“Luzes piscaram, frenéticas, a advertência de que o gerador iria ser colocado no ralenti, conforme preestabelecido, tomando a forma de indicação visual. Apercebeu-se do abrandamento, o zumbido que se lhe instalara em todas as fibras diminuindo até à cessação completa, o silêncio emudecendo o frenesi dos parsecs galgados sem tempo, novamente a invulgar noção de se separar de um corpo que se tornava indistinto, a névoa refulgente afigurando-se-lhe aliviada dos vinte e um gramas de si próprio. Curta foi a separação, a unicidade manifestando-se imperativa logo que no visor principal as décimas desciam abaixo de nove, a apneia transformando-se num suspiro, diafragma e músculos intercostais relaxando-se controlada e conscientemente para evitar a vertigem da fusão. Derivava agora no pélago estrelado da noite espacial. Deixara atrás de si o Sol reduzido a um pequeno círculo luminoso que prescindira de ferir a vista, os instrumentos de medida confirmando os cálculos efectuados meses antes, as mais de vinte e três mil Unidades Astronómicas transitadas podendo ser inequivocamente lidas no mostrador apropriado. Ligou os foguetes de manobra, a trajectória sendo corrigida até de novo ter a estrela à sua frente e quedou-se, deixando que alguns minutos passassem, deslumbrando-se com a solidão negra que o envolvia. Recompunha-se, assimilando a magnitude do engenho humano, preparando-se para o salto que o levaria de novo a casa, a estação espacial em órbita da Terra representando o lar que escolhera.
Regressou, duzentos e setenta dias mais tarde, a tempo de assistir ao nascimento do seu filho, concebido na noite antes da partida. Para ele, menos de uma hora havia transcorrido… Conquistara o futuro, a máquina provando o inequívoco mas paradoxal entrelaçamento entre velocidade, espaço e tempo.”
V.A.D. em Luz
Imagem: Estação Espacial (http://www-cache.daz3d.com/store/item_file/3564/image_medium.jpg)
“Primeiro, um tremendo bramido fez-se sentir, o corpo estremecendo mais que os ouvidos percebendo o som, a liga metálica da nave insurgindo-se contra a violência a que as leis relativíssimas a submetiam, uma chispa estonteante desfazendo a escuridão do vazio, enchendo de uma fantasmagórica claridade azulada a exígua cabine onde se encontrava, a radiação fria unindo-se à lividez do seu rosto marcado pela temerosa estupefacção. Depois, a incompreensível sensação de se descorporizar, a matéria de que ele também era feito transfigurando-se numa incongruente sombra estendida atrás de si, cada átomo isolando-se dos outros, as moléculas desagregando-se num fulgor que parecia conter a luz das estrelas. Lentamente, à medida que a aceleração abrandava, a mente reuniu-se ao corpo, a integridade enquanto organismo manifestando-se num arquejo incontido, o oxigénio puro a metade da pressão à superfície da Terra sendo inspirado profunda e demoradamente num fôlego de vida reencenada. Olhou o ecrã de organic-led, 1c agigantando-se a vermelho sobre o fundo negro…! Por um instante construído de eternidade, todo o espaço condensou-se num só ponto, os mostradores do painel enlouquecendo, os dígitos sucedendo-se numa inacreditável cadência, a distância percorrida superando os limites da imaginação humana, o Universo contorcendo-se sobre si próprio para acomodar o trânsito da cápsula que nada mais era agora que energia…”
V.A.D. em Luz
Imagem: Luz (original em http://orbitingfrog.com/blog/wp-content/uploads/2007/07/opo9603a.thumbnail.jpg)
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