Segunda-feira, 11 de Fevereiro de 2008

Insectos - Posfácio

Os insectos são os mais bem sucedidos animais terrestres, abundantes nos mais diversos habitats, a excepção sendo verificada em relação aos ambientes marinhos. No nosso planeta contam-se mais de um milhão de espécies, algumas delas verdadeiramente repugnantes, outras manifestando uma eusocialidade que causa espanto e perturbação, a complexidade da estrutura social assemelhando-se à de alguns mamíferos superiores, exigindo processos de comunicação insólitos, de difícil apreensão e que sempre nos causarão estranheza por serem diversos daqueles a que estamos habituados. Tentei utilizar, no conto, algumas das especificidades que tornam os insectos tão desconformes aos nossos olhos, baseando-me, para isso, em algumas informações disponíveis sobre a sua organização e comportamento. Quando era miúdo, gostava de observar as formigas e a forma como pareciam saber o que lhes competia fazer, o sistema de castas firmando a divisão de tarefas. Maravilhava-me com os carreiros que, supunha eu, teriam de estar assinalados de alguma forma, pois os pequenos animais percorriam-nos sempre como se de uma auto-estrada se tratasse. Descobri, algum tempo depois, que usavam uma espécie de marcadores químicos, segregados por glândulas especializadas. Apercebi-me da importância dessas moléculas na vida de diversos organismos e ainda hoje me interrogo acerca das possibilidades que elas podem representar, um fantástico mundo químico de sinais aguardando a exploração. Actualmente, as feromonas são usadas para o controlo de pragas, o engodo químico que tem por finalidade a continuidade da espécie sendo virado contra as próprias criaturas. Neste meu modesto exercício de escrita, fui um pouco mais além, imaginando-as como meio de comunicação efectiva, a alquimia das palavras usando átomos como fonemas…

Imagem: A Formiga e Eu (http://static.howstuffworks.com/gif/the_ant_bully.jpg)


publicado por V.A.D. às 01:55
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Quarta-feira, 23 de Janeiro de 2008

Música e Linguagem

                 

A Ki havia lançado um repto, que consistia em escolher uma das canções preferidas e falar sobre ela, seja em poesia ou em prosa ou mesmo numa breve apreciação do que esse tema transmite. Subverti a resposta ao desafio, simplesmente porque me apeteceu, e achei que devia tecer algumas considerações sobre o meu entendimento da música, arte universalmente amada e singularmente poderosa, que continua a representar um fenómeno intrigante. É talvez uma das formas de expressão mais antigas da humanidade e nasceu com a fala de uma característica inata, a propensão para produzir sons em associação com formas visuais específicas. Aquilo que começou como uma mera vocalização de expressões corporais face a perigos, ou como a exteriorização do contentamento através da sonoridade de uma gargalhada, transmutou-se pela sincenesia, a complexidade crescente dos fonemas criando um vocabulário cada vez mais elaborado, a linguagem permitindo a comunicação racional. E à música foi deixada a parte da emoção… É por isso que "mexe" tanto connosco...

A escolha da canção não foi tarefa fácil, mas gosto particularmente da sonoridade dos Dire Staits e o tema Private Investigations deixa-me positivamente arrepiado…

Vídeo: Private Investigations (http://www.youtube.com/watch?v=SGB3KyyTxP0)

 

It’s a mystery to me
The game commences
For the usual fee
Plus ex
penses
Confidential information
It’s in a diary
This is my investigation
It’s not a public inquiry

I go checking out the report
Digging up the dirt
You get to meet all sorts
In the line of work
Treachery and treason
Theres always an excuse for it
And when I find the reason
I still cant get used to it

And what have you got, at the end of the day ?
What have you got, to take away ?
A bottle of whisky and a new set of lies
Blinds on the window and a pain behind the eyes

Scarred for life
No compensation
Private investigations

 


publicado por V.A.D. às 02:04
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Segunda-feira, 22 de Outubro de 2007

Pensamento De Mim

Milhares de impulsos electroquímicos atravessam o meu cérebro a cada instante, formando padrões de coerência invejável ou de louca desarmonia. Imagens vagas dissolvem-se quase instantaneamente, assim que acabam de ser formadas, enquanto outras permanecem vívidas e bem delineadas como se tivessem sido captadas por uma fabulosa câmara fotográfica, manejada destramente por um sabido retratista. Mapas de analogias e metáforas são desenhados a traço fino pelo topógrafo linguístico que às vezes se encarrega de as transmutar em sons, enquanto mantenho uma conversação com alguém. Compêndios de palavras são consultados e deles extraio, a cada segundo, os termos que parecem melhor definir os conceitos que fervilham na minha mente. Esquissos daquilo que me parecem ser grandes ideias acabam por ser evacuados como se de pútrida matéria fecal se tratassem e, às vezes, redescubro uma porção de lugares dentro da minha cabeça onde me é desagradável estar. Nas mais das vezes, os raciocínios não me envergonham. Posso é não ter a capacidade de os partilhar…

