Quando Leonardo da Vinci levantou o seu pincel pela primeira vez para pintar a Mona Lisa, é indubitável que o fez sobre algumas linhas de esboço que retocou várias vezes, até captar aquele sorriso misterioso. Nós, comuns mortais, cujas obras se resumem àquilo que construímos no dia-a-dia, nem sempre podemos fazer um rascunho e raramente temos a possibilidade de o rever. O frenesi absurdo da modernidade exige que actuemos; derramamos a tinta dos nossos actos sobre a tela da vida, com a ilusão de estarmos a criar uma obra-prima. Se o quadro resulta num borrão salpicado de manchas sem nexo, julgamo-nos vítimas dos caprichos arbitrários de um destino que não controlamos, quando na verdade a fraca qualidade da pintura se deve muitas vezes à nossa própria incúria. Cada acção que realizamos é uma escolha, mesmo que não estejamos cientes disso.
Imagem: Dripping (www.illinoisphoto.com/pictures/d/126418-2/dripping+paint.jpg)
Há trinta milhares de anos, nas profundezas da actual gruta de Chauvet, em França, o Homo Sapiens revelou um incrível talento. As formas que desenhou sobre as paredes de calcário denotam uma formidável matriz artística, um conhecimento íntimo da Natureza e do movimento, e uma capacidade inovadora e extraordinária de representar, não só o mundo que o rodeia, mas também aquele que é capaz de imaginar. Aquele que é o mais antigo traço conhecido de expressão pictórica é manifestamente o fruto de uma evolução que tem raízes nos ainda mais ancestrais membros da espécie humana, ela mesma filha da história da vida na Terra, velha de quatro milhões de anos. A vida deu à luz criaturas com a habilidade de apreender as realidades evidentes e, acima de tudo, capazes de assimilar e de transmitir aos seus semelhantes os impalpáveis pormenores de uma existência feita também de raciocínios abstractos. Este comportamento desconcertante baseia-se num fenómeno que não cessa de fascinar: a consciência.
Imagem: Chauvet (www.dinosoria.com/hominides/chauvet.jpg)
"O mundo antropomórfico, o reino do Homem, aproxima-se do fim. A sua adoração e o seu despotismo, a glorificação da sua auto-estima e do seu meio, a "arte para a arte" e a "arte pela arte" estão ultrapassadas. A autonomia humanística e o automatismo surrealista só podem combater o declínio total através de uma conversão radical. (...) O Homem está a perder o seu lugar central na arte. Só após a falência do homem autónomo é que este reconhecerá que não é idêntico à falsa imagem que sacrilogamante criou de si mesmo. Mas se o Homem renunciar à imensa vaidade, se se conceber como uma ínfima parte do infinito, poderá encontrar o lugar que lhe compete. Então poderá dar-se a humanização e a identidade, na época da materialização, do tédio, do distanciamento. A glória do Homem, com as suas consequências - a sua destruição e a sua escravidão - é a decadência. É primordial que o Homem se liberte do peso das suas pretensões indevidas para criar um mundo orientado por uma ordem mais eterna."
Carl Lazlo, em Panderma 4, 1959
Imagem: Debbie II de H.R.Giger (www.giger.cz/17.html)
De nacionalidade suíça, H.R. Giger é um pintor, escultor e desenhador de cenários, galardoado com um oscar em 1980 pelo seu trabalho no filme Alien. Durante toda a sua carreira, Giger tem criado estranhas paisagens de pesadelo, contendo imagética com conotações sexuais e representações de corpos humanos e maquinismos, interligados numa simbiose surreal e fria. As suas obras, consideradas perturbadoras por muitos, são talvez extensões de uma desordem do sono que o atormenta com terrores nocturnos.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. Giger
. Blogs
. Abrupto
. Feelings
. Emanuela
. Sibila
. Reflexão
. TNT
. Lazy Cat
. Catinu
. Marisol
. A Túlipa
. Trapézio
. Pérola
. B612
. Emanuela
. Tibéu
. Links
. NASA