Estava-se na caprichosa época do Pleistoceno. A adaptabilidade era a chave da sobrevivência para qualquer espécie. O clima era incerto; os gelos avançavam e recuavam na Europa e na América do Norte, seguindo os padrões da precipitação em África. Numa savana semidesértica do continente que foi berço da humanidade, um pequeno grupo de hominídeos havia organizado o seu acampamento junto à margem de um ribeiro de águas límpidas e tranquilas. No horizonte, a oeste, uma cadeia montanhosa estendia-se, imponente, até se perder de vista. De um dos cumes saía um fumo branco e espesso e, de tempos a tempos, a montanha rugia, vomitando das suas entranhas pedras incandescentes que inflamavam as ervas altas e secas. A tribo sabia já usar aquela dádiva da Natureza. Serviam-se frequentemente do fogo para afastar os grandes predadores nocturnos, mas ainda não haviam considerado a hipótese de o usar para cozinhar os alimentos. Durante o dia, sabiam tomar conta de si próprios. Usavam machados de pedra e clavas com um aspecto não menos ameaçador...
Imagem: Vulcão "Ol Doinyo Longai" (www.mtsu.edu/~fbelton/flankview00.jpg)
Durante os quase quatro mil milhões de anos que decorreram desde o aparecimento da vida no nosso planeta, a evolução tem gerado maravilhosas metamorfoses. Uma das mais espectaculares foi certamente aquela que transformou as barbatanas dos animais marinhos nos membros que sustentam o peso e permitem a locomoção dos animais terrestres. Nos nossos dias, o grupo de seres designados de tetrápodes, inclui as aves (e os seus antepassados dinossáurios), os lagartos, as cobras, as tartarugas, as rãs e os mamíferos. Alguns destes animais perderam ou sofreram modificações nos seus membros locomotores, mas o seu antepassado comum teve-os: dois na parte frontal do corpo, e dois na parte traseira, onde dantes as barbatanas se agitavam. Esta alteração fisiológica foi crucial, mas não foi de forma alguma a única. À medida que os tetrápodes se aventuravam nas costas arenosas ou lamacentas, encontravam desafios que nenhum outro vertebrado havia alguma vez enfrentado. Desenvolver pernas e caminhar não bastava. A terra firme é um meio radicalmente diferente da água, e para a conquistar, estes seres tiveram que desenvolver novas maneiras de respirar, de ouvir e de lidar com a força gravítica. Contudo, e uma vez completada a transição, os continentes eram a sua nova casa.
Imagem: Pinguins-rei (www.museudavida.fiocruz.br/publique/media/Pinguim%20rei2.jpg)
O acontecimento de Chicxulub foi verdadeiramente dramático. Aniquilou mais de 75% das espécies animais e vegetais da Terra e acabou com a era dos dinossáurios. Uma das forças mais destrutivas resultantes do impacto foi a ignição de vastos incêndios, que varreram a maioria dos continentes e dizimaram habitats críticos. Ao colidir, o asteróide ou cometa foi obliterado e partes da crosta terrestre foram vaporizadas, criando uma nuvem de fogo e detritos que, com crescente velocidade, se elevou da cratera e subiu como um foguete através da atmosfera. Expandindo-se até uma altitude de 100 a 200 quilómetros, penetrou no espaço e envolveu o planeta inteiro. Os materiais começaram então a cair, por influência da gravidade, atravessando a atmosfera de regresso ao solo, com quase a mesma energia com que tinham sido lançadas de Chicxulub. As partículas iluminaram o céu como milhares de milhões de meteoros, aquecendo um grande volume da atmosfera. Muitos vieram a incendiar a vegetação de vastas porções do globo, em particular nas áreas sul e central da América do Norte, no centro da América do Sul, no centro de África, no subcontinente indiano e no sudoeste da Ásia. Dependendo da trajectória do objecto de impacto, os incêndios podem também ter atingido a Austrália e a Europa.
Felizmente, nem todas as zonas foram afectadas de igual forma. Bem longe do local de impacto, a norte, muitas espécies sobreviveram. A partir desses nichos, a vida recuperou o planeta.
