Quarta-feira, 18 de Junho de 2008

Ponto Zero

“Acordou a meio da noite, incapaz de conciliar o sono que o corpo pedia com a apreensão que teimava em insinuar-se a cada raciocínio, os pensamentos virando-se para estranhas especulações, uma aflitiva perturbação roubando-lhe a serenidade desejada, o esgotamento adensando-se, lodoso e negro. Abriu os olhos apenas para nada ver, a escuridão informe envolvendo-o num frio imaginário, o calor da noite estival negando-se a invadir-lhe o âmago gélido de espanto. Basto não lhe era o tempo, nenhum lugar se lhe afigurava adequado naquele limbo absurdo e caótico entre universos. Sentira-se capaz de atingir a mais absoluta das verdades, a solução última para as carências afigurara-se-lhe tão tangível quanto os pares de partículas em perpétua génese a partir do nada. E tudo se dissolvera num afastamento irremediável, como se um simulacro do efeito Casimir se tivesse insurgido contra esse contacto com a mais profunda e inextinguível das energias, o desencanto do descaminho abalando-o, a noção de insuprível falha fazendo-o sentir-se culposo. Cerrou as pálpebras, num deliberado esforço. A seu lado ela dormia, a cadência suave da sua respiração actuando como um soporífero, a placidez regressando paulatinamente até ao esquecimento das horas ausentes…”
V.A.D. em Ponto Zero
Imagem: Efeito Casimir (http://apod.nasa.gov/apod/image/0612/casimirsphere_mohideen.jpg)

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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008

Tortura

“Permaneci algum tempo em total imobilidade, demasiado fatigado e entontecido, os meus olhos fixando-se nos olhos do interlocutor sem que os estivesse a ver, a minha mente mostrando-se incapaz de entender ou elaborar um raciocínio coerente, a privação do sono gerando um total alheamento em relação a tudo o que me rodeava. A espaços, sentia-me invadido por uma espécie de leveza delirante semelhante àquela que os estados febris costumam provocar, o som das palavras ouvidas parecendo esbarrar no meu corpo em vergastadas bruscas ou sedosas consoante o timbre das sílabas, uma absurda sinestesia submergindo-me ainda mais na estranheza de não saber o que fazia ali, um mal-estar latente apoderando-se de mim como um organismo gelatinoso e tentacular, tão repulsivo quanto um verme parasitário, verde e fedorento. E de súbito a emese, libertadora e dolorosa, arrancando-me o vazio às entranhas, as contracções involuntárias do corpo exaurindo as réstias de energia, o pânico mal dissimulado levando a um esgar de aflição… E o desfalecimento, inevitável e reparador, sobrevindo sem aviso, transformando-se num longo sono sem sonhos, numa completa ausência em parte alguma…”
V.A.D. em Tortura
Imagem: Tortura (original em www.abusedmedia.it/soxno/sxn_img/soxno.gif)

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Terça-feira, 20 de Maio de 2008

Tarde Demais (V)

“A nave corria através dos limites superiores da estratosfera, apunhalando o ar frio, um rasto incandescente cruzando os céus como um cometa. De súbito, um insistente piscar despertou-o das lucubrações que lhe atravessavam a mente. Trinta e oito graus acima do equador, numa enorme ilha entre duas massas continentais, um transponder de IFF emitia o código que assomava agora perante si, o visor holográfico anunciando o possível fim da sua própria solidão. Conteve com dificuldade a satisfação transbordante, as lágrimas marejando-lhe os olhos, o coração acelerando numa reacção instintiva de felicidade, a certeza de que encontrara os seus anunciando-se pela confirmação via rádio, o longo silêncio sendo quebrado numa manifestação feita do júbilo que transparecia na sua voz. Tantas perguntas, tantas respostas, eram tantas, as saudades…! Inseriu as coordenadas que o levariam ao local de pouso e conversou até à supressão das comunicações, os gases ionizados pelo atrito dispersando as ondas, a entrada na atmosfera elevando a temperatura até valores infernais e isolando o veículo por doze minutos que se assemelharam a séculos. A turbulência deu lugar à quietude do voo planado, a trajectória sinuosa reduzindo a velocidade e permitindo-lhe vislumbrar os contornos difusos das falésias alcantiladas brotando das águas de um azul profundo e os grandiosos edifícios reflectindo em tons metálicos o sol daquela manhã estival. Aterrou num imenso planalto, a longa pista pavimentada encurtando-se até os freios aerodinâmicos contrariarem em definitivo a inércia. Foi recebido por uma pequena delegação, as altas individualidades e os esculápios assegurando-se do seu bem-estar, cientificando-o de minudências circunstanciais e de informações pertinentes. Achava-se em Atlantis; duas gerações haviam tornado aquela terra estranha num novo lar, a ilha passando de despovoada a exílio de inteligências. Não, não iria encontrar contemporâneos: chegara tarde demais.”

