“É um fascinante Universo alternativo, aquele onde agora me encontro, a monotonia redutora dos dias iguais parecendo já distante no Tempo, ele próprio assumindo uma significância desabitual, cada instante avocando um relevo feito de vontades sincronizadas, de determinações audazes, de gestos tão silenciosos quanto expressivos… Qual viajante do Tempo, retorno a uma época de possibilidades infinitas, a negação de todos os limites realizando-se na simplicidade de um olhar, tomando a forma de um sorriso cúmplice, as brincadeiras traduzindo uma insubmissa e renovada sede de viver… Rejuvenesço, a energia dos níveis mais profundos do tecido espacial declarando-se tangível, contrariando princípios, operando prodígios, a descoberta de emoções latentes agindo como catalizadora de reacções electroquímicas desconhecidas, vibrantes como as cordas de um violino numa super simetria melodiosa, brilhantes como um enxame de cinquenta mil sóis acotovelados num campo deslumbrante... E neste lugar de novidade, o próprio fluir dos eventos não obedece às aceites e comuns relações de causalidade, tão espontânea é sequência das coisas. Talvez doze horas bastem, até, para representar a eternidade…”
Vídeo: Love Theme From Blade Runner (http://www.youtube.com/watch?v=C9KAqhbIZ7o)
“Estava hirto sobre a lhanura do promontório basáltico, as pernas ligeiramente afastadas, os braços descaídos, a barba grisalha e as roupas negras flutuando ao vento, os olhos encovados e sem pestanejo contemplando sem ver a face plúmbea do oceano revolto que se esmagava em ondas furiosas de encontro ao alcantilado da rocha, uns quarenta metros abaixo, a espuma em grandes cachos elevando-se, desfeita em gotículas de maresia. Aves marinhas, brancas e pretas, descrevendo graciosas curvas no ar morno da tarde primaveril, fugiam dele com pequenos gritos, as suas alminhas tornando-se subitamente doloridas perante a austeridade daquela figura ascética. Talvez invocasse a tormenta eléctrica que se formava ao largo, os cúmulos-nimbos agigantando-se por sobre o horizonte, os primeiros relâmpagos enchendo de centelhas energéticas o céu baixo, o ribombar dos trovões acrescentando-se, impetuoso, ao rumor vibrante do mar embravecido. Talvez aplacasse alguma tempestade interior, as inquietudes e angústias que por todos perpassam encontrando apaziguamento naquele majestoso cenário, a sublime entrega à natureza acalmando algum desvario louco que se lhe tivesse apossado da mente. Talvez ambas as coisas…”
V.A.D. em Tormenta
Imagem: Trovoada (www.bigsurcalifornia.org/images2/lightning2a.jpg)
A felicidade é um estado de alma, não carece de bens materiais, não requer formalidades. Sente-se no clamor das cidades, nos pormenores infinitesimais, no doce silêncio da calma. As cores de um pôr-do-sol estival, a visão de um raro eclipse lunar, o fulgor de uma estrela brilhante… É alegria contagiante, um fugaz momento de encantar, uma sensação de plenitude total. É emoção de simples abraço, paladar de exótica iguaria, extravagante essência de violetas. É picante de tabasco e malaguetas, vibrante orgasmo que eleva e extasia, é desenho de fino traço…
E agora vou à rua, ver a lua que se eclipsa!
Imagem: Eclipse Lunar (www.nomad4ever.com/wp-content/uploads/2007/08/lunar_eclipse_as_seen_from_earth.jpg )
A Ki havia lançado um repto, que consistia em escolher uma das canções preferidas e falar sobre ela, seja em poesia ou em prosa ou mesmo numa breve apreciação do que esse tema transmite. Subverti a resposta ao desafio, simplesmente porque me apeteceu, e achei que devia tecer algumas considerações sobre o meu entendimento da música, arte universalmente amada e singularmente poderosa, que continua a representar um fenómeno intrigante. É talvez uma das formas de expressão mais antigas da humanidade e nasceu com a fala de uma característica inata, a propensão para produzir sons em associação com formas visuais específicas. Aquilo que começou como uma mera vocalização de expressões corporais face a perigos, ou como a exteriorização do contentamento através da sonoridade de uma gargalhada, transmutou-se pela sincenesia, a complexidade crescente dos fonemas criando um vocabulário cada vez mais elaborado, a linguagem permitindo a comunicação racional. E à música foi deixada a parte da emoção… É por isso que "mexe" tanto connosco...
A escolha da canção não foi tarefa fácil, mas gosto particularmente da sonoridade dos Dire Staits e o tema Private Investigations deixa-me positivamente arrepiado…
Vídeo: Private Investigations (http://www.youtube.com/watch?v=SGB3KyyTxP0)
It’s a mystery to me
The game commences
For the usual fee
Plus expenses
Confidential information
It’s in a diary
This is my investigation
It’s not a public inquiry
I go checking out the report
Digging up the dirt
You get to meet all sorts
In the line of work
Treachery and treason
Theres always an excuse for it
And when I find the reason
I still cant get used to it
And what have you got, at the end of the day ?
What have you got, to take away ?
A bottle of whisky and a new set of lies
Blinds on the window and a pain behind the eyes
Scarred for life
No compensation
Private investigations
Quis fechar o livro, mas mantive-me fascinado, a leitura prendendo-me como jamais supus ser possível, os olhos correndo pelas letras que se arranjavam em palavras, as palavras fazendo sentido e contando a história inventada de um mundo diferente. Via-me apanhado numa armadilha de estranha e dominadora beleza, a eloquência da escrita e a plausibilidade do enredo arrastando-me para as profundidades de um oceano assente no leito de uma lógica em completo dissentimento daquilo que é humano mas tendo, contudo, uma chocante enunciação de verdade, a universalidade das leis primevas a ser respeitada na íntegra, trazendo à expressão escrita a obsessão de um rigor hipnótico. Isolamento… Afastado de tudo, até da música que soava baixinho, enredava-me na fluidez da acção e vivia na sob a pele do protagonista, a minha mente gerando imagens de lugares engendrados, a semente da imaginação criando raízes e frutificando. Quis fechar o livro mas hesitei, como se houvesse uma razão pela qual o não devesse fechar, até que a voz dela soou novamente, suave e num tom de desejo prometido: “Vem, vamos para a cama…” Quebrou-se um encanto e fechou-se o livro; há magias indiscutivelmente mais poderosas…
Nos abismos da noite sem luz
Há um vento que sopra frio
Não evito o estranho arrepio
Ao escutar uma voz que seduz
Divindade etérea ou ser carnal?
Brada de dor, a mente
No corpo, um tremor infernal
Finjo-me destemido e valente
Quero saber quem é, afinal
Em vórtices de ar rarefeito
O vento sorri e dança
Alegre como uma criança
O coração pula no peito
Percebi quem clama assim
É vertigem desesperante
Fabulosa aventura sem fim
Viagem louca e alucinante
É a vida que chama por mim
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