Em geral, tendemos a pensar no nosso esqueleto como algo duro e inerte, que fica escondido por tudo o que é quente e vivo, e que, consequentemente morre e se desintegra. Completamente segmentado, maravilhosamente articulado, o esqueleto mantém-nos erectos, permite-nos andar, dançar, correr e usar um teclado. As costelas protegem o coração, os pulmões e outros órgãos vitais. O interior dos ossos abriga as células produtoras de sangue, e a resistência do crânio serve de armadura para os delicados tecidos cerebrais. Em suma, sem o esqueleto, o nosso corpo desmoronar-se-ia como uma gelatina informe, incapaz de se mover e de se manter de pé. Será o esqueleto apenas uma espécie de cabide natural que sustenta e protege a carne? É forçoso reconhecer que a natureza obedeceu muito mais a imperativos fisiológicos do que a razões de mobilidade e elegância. A sua função primária é armazenar e fornecer, consoante as necessidades do organismo, um conjunto essencial de materiais vitais, dos quais os mais importantes são o cálcio e o fosfato. A sua conveniente dureza foi utilizada pela evolução para servir às funções secundárias de locomoção e protecção.
Imagem: Esqueleto (Atman Victor)
Na nossa galáxia existem cem mil milhões de estrelas e, de acordo com recentes descobertas, fornecidas pela astronomia, muitas delas estão rodeadas de planetas, constituídos pelos mesmos componentes que os do nosso sistema solar. Alguns desses planetas têm certamente água em estado líquido, uma atmosfera equilibrada e as mesmas flutuações climáticas a que a Terra está sujeita. As moléculas nos mares alienígenas sofrem as mesmas combinações químicas, obedecendo às mesmas leis que regem os átomos no nosso planeta. Cometas e meteoritos caem na superfície, trazendo com eles aminoácidos formados nas nebulosas e nos grandes espaços interestelares, e tempestades eléctricas fornecem a energia crucial ao desenvolvimento da química orgânica. Todas as condições necessárias ao aparecimento da vida estão satisfeitas. E ela surge, primeiro sob formas simples, evoluindo depois, numa crescente complexidade… Não temos razões para pensar que somos a única forma de vida no Universo. Até porque, como alguém disse, a ausência de provas não é prova da ausência.
Imagem: Exobiologia (www.na.astro.it/meetings/astrobiology/graphics/Exobiology_1024x7683_corn.gif)
Vivemos simultaneamente em dois universos. O nosso mundo tem duas partes, como uma maçã cortada ao meio; a linha de corte passa exactamente pelo centro do nosso corpo. O cérebro, responsável pela gestão dos dois semimundos em que vivemos, é também separado em dois hemisférios, o direito e o esquerdo. Cada um deles controla exactamente metade do nosso corpo e monitoriza metade do ambiente que nos circunda. Consideremos duas células, uma em cada lado da linha mediana do nosso corpo. Embora possam estar a apenas dois centésimos de milímetro uma da outra, as mensagens que enviam e que recebem do encéfalo viajam por caminhos inteiramente diferentes. Seria razoável esperar que a informação sensorial e motora respeitante ao lado direito do corpo fosse tratada pelo lado direito do cérebro. Mas, na natureza, nem sempre a explicação mais óbvia é a correcta. Por alguma misteriosa razão, cada metade do corpo está ligada à metade oposta do cérebro. Contudo, apesar desta separação, cada um dos vários milhões de neurónios de um dos hemisférios consegue, de alguma forma, retransmitir os dados para o outro lado, de maneira a que as decisões sejam tomadas em conjunto. O nosso sistema nervoso reintegra os dois mundos naquilo que nós sentimos como um todo coerente.