Imagem: Extinção K-T (http://dramatic-environments.com/db3/00229/dramatic-environments.com/_uimages/Set-upKTmedCropweb.jpg)
Quase todos sabemos que foi o impacto de um cometa ou asteróide que trouxe o fim abrupto da era dos dinossáurios. Menos conhecido, entretanto, é exactamento como eles, e tantas outras espécies, se extinguiram e como os ecossistemas se conseguiram reconstituir. A magnitude do evento foi muito além das agressões regulares com que os seres vivos se confrontam. O corpo celeste em rota de colisão flamejou pelo céu a mais de 40 vezes a velocidade do som. Era tão grande que quando a sua borda inferior tocou o solo, a sua parte superior estava à altura de cruzeiro de um avião comercial. O impacto produziu uma explosão equivalente a 100 milhões de milhões de toneladas de TNT, uma libertação de energia maior do que qualquer evento ocorrido no planeta nos 65 milhões de anos que se passaram desde então. Os remanescentes da colisão jazem debaixo da floresta tropical do Iucatão, das ruinas maias de Mayapán e das águas do Golfo do México. A cratera, chamada de Chicxulub, tem aproximadamente 180 kms de diâmetro e é circundada por uma falha circular de 240 kms, aparentemente produzida quando a crosta terrestre reverberou com o choque do impacto. A realidade às vezes supera a ficção na sua capacidade de surpreender e assombrar. É o caso, em relação a esta catástrofe natural. Ela destruiu um mundo e abriu caminho para um novo...
Imagem: Asteróide (www.universetoday.com/am/uploads/2004-0514asteroid-lg.jpg)
Descobertas em 1952 na Roménia, e reexaminadas recentemente, ossadas de Homo Sapiens arcaicos, com cerca de 30000 anos, apresentam fortes semelhanças com os esqueletos de Homo Neanderthalensis, especialmente no que diz respeito ao crânio. A testa inclinada, a protuberância occipital e uma grande distância inter-orbital, são características marcantes da fisionomia dos nossos parentes extintos há cerca de 27000 anos. Segundo o paleontólogo norte-americano Erik Trinkaus, estas constatações reforçam a ideia de que houve um longo processo de contacto e miscigenação entre as duas espécies, durante os dez milénios de coabitação na Europa. Em Janeiro de 2003, Trinkaus, em parceria com João Zilhão, havia publicado em Lisboa uma monografia sobre o Menino do Lapedo, uma criança identificada como portadora de características típicas quer de homem moderno, quer de neanderthal, e cujos restos mortais foram descobertos em 1998 no vale do Lapedo, perto de Leiria. Neste trabalho de 610 páginas, chamado Retrato do artista enquanto criança, é reafirmada uma posição polémica quem tem posto em polvorosa o mundo da antropologia, desde que foi exposta pela primeira vez em 1999. Para os autores, não há lugar a discussões: ao deixar África e colonizar a Europa, a humanidade moderna não exterminou os antigos habitantes do continente, mas, em maior ou menor grau, misturou os seus genes com os deles. E o esqueleto do menino pode ser a prova cabal disso mesmo.
Imagem: Neanderthal (www.frazettaartgallery.com/gallery/prints/8_neanderthal.jpeg)
Fontes: Science & Vie, Sci-Am
Em 2004, na ilha de Flores, Indonésia, paleontólogos indonésios e australianos descobriram, na gruta de Liang Bua, restos fossilizados de um indivíduo de uma espécie até agora desconhecida. Com uma altura de cerca de 1 metro e um volume cerebral de aproximadamente 380 cm³, três vezes menor que o de um homem moderno (Homo Sapiens), este humano gerou enorme polémica. Os cépticos atribuiram as suas características físicas a uma patologia denominada microcefalia, enquanto outros consideraram que o achado representava uma nova espécie, a que atribuiram o nome de Homo Floresiensis. Contudo, em 2005, a mesma equipa de paleontólogos exumou os restos mortais de outros sete indivíduos, que apresentavam os mesmos traços físicos: baixa estatura, cérebro e membros pequenos; as dúvidas dissiparam-se. A datação dos ossos revelou-se também surpreendente, tendo alguns 90000 anos, e outros 12000. Até há bem pouco tempo pensava-se que após a extinção do Homem de Neandertal, há cerca de 27000 anos, só a nossa espécie povoava o planeta. Ninguém supunha que uma outra humanidade pudesse ter coexistido connosco num passado tão recente.
Imagem: Homo Floresiensis
Fonte: Science & Vie
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. Blogs
. Abrupto
. Feelings
. Emanuela
. Sibila
. Reflexão
. TNT
. Lazy Cat
. Catinu
. Marisol
. A Túlipa
. Trapézio
. Pérola
. B612
. Emanuela
. Tibéu
. Links
. NASA