Vi-me novamente no pátio da casa da minha avó, um simples rectângulo cimentado, ligeiramente inclinado, delimitado em dois lados pelas centenárias e espessas paredes de pedra rebocada, impecavelmente caiadas, a pureza do branco reflectindo a intensa luz do sol do meio-dia. Numa das extremidades, o portão de ferro, pintado de vermelho escuro, servira muitas vezes de baliza nos improvisados jogos de bola, mais suados que verdadeiramente disputados, ou ainda como meta inultrapassável nas curtas corridas de carrinhos de rolamentos. A grande porta de madeira da antiga adega, já sem tonéis, era frequentemente usada em ferozes competições de pontaria. Com giz surripiado da escola primária da aldeia – hoje transformada num centro de dia para idosos – desenhávamos um alvo e atirávamos setas, nunca sem que bafejássemos a sua ponta aguçada, como se isso tornasse o arremesso mais certeiro. Revivia mentalmente alguns dos muitos momentos felizes da minha infância, quando a inconfundível voz, daquela senhora vestida de rugas e de luto, se fez ouvir:
- Olá, netinho! Que alegria ver-te…!
(Dedicado à minha avó, que esta semana completou 83 anos de idade)
Imagem: Porta Antiga (http://photographybydon.com/blog/uploaded_images/DSCF4862-758841.JPG)
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