofia que reflecte uma velha fraqueza do espírito humano. Incapaz de imaginar uma ordem da natureza diferente da que se lhe apresenta, e desde logo convicto de que constitui o coroamento de todas as espécies vivas, ou mesmo do Universo, o Homem é naturalmente propenso a interpretar os malogros das suas empresas como injustos. Semelhante à criança, que não cuida senão de si, ele atribui o seu infortúnio a uma potência sobrenatural e maligna que define como um deus mau. E, na sua lógica, deduz que, visto haver um deus mau, há também um bom. É claro que ele se identifica com o bom e o cumula de sacrifícios. (...) Supõe igualmente que os seus sofrimentos são partilhados pelo deus bom, (...) e acaba por ter a certeza de que este anda em guerra aberta com o deus mau. Como somos todos mortais e supomos que a morte é um acidente que não adviria se o deus bom reinasse, deduzimos também que, cá na Terra, o deus mau triunfa sempre do bom. O que significa que o mundo material é o império do deus mau. Mas como esta ideia é insuportável, supomos, outrossim, que no mundo invisível o deus bom se desforra. (...) (Os homens) simplificaram tremendamente a sua representação do mundo, o bem em cima e o mal em baixo. Do mesmo passo, eliminaram das suas cabeças toda a complexidade do mundo. É exactamente o contrário daquilo para que deveria tender o espírito humano."
Excerto de O Homem Que Se Tornou Deus, de Gerald Messadié. Esta obra é o resultado de um longo e complexo trabalho, levado a cabo com extrema seriedade e notável rigor científico, com o objectivo de trazer finalmente à luz, dois mil anos depois, factos que têm permanecido ocultos ou foram deturpados em sucessivas e, em muitos casos, tendenciosas interpretações. Um livro que merece ser lido.
Imagem: Gnosticismo (www.fuocosacro.com/pagine/liste/studi108.jpg)
Haverá alguma explicação satisfatória que possa ser entendida, pelo menos parcialmente, para a origem das religiões? Conheceremos, por acaso, um mecanismo que consiga converter diferentes géneros de percepções ou de memórias em deuses? Se considerarmos o conhecimento adquirido nas últimas décadas sobre a estrutura cerebral, verificamos que diferentes partes do cérebro controlam aspectos diferentes do comportamento humano. Nos esquizofrénicos e em alguns epilépticos existe uma distinta falta de coordenação entre os dois hemisférios cerebrais, podendo o lado esquerdo ser uma fonte de mensagens que, depois de processadas de forma inadvertidamente pelo lado direito, são interpretadas como vozes de outras pessoas, ou tomam a forma de alucinações visuais. Examinando a literatura religiosa e épica dos Antigos, verifica-se uma semelhança notável entre o processo de criação mitológica e religiosa dos nossos antepassados, e o processo de alucinação auditiva e visual que caracteriza a esquizofrenia. Em A Ilíada, por exemplo, o famoso poema épico de Homero sobre a guerra de Troia, os heróis nunca tomam uma decisão por si próprios, nem nunca ponderam um problema. A resposta é sempre considerada como vinda directamente de um deus. No auge da batalha, Aquiles é interrompido pela deusa da guerra Atena, que lhe diz para atacar um determinado inimigo. As vozes ouvidas pelos profetas, os escritos ditados por deus, as musas que inspiram os poetas, as ordens emitidas por falecidos... Devemos considerar a hipótese de tudo isto ser um produto de mentes alteradas por distúrbios neurológicos...
Imagem: Atena (www.nicoli-sculptures.com/im/atena.jpg)
Fonte: Enigmas Eternos
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