Imagem: Pensamento de Mim (http://exper.3drecursions.com/apo/just_a_moron_thought_of_mine_reprised_tmb.jpg)

música: Dream A Little Dream Of Me (Diana Krall)

publicado por V.A.D. às 01:07
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Domingo, 5 de Agosto de 2007

Melodia

A melodia do canto de algumas aves é uma das mais sofisticadas formas de comunicação do reino animal. E entender a sua complexidade é abrir as portas para um mundo inimaginado. Na verdade, estudos sobre a linguagem dos pássaros revelaram algumas notáveis semelhanças entre os cérebros destes e dos humanos, e trouxeram à luz informações surpreendentes sobre a forma como eles aprendem. Alguns dos sons emitidos, tais como o simples cacarejar das galinhas, são inatos, mas alguns cantores mais evoluídos desenvolvem o seu repertório através de uma misteriosa interacção entre o conhecimento aprendido e o herdado. Indivíduos de ouvido apurado imitam os mais velhos e, em algumas espécies particularmente versáteis, podem dominar mais de uma centena de temas. Descobriu-se ainda que o hemisfério esquerdo do cérebro controla o canto dos canários, da mesma forma que nos humanos controla a fala. Tal especialização, que se julgava exclusiva da nossa espécie, pode ser de extremo interesse para o avanço da neurologia.

música: Surfin Bird (The Ramones)

publicado por V.A.D. às 01:48
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Domingo, 15 de Julho de 2007

Símbolos (II)

As imagens desenhadas por aquele homem, naquela praia perdida na noite dos tempos, depressa foram esbatidas pelas ondas da maré-cheia, que varreram a areia mas não a ideia. Espantosa, a forma como uma visão viria a crescer lenta mas seguramente, a ponto de refazer a concepção que os humanos tinham do mundo. Aquele homem havia inventado a escrita. Como os nossos ancestrais perceberam, esta nova forma de expressão podia conter muito mais informação do que a simples memória, com uma precisão nunca antes alcançada. Ela podia conduzir os pensamentos muito além dos meros sons, podia fazê-los chegar a pontos distantes e podia, inclusivamente, perpetuá-los. Pensamentos profundos, nascidos numa única mente, podiam ser espalhados como poeira num dia ventoso e sobreviver à sucessão infindável dos dias. As estórias seriam agora melhor preservadas e a História tinha acabado de nascer…

Imagem: Escrita Pictográfica Hitita (www.proel.org/alfabetos/picthiti.html)

música: Kolomeika (Monte Lunai)

publicado por V.A.D. às 01:23
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Sábado, 14 de Julho de 2007

Símbolos (I)

Há muitos milhares de anos, um homem sentado numa praia olhava a vastidão do oceano, mergulhado em pensamentos e conjecturas. Subitamente ergueu-se, dirigiu-se à beira de água para recolher um pequeno pau trazido pela maré e começou com ele a mexer na areia que estava a seus pés. Guiou-o com todo o cuidado por curvas e rectas e, olhando o que tinha feito, sentiu uma suave satisfação a iluminar-lhe o rosto. Outros homens repararam naquele indivíduo desenhando na areia. Olharam para as figuras que ele traçara e, embora todos reconhecessem de imediato as formas familiares de peixes, pássaros e árvores, levaram algum tempo a entender o que o homem pretendera dizer ao criar aquelas formas. Mas, assim que perceberam o que o outro fizera, sorriram de satisfação. Aquele pequeno grupo de humanos não fazia ideia das dimensões da revolução que estava a começar…

Imagem: Símbolo (http://www-static.shell.com/static/br-pt/images/shellsolar/solar_areia.jpg)

música: The Downset Is Tonight (Blind Zero & J. Palma)

publicado por V.A.D. às 02:05
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Quinta-feira, 15 de Março de 2007