V.A.D. em Tarde Demais
Imagem: Atlantis (original em http://atlantis.csillagkapu.hu/kep/atlantis.jpg)

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Sábado, 17 de Maio de 2008

Tarde Demais (IV)

“Queria lavar-se; sentia-se atormentado pelo profundo desejo de ser acariciado pela água corrente, mas só podia perceber o formigueiro das inaudíveis ondas sonoras massajando-lhe a pele, o duche ultrassónico expurgando-o dos resíduos acumulados na cútis durante as décadas de total imobilidade. Vestiu-se e permaneceu quedo durante alguns minutos, apreciando a extraordinária sensação de calor a invadir-lhe o corpo, o fato de voo aconchegando-o, o sangue voltando a fluir-lhe nas veias na cadência determinada pela natureza. Lá em baixo, um mundo novo aguardava-o, as incertezas emboscando-se pelos cantos escuros dos seus raciocínios, a esperança temerária asseverando-lhe que haveria de ser bem sucedido. Inspirou profundamente e olhou os monitores, concentrando-se na imperiosa tarefa de verificar as condições da nave, o longo voo exigindo-lhe redobrada atenção antes de accionar os retrofoguetes, uma órbita baixa afigurando-se-lhe apropriada à investigação de quaisquer sinais reveladores da presença de congéneres naquele planeta tão análogo ao seu. A trajectória marcada na mesa de navegação fez o veículo desacelerar momentaneamente, a gravidade obrigando-o cair, os pormenores da superfície tornando-se cada vez mais distintos, o computador sendo chamado a calcular as contínuas e indispensáveis correcções para que um ângulo de seis graus fosse mantido…”
V.A.D. em Tarde Demais
Imagem: Mesa de Navegação (original em http://a.abcnews.com/images/Technology/ht_nasa_path3_071105_ms.jpg)

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Quarta-feira, 14 de Maio de 2008

Tarde Demais (III)

“Uma luz intensa e branca brilhava sobre metade da superfície da nave, a outra metade permanecendo na sombra e nos pálidos reflexos azul-esverdeados do planeta lá em baixo, a elevada altitude dando ao seu ocupante uma visão extraordinária de continentes e mares, encobertos aqui e ali por uma alva e pouco espessa camada de vapor de água, a ténue atmosfera erguendo-se algumas dezenas de quilómetros acima do horizonte. O computador quântico havia decidido ser aquele um destino aceitável, a análise espectrográfica indicando um mundo telúrico feito de silicatos, ferro e outros metais pesados, a existência de água no estado líquido e oxigénio em abundância declarando que a vida certamente florescera ali, no terceiro orbe a contar do Sol. Tinha procedido às manobras necessárias, o veículo alinhando-se primeiro com o plano da eclíptica e depois descrevendo a trajectória que o levara à órbita geossíncrona. Cedera o comando; os procedimentos que haviam levado ao despertar do ser biológico que com ele viajava revelando ter sido bem sucedidos, as decisões cabendo agora ao cérebro que lentamente ia recuperando a lucidez, num caminho sinuoso através de raciocínios ainda desconexos mas cada vez mais coerentes: atravessara uma distância incomensurável, sentia a garganta seca e o estômago vazio. Uma moinha incomodativa pesava-lhe sobre a cabeça, deixando-o nauseado. Mas, acima de tudo, sentia-se vivo…”
V.A.D. em Tarde Demais
Imagem: Terra (www.sages.ac.uk/image_gallery/general/earth-space.jpg)

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Segunda-feira, 12 de Maio de 2008

Tarde Demais (II)

