“Nasci no instante que não pertence ao tempo, o passado e o futuro não fazendo sentido, o presente negando a sua própria validade pela eternidade inacessível. Surgi de um ponto infinitesimal, pleno de espaço ilimitado e de densidade infinita, a difícil concepção de tal ovo cósmico exigindo abstracção comparável a genuíno devaneio. Eclodi por mim mesmo, desmentindo a causalidade, afirmando a veracidade da génese espontânea nas dimensões dificilmente engendradas pela maior das inteligências. Brotei do nada, iludindo o caos original, arquitectando pulcras e organizadas estruturas, a lógica parecendo autêntica, o seu efectivo sentido escapando-se por entre os dedos da mão que cerram com desmedida força. Sou vazio que não é sinónimo de nada, a matéria definindo-se pela própria ausência, o estado de mínima energia desnudando a latência das coisas, numa oscilante hibernação que desafia o menos comum dos sensos. Sou campo quântico, essência primordial, as partículas imaginadas dançando ao ritmo pulsante de uma incessante flutuação do vácuo. Sou a extravagante virtude dominativa do ser sobre a sua antítese…”
V.A.D. em Universus
Vídeo: Across The Universe (The Beatles) (www.youtube.com/watch?v=lsuSCwTdxOo)
Sólidos poliédricos tangíveis, ou meros hologramas inventados, cheios de denso mistério e de absoluta certeza, massa descomunal e assombrosa leveza, somos materiais inacabados, mentes inquietas e raciocínios incríveis. Somos seres espantosos, capazes de maravilhosas abstracções, complexos e fabulosos, cheios de sonhos e ilusões. Dos medos libertados, viajamos pelos céus nebulosos, construindo mundos imaginados. Resolvemos questões, quebramos barreiras, cruzamos fronteiras, arranjamos soluções. Fugindo aos limites da natureza, desenhamos imagens magníficas, visões dolorosas e terríficas ou cheias de cor e beleza. Somos emoção desregrada, inteligência e instinto, matemática pura ou bebedeira de absinto, introspecção concentrada. Somos deuses e demónios, sinapses e axónios, fibra e carne ensanguentada. Somos carrascos e juízes, réus, suspeitos e arguidos, umas vezes mortalmente feridos, outras… Imensamente felizes!
Vídeo: In The End (Linkin Park) (www.youtube.com/watch?v=aZp2jAdBu1o)
Aquilo a que comummente se chama de acaso não passa de uma medida da ignorância, a disfarçada incapacidade de apreensão de todos os pormenores obrigando ao uso de um termo inadequado, a inabilidade de descortinar todas as cenas da peça levando à inadmissível exclusão do princípio de causalidade, a impossibilidade de reter cada um dos incontáveis eventos tornando indefinido cada um dos futuros possíveis, a mente sendo incapaz de abranger as infinitas variáveis de um Universo em permanente mutação. Algures, no mundo que partilhamos com Edward Lorenz, uma borboleta abandona uma flor, os subtis vórtices sob as suas frágeis asas gerando imperceptíveis correntes de ar, um pequeníssimo distúrbio da condição inicial trazendo consequências insólitas a milhares de quilómetros e duas semanas de espaço-tempo, o sistema físico onde vivemos apresentando-se-nos definitivamente como não-linear. Existem causas para tudo mas, quando multiplicadas numa figuração ainda que apenas aproximada à realidade, obtém-se uma caótica complexidade da qual será difícil extrair sentido aparente… Será mesmo assim? O caos pode ser assimilado e compreendido, a matemática revelando-se a derradeira ferramenta do conhecimento, a ciência da desordem estudando o comportamento aleatório, modelando-o e afirmando que, embora ocorram anomalias intrincadas, nem a casualidade escapa cabalmente às leis da Natureza…
