Domingo, 5 de Outubro de 2008

Evos

“Todos os evos da sua vida não passavam agora de um fugaz momento, o passado constituindo uma mera ilusão enevoada pelas brumas de um tempo que, obstinado no seu fluxo, parecia não querer reconhecer que toda a verdadeira significância se condensa no presente, ou ainda num futuro feito de aspirações a substanciar ou de realizações a consolidar. Ali estava, emudecido pela extraordinária beleza daquelas horas, extático perante a profunda simplicidade de algo tão veementemente sentido, rendido à absoluta perfeição de um mundo inteiramente novo, avassalado por uma emotividade que equilibrava a razão e lhe propiciava uma orgia sensorial de sabor a chocolate e laranjas, de doces aromas a unguentos perfumados, de geométricos toques em cadências mais que perfeitas… Ia-se apercebendo, a cada instante, dos simples segredos até então encerrados no seu próprio âmago, a revelação crescendo numa espécie de liberação levitante, conduzindo-o a uma ventura impossível de expressar cabalmente em simples palavras…”
V.A.D. em Evos
Vídeo: Can’t take my eyes off of you (Andy Williams) (http://www.youtube.com/watch?v=wHs2hYiUq5w)

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Domingo, 28 de Setembro de 2008

Para Além

“Para além do suave balançar dos barcos ancorados no azul calmo das águas, muito para lá dos montes enevoados, indistintos no ar cálido da tarde brilhante, muito acima de um horizonte de luz intensa e suaves sombras, alheia a tudo o demais e centrada numa única e fundamental razão, a mente saboreava cada momento, cada toque representando a imensidão do Cosmo, cada olhar devaneando a infinitude de incontáveis Multiversos, cada vontade agigantando-se nos tragos de uma bebida há muito apalavrada. Nem a brisa marinha era capaz de assumir a habitual relevância, face a outras fragrâncias tão mais subtis e, contudo, sobejamente mais marcantes… E aquela grácil e permanente impressão de complementaridade, reafirmada dias depois em idílicos elos, num escutar de estrelas, num extasiante colorido de sabor a chocolate, num murmúrio de água corrente, cálida e refrescante, numa imensidão de sentidos despertos pela intensidade de emoções residentes para além de todos os imaginários…!”
Jeena kaisa pyar bina?”
V.A.D em Para Além
Vídeo: Face of Love (Rahat Nusrat Fateh Ali Khan & Eddie Vedder) (http://www.youtube.com/watch?v=3fjWMJSw03I)

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Quinta-feira, 18 de Setembro de 2008

Doze Horas

“É um fascinante Universo alternativo, aquele onde agora me encontro, a monotonia redutora dos dias iguais parecendo já distante no Tempo, ele próprio assumindo uma significância desabitual, cada instante avocando um relevo feito de vontades sincronizadas, de determinações audazes, de gestos tão silenciosos quanto expressivos… Qual viajante do Tempo, retorno a uma época de possibilidades infinitas, a negação de todos os limites realizando-se na simplicidade de um olhar, tomando a forma de um sorriso cúmplice, as brincadeiras traduzindo uma insubmissa e renovada sede de viver… Rejuvenesço, a energia dos níveis mais profundos do tecido espacial declarando-se tangível, contrariando princípios, operando prodígios, a descoberta de emoções latentes agindo como catalizadora de reacções electroquímicas desconhecidas, vibrantes como as cordas de um violino numa super simetria melodiosa, brilhantes como um enxame de cinquenta mil sóis acotovelados num campo deslumbrante... E neste lugar de novidade, o próprio fluir dos eventos não obedece às aceites e comuns relações de causalidade, tão espontânea é sequência das coisas. Talvez doze horas bastem, até, para representar a eternidade…”

V.A.D. em Doze Horas
Vídeo: Unforgettable (Nat & Natalie Cole) (http://www.youtube.com/watch?v=53ith7bNN8w)

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Sábado, 30 de Agosto de 2008