“A nave ia derivando num voo curvilíneo e sem rumo aparente, os impulsores bocejando frios e silenciosos no vazio, os sistemas de suporte de vida mantendo os parâmetros necessários à protecção do solitário tripulante que jazia em animação suspensa no interior de um envoltório hermético. A sua pele desnuda achava-se pejada de sensores ligados à interface cibernética, o cérebro artificial gerindo os cada vez mais parcos recursos, numa maquinal obediência aos programas habilmente desenvolvidos séculos atrás. A cada trinta minutos, o músculo cardíaco pulsava para irrigar de sangue oxigenado os tecidos do corpo arrefecido, a necrose sendo adiada por mais um breve intervalo de um tempo que se escoava irremediavelmente por entre o total alheamento da mente destituída de sonhos, a inconsciência mantendo-o afastado da terrível incerteza do que havia por vir. Tinha procurado, em vão, sinais de que a sua espécie pudesse ter encontrado forma de resistir à catástrofe. Restara-lhe a esperança de que pelo menos alguns o tivessem feito, a estrela de classificação espectral G2V a que chamavam Nanahuatl sendo o objectivo provável, a existência confirmada de uma sistema planetário e os pouco mais de oito anos-luz de distância fazendo dela um destino promissor. Antes de cruzar a órbita de Lalande C, marcara na mesa de navegação a trajectória elíptica até ao bordo interno do braço de Orion; nove décadas iriam suceder-se como se apenas um mês viesse a decorrer, o envelhecimento não passando de um conceito falho de invariabilidade …”
V.A.D. em Tarde Demais
Imagem: Lalande 21185 (www.exoplaneten.de/lalande/sonne_lalande3_t.jpg)

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Sexta-feira, 9 de Maio de 2008

Tarde Demais (I)

“Durante um ínfimo instante, por entre todos os silêncios incontidos, a luz arroxeada do crepúsculo uniu-se às tonalidades fortes do céu há muito sem nuvens, o sol prestes a ajoelhar-se por debaixo do mundo deixando a sua marca num instantâneo fotograma revelado pela retina. Viu-os como deviam ter sido nos últimos dias, arrastando-se nas sombras que se agigantavam, as bocas abertas num arquejo sufocante, os gemidos de autocomiseração abafados pela vagarosa inanidade dos seus próprios raciocínios. As montanhas estavam ali, negras como as trevas que se avizinhavam, a seca nudez dos penhascos eriçando-se em direcção às estrelas cegas, a planície adjacente, outrora fértil, apresentando-se austera na desalentada esterilidade da exaustão. E o vento soprava frio e frouxo, ainda assim chicoteando-lhe a face e os cabelos, varrendo os ossos acumulados no solo sem cor, as sucessivas gerações amontoando-se em maroiços de minerais sem vida que se iam lentamente transformando em poeira, os cometas murmurando impropérios no seu percurso rotineiro. Vagueou a noite inteira, até a escuridão ceder perante fulgor mórbido da anã branca rasgando a alvorada. Chegara tarde, demasiado tarde. Não havia mais ninguém, naquele planeta que o vira nascer…”
V.A.D. em Tarde Demais
Imagem: Crepúsculo (www.stevenbryant.com/blog/blogpix/malcesine_dawn_07_1.jpg)

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Segunda-feira, 5 de Maio de 2008

Estranha Estrela

“Incapaz de notar a indolência que se voltara a induzir, adormentei, flutuando na doçura serena da semi-obscuridade prenha de pensamentos gastos e renovados, tão absurdos e tão inconsequentes como os sonhos que iam nascendo, esmaecidos pela luz suave que penetrava pela janela, o estore ligeiramente subido negando as trevas e contrariando a espessura do sono vagaroso que insistia em apossar-se de mim…

O mundo orbitava em torno de uma estrela amarela do tipo G, a poucos anos-luz da periferia da Via Láctea, os crepúsculos tingidos a cores quentes gerando uma beleza indizível, a noite afigurando-se rara de estrelas, o profundo negrume do céu manchado apenas pela nitescência das nuvens de Magalhães e do distante braço da espiral, curvado como uma cimitarra sobre o núcleo galáctico. Apesar da nudez e do vento que sabia frio, sentia-me singularmente aconchegado, a noção de que havia retornado a casa insinuando-se-me intensa e segura como uma verdade intuída, da minha boca saindo frases que sabia conhecer mas de que não recordava o significado…

Despertei abruptamente, o sussurro suplicante da voz dela no meu ouvido implorando que acordasse, que a estava a amedrontar com as palavras pronunciadas numa língua desconhecida, que devia estar a ter um pesadelo estranho, pois sorria enquanto tremores espasmódicos me atravessavam o corpo num desconforme símile de êxtase, que os olhos abertos e fixos no nenhures a faziam julgar-me em algum delírio patológico. Virei-me para ela e beijei-a. Assegurei-lhe que tinha sido só um sonho sem nexo. Mas, teria sido apenas isso…?”