Vídeo: Atractores Estranhos: Ordem no Caos (www.youtube.com/watch?v=SGWgCffiW4c)
Música: Mira Verra Qui a Virtus – Vision Leads to Virtue (Whisper Of The Garden)
Em certos momentos de inquietude, ponho de parte alguns pedaços ínfimos de verdade, abomino a aceitação calada de algumas das fronteiras que a natureza humana impõe, recuso o auto-sacrifício de me avassalar à pasmaceira imposta pela mesquinhez dos limites. Cerro as pálpebras e vejo mundos em construção, vórtices de energia dominando as paisagens desassossegadas pela concepção de alternativas inventadas. Interiorizo-me, a procura da essência sendo levada a um extremo que me esgota e extasia, examino cada recanto do meu ser, consciente de que muito mais se esconde nos subterrâneos inacessíveis, os vislumbres de um palco, de um actor solitário manipulando fios suspensos de pernas para o ar e o reflexo de um títere imago de mim mesmo indiciando a peça que é representada no anfiteatro sem luz do Id. Não me reconheço em reproduções meramente tridimensionais, a translucidez do tempo e as etéreas linhas de causalidade ou de casualidade assumindo uma relevância exasperantemente manifesta, muito antes da alvorada ou pouco depois do pico solar, o equador de quem sou transmutando-se em frialdade polar… Ou ao contrário, nem sei bem…
Vídeo: VjXoe Cosmic Gate (Thievery Corporation) (www.youtube.com/watch?v=ek4C1E-z5tw)
“Trazia neles negrume da noite, os olhos postos num ponto quimérico insinuando a melancolia dos crepúsculos cinzentos e o silêncio lacrimoso da desafortunada existência. O cabelo caía-lhe pelos ombros, uma anarquia desordenada de filamentos de azeviche ondulando ao sabor do vento catabático que soprava de norte, as costas voltadas ao sol numa obstinada recusa de quentura, a pedra onde se sentava fortalecendo a frialdade do Inverno tardio e persistente. Ausente num alhures diviso, a mente apartada esquecera-se do corpo dessensibilizado pelos sentidos desliados, a mágoa de algum indeclinável desencanto arrojando-a num precipício contrário à razão. Tocou-a ao de leve com a suavidade de um sussurro, o aveludado das palavras brotando dos seus lábios como uma carícia, a lhaneza de um olá arrebatando-a à catalepsia em que parecia estar deliberadamente mergulhada, o pestanejar redobrado denunciando o regresso à inteligível realidade, uma abrupta negação do abismo trazendo um sorriso embaçado. Respondeu-lhe com a firmeza espontânea de um olá, ele sentando-se junto a ela, ambos olhando a espuma branca que o vento arrancava às ondas…”
V.A.D. em Precipício
Vídeo: Edge Hill (Groove Armada) (www.youtube.com/watch?v=HEAhRhjtK58)
“Alimento-me de ilusões, vivo dominado por desejos. Amiudadamente, crio ao meu redor um Universo de ficção, convencendo-me da minha bondade, quando aquilo que quero não passa de uma manifestação egoísta de amor-próprio, a vontade de olhar o próprio umbigo sobrepondo-se à regularidade ponderada de uma existência serenamente inquieta. Nessas alturas, um louco insinua-se no interior do meu crânio, ainda que por breves instantes, conspurcando, fazendo do meu espírito um lugar sebento, a imundície da sua actividade desvairada deixando na atmosfera o odor pútrido do destempero, os corredores repugnantes da perversidade, desselados momentaneamente, pejando-se de fantasmas e tesouros amaldiçoados, sanguessugas e vermes de vorazes e acres apetites. Grutas sulfurosas e labirínticos subterrâneos servem-lhes de morada, negrumes escuros, escorrendo pelas paredes da mente adoecida, são rasgados pela vermelhidão atroz do sangue infecto, a infinita complexidade e horror da condição humana sendo-me revelada pela natureza reptiliana do subconsciente. E depois, imobilizando-me, esforço-me por expulsar aquele agoniante fedor dos meus pulmões…”