Linguagem - parte 3

Admitimos que os nossos  antepassados hominídeos comunicavam principalmente através de grunhidos, urros e guinchos, sabiamente produzidos pelo hemisfério direito do cérebro e por uma área dos lobos frontais, designada giro angular, ligada às emoções. É também aceite que mais tarde desenvolveram um sistema gestual rudimentar que se tornou gradualmente mais elaborado e complexo. É fácil imaginar como o movimento da mão para puxar alguém para perto pode ter progredido para um aceno do género "venha cá". Se esses gestos fossem traduzidos, através da sincinesia, em movimentos da boca e dos músculos da face, e se as expressões guturais fossem canalizadas em simultâneo, o resultado pode ter sido o surgimento das primeiras palavras articuladas. Contudo, palavras articuladas não são frases. A linguagem é, para além de palavras, sintaxe. É preciso que um conjunto de regras para o uso dos termos seja respeitado, para que se possa construir um discurso coerente. É possível que a evolução do uso das ferramentas tenha desempenhado um papel importante nesta questão. Imaginemos a construção de um machado: primeiro é necessário encontrar uma pedra adequada, depois há que afiar a mesma, e em seguida há que anexar um cabo... Isto assemelha-se ao encaixe de cláusulas gramaticais dentro de sentenças grandes. As zonas frontais do cérebro, que se desenvolveram em função do uso cada vez mais intensivo de artefactos, podem ter sido mais tarde assimiladas para um função completamente nova: unir palavras em frases. Nem todas as subtilezas da linguagem moderna podem ser explicadas por estes elementos, mas é possível que estes esquemas tenham tido um papel fundamental na colocação em movimento da habilidade da comunicação verbal.

Imagem: Grito (www.ucm.es/info/especulo/numero31/memopal1.jpg)

Fonte: Sci-Am

música: My Love (Zucchero)

publicado por V.A.D. às 01:27
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Segunda-feira, 12 de Março de 2007

Linguagem - parte 2

A linguagem humana envolve uma série de partes distintas do encéfalo. As  zonas sensoriais especializadas na visão e na audição, situadas na parte posterior do cérebro, estão interligadas com áreas motoras específicas na parte frontal do cérebro  que participam no acto da fala. Uma forte inflexão visual ou um som áspero induzem a área do controle motor da fala a produzir uma inflexão igualmente intensa da língua no palato. O cérebro tem regras pré-existentes para a tradução do que vemos e ouvimos em movimentos da boca. Além disto, uma forma semelhante de activação cruzada ocorre também entre duas zonas motoras próximas: a que controla a sequência dos movimentos musculares para a movimentação das mãos e a que gere a musculatura facial, e em particular os músculos da boca. O efeito que daí resulta é chamado de sincenesia; como Charles Darwin salientou, quando cortamos papel com uma tesoura, os nossos maxilares podem-se cerrar e descerrar, imitando o movimento das mãos, sem que tenhamos disso consciência. A gesticulação pode ter preparado o terreno para a comunicação verbal...

Imagem: Grito (Guayasamin) (www.ecodeal.com/images/12556_Guayasamin-Grito-30x40_thumb.jpg)

Fonte: Sci-Am 

música: Ain't Talking (Bob Dylan)

publicado por V.A.D. às 00:32
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Sábado, 10 de Março de 2007

Linguagem - parte 1

De que forma teria a linguagem surgido? Imaginem um líder de um grupo de hominídeos numa reunião tribal a dizer: "Olhem todos; isto é uma banana. Agora repitam comigo: ba-na-na." É claro que esta hipótese é ridícula, mas pelo menos espero que tenha tido o mérito de vos fazer sorrir. Sem Dúvida, os nossos ancestrais apresentavam um conjunto de capacidades que preparou o terreno para a comunicação verbal sistemática. A facilidade de construir metáforas, pela percepção de ligações profundas entre coisas dissimilares e aparentemente não relacionadas deve ter contribuido de forma preponderante para a emergência da linguagem. Os humanos têm também uma propensão inata para associar certos sons a formas visuais específicas, importante factor para a criação de um vocabulário. Além disso, áreas específicas do cérebro, que processam as formas visuais dos objectos, letras, números e sons de palavras podem ser activadas entre si, levando as pessoas a achar, por exemplo, que formas pontiagudas pussuam nomes com rispidez sonora, da mesma forma que os sons produzidos por uma inflexão gradual dos lábios sugerem imagens com feitios arredondados.

Imagem: Quando questionados sobre qual das duas figuras é uma bouba e qual é uma kiki, 98% dos entrevistados escolhem o borrão como sendo a bouba e a outra como sendo a kiki.

Fonte: Sci-Am

música: Whenever I Say Your Name (Mary J. Blige ft Sting)

publicado por V.A.D. às 02:25
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