V.A.D. em Estranha Estrela

Imagem: Nuvens de Magalhães (www.astrosurf.com/antilhue/LMC55mmLRGB.jpg)


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Sexta-feira, 2 de Maio de 2008

Tormenta

“Estava hirto sobre a lhanura do promontório basáltico, as pernas ligeiramente afastadas, os braços descaídos, a barba grisalha e as roupas negras flutuando ao vento, os olhos encovados e sem pestanejo contemplando sem ver a face plúmbea do oceano revolto que se esmagava em ondas furiosas de encontro ao alcantilado da rocha, uns quarenta metros abaixo, a espuma em grandes cachos elevando-se, desfeita em gotículas de maresia. Aves marinhas, brancas e pretas, descrevendo graciosas curvas no ar morno da tarde primaveril, fugiam dele com pequenos gritos, as suas alminhas tornando-se subitamente doloridas perante a austeridade daquela figura ascética. Talvez invocasse a tormenta eléctrica que se formava ao largo, os cúmulos-nimbos agigantando-se por sobre o horizonte, os primeiros relâmpagos enchendo de centelhas energéticas o céu baixo, o ribombar dos trovões acrescentando-se, impetuoso, ao rumor vibrante do mar embravecido. Talvez aplacasse alguma tempestade interior, as inquietudes e angústias que por todos perpassam encontrando apaziguamento naquele majestoso cenário, a sublime entrega à natureza acalmando algum desvario louco que se lhe tivesse apossado da mente. Talvez ambas as coisas…”

V.A.D. em Tormenta

Imagem: Trovoada (www.bigsurcalifornia.org/images2/lightning2a.jpg)


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Quarta-feira, 30 de Abril de 2008

Luz (II)

“Luzes piscaram, frenéticas, a advertência de que o gerador iria ser colocado no ralenti, conforme preestabelecido, tomando a forma de indicação visual. Apercebeu-se do abrandamento, o zumbido que se lhe instalara em todas as fibras diminuindo até à cessação completa, o silêncio emudecendo o frenesi dos parsecs galgados sem tempo, novamente a invulgar noção de se separar de um corpo que se tornava indistinto, a névoa refulgente afigurando-se-lhe aliviada dos vinte e um gramas de si próprio. Curta foi a separação, a unicidade manifestando-se imperativa logo que no visor principal as décimas desciam abaixo de nove, a apneia transformando-se num suspiro, diafragma e músculos intercostais relaxando-se controlada e conscientemente para evitar a vertigem da fusão. Derivava agora no pélago estrelado da noite espacial. Deixara atrás de si o Sol reduzido a um pequeno círculo luminoso que prescindira de ferir a vista, os instrumentos de medida confirmando os cálculos efectuados meses antes, as mais de vinte e três mil Unidades Astronómicas transitadas podendo ser inequivocamente lidas no mostrador apropriado. Ligou os foguetes de manobra, a trajectória sendo corrigida até de novo ter a estrela à sua frente e quedou-se, deixando que alguns minutos passassem, deslumbrando-se com a solidão negra que o envolvia. Recompunha-se, assimilando a magnitude do engenho humano, preparando-se para o salto que o levaria de novo a casa, a estação espacial em órbita da Terra representando o lar que escolhera.

Regressou, duzentos e setenta dias mais tarde, a tempo de assistir ao nascimento do seu filho, concebido na noite antes da partida. Para ele, menos de uma hora havia transcorrido… Conquistara o futuro, a máquina provando o inequívoco mas paradoxal entrelaçamento entre velocidade, espaço e tempo.”

V.A.D. em Luz

Imagem: Estação Espacial (http://www-cache.daz3d.com/store/item_file/3564/image_medium.jpg)


publicado por V.A.D. às 15:00
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