V.A.D. em Fedor
Imagem: Obnóxio (http://www.spirit-of metal.com/les%20goupes/A/Attitude%20Adjustment/The%20Good,%20The%20Bad,%20The%20Obnoxious/The%20Good,%20The%20Bad,%20The%20Obnoxious.jpg)
Suspendo o tempo nos fios da vontade, seguro os ponteiros do relógio que imagino, recuso o escoar dos segundos, não o quero para mim. Crio nas minhas mãos a eternidade, pedaço de vidro cristalino, incontáveis e estranhos mundos, conjectura de espaço sem fim. Brinco no centro galáctico, inundo-me de emoção e pasmo, perco-me num labirinto inventado, entre estrelas e quasares. Nada no cosmos é estático, encho-me de exaltado entusiasmo, não há segredo que não seja revelado, todos os mistérios se tornam vulgares. Conheço a verdade e o seu inverso; tenho a vida inteira e mais um pouco para aprender o que há a saber. A mente funde-se com o Universo… (Eu sei, às vezes pareço louco, mas não há nada a fazer…!)
Imagem: Universo! (www.faemalia.net/USPictures/Backgrounds/universe.jpg)
Desvaneço-me nas etéreas luminâncias do arco-celeste, sou pingo de orvalho matinal sobre os ramos da árvore despida, desejo crescente, hino à vida, brisa cálida ou vento agreste. Sou sombra desenhada no solo duro, luz irradiante e treva profunda, chuva intensa que tudo inunda, odor corrupto ou ar fresco e puro. Sou embriaguez e sobriedade, sinto a vida a pulsar nas artérias, conjunto de alegrias e misérias, frio calculismo e natural espontaneidade. Sou certeza e contradição, verdade absoluta ou devaneio insano. Sou simplesmente humano, feito de veemente emotividade e de metódica razão…
Imagem: Orvalho (www.moocaonline.com.br/plano_de_fundo/novas/orvalho.jpg)
Quando os fulgores coruscantes correm pelos céus plúmbeos da melancolia, traçando tormentosos circuitos por entre a frieza das estrelas resguardadas, fecho os olhos, isolo-me da intempérie e o nome dela relampeja sob as minhas pálpebras num zumbido indistinto e suave, um enxame de abelhas passeando pelos longos corredores da memória, a melíflua recordação de verões perdidos e o doce calafrio do sal atlântico trazendo à minha pele o arrepio deleitoso de um outro tempo. Nessas ocasiões, volto a sentir o sorriso que aprendi dela, impresso nos meus lábios com a vermelhidão das cerejas surripiadas das árvores do contentamento, símile da prazenteira inocência agora esmaecida pela veloz passagem das carruagens na férrea linha temporal, num tiquetaque contínuo e irrefreável. E elevo-me na minha própria brisa, espalhando cálidos ventos que resfriam os meus cabelos já cãs e afastam os cúmulos-nimbos para as vastidões de um oblívio provisório de mim mesmo, até que a quietação retorne na anelante respiração de jogos revividos, a Infância decididamente nunca perdida insinuando-se na minha mente…
Imagem: Infância Perdida (Lewis Blehrman) (www.lewisblehrman.com/Lost%20Childhood%20copy.jpg)
“O tempo não tem significância, nem tão-pouco o espaço, a não ser quando para um ou para ambos acontece a apreciação do pensamento. E esse prossegue continuadamente, conquanto a vigília aparte a mente dos oblívios profundos de um sono sem sonhos, jogos de luz e fulgurantes sons arquitectando o entendimento, o sentir convertido em imagem, a diáfana essência da verdade sendo tocada ao de leve…”
V.A.D. em Algures
Vídeo: Mind Games (John Lennon) (http://www.youtube.com/watch?v=8dHUfy_YBps)
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