Imagem: Maçã
A evolução sugere que o ser humano e outros animais são como que colónias de células altamente especializadas que vivem em cooperação mútua longe do seu habitat original: o oceano. A chave da nossa sobrevivência tem sido o desenvolvimento de sistemas internos de sustentação, independentes mas interligados, que garantem a manutenção de condições físicas e químicas bastante idênticas àquelas do mar primordial. Desta forma, o Homem é uma espécie de cápsula espacial que contém os elementos essenciais à vida, assim como as frágeis naves de metal em que ele se lança no espaço garantem as condições necessárias à continuidade existencial. A cápsula humana é capaz de mover-se, em poucos minutos, do ar para a água, do deserto escaldante para um duche frio, da fome e da sede à saciedade, de uma dieta de peixe e vinho a outra de leite e pudim. Através de todos estes choques e mudanças, o mundo dentro da nossa pele deve permanecer isolado, constante, raramente se afastando dos estreitos limites de tolerância impostos pela vida, no que se refere a temperatura, humidade e condições químicas. No final da década de 1920, o fisiologista americano Walter Bradford Cannon deu um nome oficial a esta estabilidade: homeostase, contracção de termos gregos, que significa permanecer igual. Em suma, é uma maravilha, a existência da vida. E a vida é, a um só tempo, rígida e flexível, delicada e robusta.
Imagem: Saco Amniótico (www.scb.org.br/pergresp/imagens/bebe.jpg)
Os melhoramentos cognitivos, induzidos pelas hormonas durante os períodos de gravidez e lactação, aparentam ser duradouros, persistindo até uma idade avançada. Embora os estudos deste fenómeno tenham sido centrados sobretudo em roedores, é verosímil que as mães humanas também beneficiem a longo prazo com a maternidade, dado que a maioria dos mamíferos apresentam comportamentos maternais muito semelhantes, provavelmente controlados pelas mesmas regiões cerebrais. Alguns pesquisadores sugerem que o desenvolvimento deste comportamento teve um papel fulcral na evolução cerebral. À medida que os mamíferos se distanciavam dos seus antepassados reptilianos, a estratégia reprodutiva alterou-se significativamente; deixou de ser pôr os ovos e seguir, e tornou-se parir e defender o ninho. As vantagens selectivas desta nova abordagem podem ter favorecido a emergência das mudanças comportamentais induzidas pela acção das hormonas.
Conhecemos e veneramos a nossa mãe. A mão que embala o berço realmente domina o mundo.
Imagem: Mãe e Filho (http://i1.trekearth.com/photos/22036/madre_e_hijo_escultura.jpg)
Fonte: Sci-Am
As mães não nascem mães, fazem-se mães. Nos mamíferos, desde os ratos aos humanos, todas as fêmeas passam por um profundo processo de alteração comportamental durante a gravidez e a maternidade. Dantes devotadas às suas necessidades e conveniências, as mães tornam-se criaturas muito mais focadas nos cuidados e no bem-estar da sua descendência. Embora os cientistas se tenham apercebido há muito desta transição, só agora começam a compreender o que a causa. Novas pesquisas indicam que as dramáticas flutuações hormonais que ocorrem durante a gravidez, o parto e a lactação podem remodelar o cérebro feminino, aumentando o tamanho dos neurónios em algumas áreas e produzindo alterações estruturais noutras. Algumas das zonas onde estas modificações se dão estão relacionadas com a regulação dos comportamentos maternais, o que é perfeitamente lógico. Contudo, áreas relacionadas com a memória, com a aprendizagem e com as respostas ao medo e à tensão, são igualmente afectadas positivamente. Experiências recentes com roedores mostraram que fêmeas que já deram à luz superam fêmeas virgens em desafios como a navegação em labirintos ou a captura de presas. O incremento qualitativo de certas capacidades aumenta as hipóteses de sobrevivência da prole.
Imagem: Progesterona (www.3dchem.com/imagesofmolecules/Progesterone.jpg)
Fonte: Sci-Am
Para os biólogos, cada indivíduo é parte integrante do passado, presente e futuro da espécie humana. O património genético comum a todos é transmitido de geração em geração, assim como tudo o que foi descoberto, inventado e realizado. Os meios para a transferência da informação são, obviamente distintos. O registo da história é feito numa base inventada pelo Homem, enquanto que a própria história da evolução da espécie está gravada no seu genoma. No futuro, será lógico supor que, através da compreensão do funcionamento do genoma humano, a humanidade, devido à sua natureza técnica e cultural, desejos e ambição, venha a mudar radicalmente a informação genética, de forma a tentar melhorar as condições de vida das futuras gerações. O desenvolvimento de novas ferramentas para o diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças depende de um conhecimento profundo dos cromossomas e de aproximadamente 25000 genes. Num futuro não muito distante, certas doenças serão descritas com precisão através de trechos do código genético, e o tratamento será feito com uma proteína a ser introduzida nos cromossomas do paciente. Chegará o dia em que seremos capazes de criar, clonar e inserir no nosso genoma os genes que nos interessam, muito genes, talvez milhares deles. Eles ampliarão em centenas de vezes os nossos recursos biológicos de sobrevivência. E nessa altura, o Homem deixará de ser Homem: passará a chamar-se Homem Geneticamente Modificado. É um bocadinho assustador, não é?