Horizonte

 
São horizontes plenos de promessas, são rios de deleitosos sonhos, deslumbrantes visões experimentadas de sensualidades inconcebíveis, são telas pintadas de sentimentos indescritíveis. Horas silenciosamente pejadas de dois rostos em êxtase, risonhos, exprimindo a voracidade incontida de quem ama sem pressas… E uma só entidade emerge no cadinho da paixão: corpos e mentes perpetuamente ligados, num simples e maravilhoso momento. Inunda-me o deslumbramento, os dias afiguram-se-me ilimitados, os anos cabem na palma da mão…E nesses breves instantes, conquisto a eternidade…!
V.A.D. em Horizonte

Vídeo: Love Theme From Blade Runner (http://www.youtube.com/watch?v=C9KAqhbIZ7o)


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Sexta-feira, 30 de Maio de 2008

Eternidade

“E ali estava ele, sozinho e incapaz de se maravilhar com a beleza assustadoramente poderosa daquele simples crepúsculo, a vermelhidão do céu tornando-se violeta à medida que o sol se refugiava para lá do horizonte longínquo, as sombras tingindo o solo verde de relva em tons de negro, a suave brisa afagando-lhe o rosto agora sem rugas. Olhava em frente mas deixara de contemplar, perdera a habilidade de vislumbrar um futuro que se lhe oferecia insípido, as razões da sua existência confundindo-se com a desilusão da monotonia. Os pensamentos velhos e longos de séculos atropelavam-se na sua mente, definhando na exuberância da carne, a contínua e perfeita renovação dos músculos e das glândulas afundando-o numa atmosfera de futilidade, os dias infinitos impacientando-o, a eternidade há muito conquistada afigurando-se-lhe demasiadamente inane para merecer ser vivida. A sabedoria adquirida com o embranquecimento dos cabelos havia sido lentamente dissipada pelo desengano de um milhão de manhãs sempre iguais, o desapontamento levando-o a uma apatia cada vez maior, o cansaço das tarefas repetidas tornando-o pouco mais que um mero autómato, o algoritmo de si próprio revelando-se desatinadamente fastidioso…”
V.A.D. em Eternidade
Imagem: Eternidade (http://kabbalah4women.typepad.com/photos/uncategorized/2007/03/19/eternity.jpg)

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Sexta-feira, 2 de Maio de 2008

Tormenta

“Estava hirto sobre a lhanura do promontório basáltico, as pernas ligeiramente afastadas, os braços descaídos, a barba grisalha e as roupas negras flutuando ao vento, os olhos encovados e sem pestanejo contemplando sem ver a face plúmbea do oceano revolto que se esmagava em ondas furiosas de encontro ao alcantilado da rocha, uns quarenta metros abaixo, a espuma em grandes cachos elevando-se, desfeita em gotículas de maresia. Aves marinhas, brancas e pretas, descrevendo graciosas curvas no ar morno da tarde primaveril, fugiam dele com pequenos gritos, as suas alminhas tornando-se subitamente doloridas perante a austeridade daquela figura ascética. Talvez invocasse a tormenta eléctrica que se formava ao largo, os cúmulos-nimbos agigantando-se por sobre o horizonte, os primeiros relâmpagos enchendo de centelhas energéticas o céu baixo, o ribombar dos trovões acrescentando-se, impetuoso, ao rumor vibrante do mar embravecido. Talvez aplacasse alguma tempestade interior, as inquietudes e angústias que por todos perpassam encontrando apaziguamento naquele majestoso cenário, a sublime entrega à natureza acalmando algum desvario louco que se lhe tivesse apossado da mente. Talvez ambas as coisas…”

V.A.D. em Tormenta

Imagem: Trovoada (www.bigsurcalifornia.org/images2/lightning2a.jpg)


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Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2008

Eclipse...?

A felicidade é um estado de alma, não carece de bens materiais, não requer formalidades. Sente-se no clamor das cidades, nos pormenores infinitesimais, no doce silêncio da calma. As cores de um pôr-do-sol estival, a visão de um raro eclipse lunar, o fulgor de uma estrela brilhante… É alegria contagiante, um fugaz momento de encantar, uma sensação de plenitude total. É emoção de simples abraço, paladar de exótica iguaria, extravagante essência de violetas. É picante de tabasco e malaguetas, vibrante orgasmo que eleva e extasia, é desenho de fino traço…

E agora vou à rua, ver a lua que se eclipsa!

