Quarta-feira, 7 de Maio de 2008

Sequência Principal

Nascença, a fragilidade do ser aconchegando-se no peito da progenitora, a dependência absoluta transformando-se paulatinamente na autonomia crescente dos anos que passam, plenos de novidade e prodígio, as descobertas sucedendo-se numa esfusiante cadência feita de brincadeiras e percepções, o mundo crescendo num permanente alargar de horizontes… Experimentação, as inúmeras possibilidades mostrando-se-lhe num caleidoscópio de simetrias multicolores e variáveis, a juventude avocando a natural irreverência de quem crê tudo poder... Emancipação, a dureza desafiadora das responsabilidades assumidas afigurando-se-lhe estimulante, as escolhas sendo feitas em impulsos, as emoções manifestando-se na indizível doçura de um amor consequente e prolífero… Domínio, o doce sabor do poder e dos feitos, a preciosa negação da insondabilidade dos mais profundos mistérios, a férrea vontade de caminhar no sentido da descoberta, a inacabada aprendizagem conferindo-lhe a convicção de pouco saber, o pouco que sabe parecendo-lhe insuficiente, a apressada procura de colmatar as lacunas fazendo-o sentir que o tempo escasseia… Decrepitude, a imponderabilidade das noções absurdas, a trémula incerteza do que há para vir, a irrealidade dos raciocínios impérvios assomando-se, estranha e incoerente, emaranhando a existência nos fios pegajosos da demência, ossos e músculos acusando o ónus das décadas… Decessa, nada mais que o vazio, a individualidade evolando-se em memórias que não passam de resíduos etéreos daquilo que fora, a identidade dissipando-se no irrevogável substrato do tempo, a espuma fantasmagórica da sua mente ficando somente registada nas palavras insistentemente grafadas em formato digital, até que o próprio suporte se desfaça…

Imagem: Mãos (www.europarl.europa.eu/eplive/expert/photo/20071107PHT12721/pict_20071107PHT12721.jpg )


publicado por V.A.D. às 03:00
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Segunda-feira, 5 de Março de 2007

Alzheimer

A mais comum de todas as demências é, sem dúvida, a doença de Alzheimer, cuja causa é incerta, havendo no entando alguns estudos a decorrer que apontam possíveis origens. As possibilidades passam por um vírus que actua muito lentamente na destruição dos neurónios, por substâncias tóxicas do meio ambiente, como o alumínio, por algum factor hereditário ainda por descobrir, ou ainda por uma anomalia no funcionamento do núcleo basal de Meynert, responsável pela produção de um neurotransmissor chamado acetilcolina. Um ponto importante a ter presente é que as alterações comportamentais dos doentes se devem a modificações orgânicas do cérebro e não a problemas do foro psicológico. Os sintomas da doença são, na verdade, terríveis; entre eles figuram a perda progressiva da memória, as alterações de humor, a perda da capacidade para aprender, para prestar atenção ao que se passa e para emitir juizos. Nos estágios mais avançados, os pacientes perdem totalmente a noção de lugar e de tempo, e deixam de ter consciência de si próprios. Esta doença degenerativa cerebral surge geralmente depois dos 45 anos de idade e é progressiva e incurável. Conduz à incapacidade total e eventualmente à morte.

Hoje é um dia triste para mim. Um familiar meu sucumbiu, após 12 anos de luta contra esta doença.

Imagem: Demência 5

música: Hurt (Johnny Cash)

publicado por V.A.D. às 01:57
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Sábado, 6 de Janeiro de 2007

A Morte

O último batimento do coração, o último sopro, o último pensamento, a última palavra... O instante no qual a vida cede o seu lugar à morte nunca deixou de inquietar e fascinar o Homem. Porque é o seu próprio destino que está em jogo, cada indivíduo é frequentemente assolado por questões vertiginosas sobre o que o espera após a cessação da vida, sobre o quando e o porquê desse momento... Para os crentes, a morte não é mais que uma transição para uma outra vida. Para os cépticos como eu, a morte é apenas a desagregação do conjunto de funções que lhe resistem, é o terminu, é o fim da linha. Por muito que se possa especular, o que se sabe sobre a morte é visto sob o prisma da vida. A ciência identificou três funções, de entre todas aquelas que são asseguradas pelo organismo, como vitais: a respiração, a circulação sanguínea e o funcionamento cerebral, e é suficiente que uma delas pare para que as outras duas declinem rápidamente. Não havendo restabelecimento da função afectada, a consequência é inevitável: o colapso do organismo.

Imagem: A Morte ( www.photoarts.com/ftp/settanni/La%20Morte.htm )

música: Stragers in the night

publicado por V.A.D. às 01:57
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