“Ao pôr-do-sol, no momento em que o brilho avermelhado, reflectido pelas dunas na linha do horizonte, iluminava as fachadas brancas dos edifícios abandonados, Bridgman observou da varanda as longas extensões de areia fria, cobertas pelas sombras púrpuras. Estendiam lentamente os dedos esguios pelos montes e vales e uniam-se, quais massas prodigiosas salpicadas de raios fosforescentes, para acabarem por invadir os hotéis meio submersos como uma onda gigante. Por detrás das fachadas silenciosas, nas ruas empedradas cobertas de areia, onde outrora resplandeciam bares e restaurantes, já era noite. O luar era de prata sobre os candeeiros e incidia nas persianas corridas e cornijas como uma camada de névoa gelada. Os últimos laivos de luz violeta afundavam-se para lá do horizonte e os primeiros ventos começavam a soprar.”
Excerto de A Prisão de Areia, de James Graham Ballard, proeminente escritor inglês da Nova Vaga da ficção científica. As histórias de Ballard incidem muitas vezes sobre a distopia da modernidade: a desolação de uma Natureza minada pela acção impensada do homem e as implicações psicológicas de desenvolvimentos sociais, ambientais e tecnológicos pouco sustentados. É interessante verificar que quase meio século depois da sua publicação, Passaporte para o Eterno, a colectânea onde se insere este conto, continua plena de actualidade.
Imagem: Dunas ao Crepúsculo (www.terragalleria.com/images/np-rockies/grsa0303.jpeg)
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