Imagem: Eclipse Lunar (www.nomad4ever.com/wp-content/uploads/2007/08/lunar_eclipse_as_seen_from_earth.jpg )


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Quarta-feira, 23 de Janeiro de 2008

Música e Linguagem

                 

A Ki havia lançado um repto, que consistia em escolher uma das canções preferidas e falar sobre ela, seja em poesia ou em prosa ou mesmo numa breve apreciação do que esse tema transmite. Subverti a resposta ao desafio, simplesmente porque me apeteceu, e achei que devia tecer algumas considerações sobre o meu entendimento da música, arte universalmente amada e singularmente poderosa, que continua a representar um fenómeno intrigante. É talvez uma das formas de expressão mais antigas da humanidade e nasceu com a fala de uma característica inata, a propensão para produzir sons em associação com formas visuais específicas. Aquilo que começou como uma mera vocalização de expressões corporais face a perigos, ou como a exteriorização do contentamento através da sonoridade de uma gargalhada, transmutou-se pela sincenesia, a complexidade crescente dos fonemas criando um vocabulário cada vez mais elaborado, a linguagem permitindo a comunicação racional. E à música foi deixada a parte da emoção… É por isso que "mexe" tanto connosco...

A escolha da canção não foi tarefa fácil, mas gosto particularmente da sonoridade dos Dire Staits e o tema Private Investigations deixa-me positivamente arrepiado…

Vídeo: Private Investigations (http://www.youtube.com/watch?v=SGB3KyyTxP0)

 

It’s a mystery to me
The game commences
For the usual fee
Plus ex
penses
Confidential information
It’s in a diary
This is my investigation
It’s not a public inquiry

I go checking out the report
Digging up the dirt
You get to meet all sorts
In the line of work
Treachery and treason
Theres always an excuse for it
And when I find the reason
I still cant get used to it

And what have you got, at the end of the day ?
What have you got, to take away ?
A bottle of whisky and a new set of lies
Blinds on the window and a pain behind the eyes

Scarred for life
No compensation
Private investigations

 


publicado por V.A.D. às 02:04
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Segunda-feira, 7 de Janeiro de 2008

Magias

Quis fechar o livro, mas mantive-me fascinado, a leitura prendendo-me como jamais supus ser possível, os olhos correndo pelas letras que se arranjavam em palavras, as palavras fazendo sentido e contando a história inventada de um mundo diferente. Via-me apanhado numa armadilha de estranha e dominadora beleza, a eloquência da escrita e a plausibilidade do enredo arrastando-me para as profundidades de um oceano assente no leito de uma lógica em completo dissentimento daquilo que é humano mas tendo, contudo, uma chocante enunciação de verdade, a universalidade das leis primevas a ser respeitada na íntegra, trazendo à expressão escrita a obsessão de um rigor hipnótico. Isolamento… Afastado de tudo, até da música que soava baixinho, enredava-me na fluidez da acção e vivia na sob a pele do protagonista, a minha mente gerando imagens de lugares engendrados, a semente da imaginação criando raízes e frutificando. Quis fechar o livro mas hesitei, como se houvesse uma razão pela qual o não devesse fechar, até que a voz dela soou novamente, suave e num tom de desejo prometido: “Vem, vamos para a cama…” Quebrou-se um encanto e fechou-se o livro; há magias indiscutivelmente mais poderosas…

música: Problema de Expressão (Clã)

publicado por V.A.D. às 03:01
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Terça-feira, 6 de Novembro de 2007

Chamamento

Nos abismos da noite sem luz

Há um vento que sopra frio

Não evito o estranho arrepio

Ao escutar uma voz que seduz

Divindade etérea ou ser carnal?

Brada de dor, a mente

No corpo, um tremor infernal

Finjo-me destemido e valente

Quero saber quem é, afinal

 

Em vórtices de ar rarefeito

O vento sorri e dança

Alegre como uma criança

O coração pula no peito

Percebi quem clama assim

É vertigem desesperante

Fabulosa aventura sem fim

Viagem louca e alucinante

É a vida que chama por mim

 

Imagem: Chamamento (www.udel.edu/art/Faculty/Norsky/eleugif/eleus8.gif )
música: My Way (Frank Sinatra)

publicado por V.A.D. às 02:29
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