Imagem: Genoma ( www.invdes.com.mx/BancodeImagenes%5Cgenoma.jpg)
Cada organismo abriga milhões de substâncias que, de certa forma, são apenas suas, e de nenhum outro ser vivo. Todo o sistema imunológico específico se concentra na capacidade que as células imunitárias têm de distinguir as proteínas produzidas pelas células do próprio corpo, das proteínas produzidas por invasores ou por células sob o controle de vírus. Este enorme exército de células especializadas em segurança tem como função identificar e destruir os estranhos. Durante a gravidez, inclusive, estes guardiães são aquartelados para não rejeitarem o “intruso” no útero materno, evitando assim o aborto. O enigma do sistema imunológico tem vindo gradualmente a ser desvendado pela medicina, que reconhece a sua importância fundamental, quer em relação às doenças infecciosas, quer em relação ao cancro, às cirurgias, aos transplantes e até à própria morte. Contudo, este sistema é somente um dos mecanismos biológicos usados para manter em equilíbrio constante o aparato bioquímico da vida. É formado no embrião a partir do intestino ainda em desenvolvimento e a sua acção apoia-se em dois tipos de células: Os linfócitos B e T. Ambos em complexa e estrita cooperação, inibem e estimulam a acção recíproca, através de substâncias que produzem e com as quais reagem. Lidam ainda com outras células, os macrófagos, e o seu objectivo último é absorver, perfurar ou eliminar os estranhos, sejam vírus, bactérias ou substâncias. A saúde é mantida através de uma luta sem fim, na qual o organismo utiliza as armas de que dispõem contra as hordas de invasores que o assolam. O funcionamento deste incrível sistema pode ser afectado por coisas aparentemente distantes. A fome, a tensão, o excesso de tabaco e de álcool podem abrir seriamente os flancos deste exército benigno.
Imagem: Linfócito T (www.jornada.unam.mx/2006/12/08/ls-tratamientos.html)
A história migratória do Homem está ligada também ao seu estômago. Uma bactéria chamada Helicobacter Pylori, responsável por úlceras gástricas, está presente desde há muito no nosso sistema digestivo, e a sua história pode estar intimamente relacionada com a da humanidade. Graças a este micróbio, uma equipa internacional de geneticistas conseguiu datar uma das grandes etapas do Homo Sapiens. Os pesquisadores analisaram a linhagem do micro-organismo em cinquenta e um grupos étnicos repartidos pelo mundo inteiro e após terem estudado as suas diferenças genéticas, encontraram em todas estas estirpes uma origem geográfica comum: o Corno de África, no leste do continente considerado o berço da espécie humana. A expansão do tronco ancestral através de outros continentes terá começado há aproximadamente 58 milhares de anos, reflectindo a propagação da nossa espécie através de novos territórios, tal como imaginado no modelo designado "Saída de África". As rotas e cronologias desta grande diáspora não estão completamente esclarecidas, mas supoem-se que tenha ocorrido entre 50 e 70 mil anos atrás, em vagas sucessivas. Se a Helicobacter Pylori for um indicador fiável, pode ajudar a esclarecer algumas questões ainda obscuras.
Imagem: Helicobacter Pylori (www.bu.edu/bridge/archive/2004/04-02/photos/photonics.jpg)
Fontes: Science & Vie, BBC
Se o corpo humano pudesse ser colocado num estado de animação suspensa, as implicações para a medicina seriam enormes. Alguns órgãos humanos destinados ao transplante, como o coração e os pulmões, podem sobreviver fora do corpo por apenas seis horas. Outros, como pâncreas e os rins, não aguentam mais do que um dia. O sucesso da transferência de órgãos depende da velocidade, e em alguns casos órgãos com potencial de transplante são descartados simplesmente por não haver tempo suficiente para transportá-los. Se pudessem ser colocados num estado de animação suspensa, a sua viabilidade poderia ser preservada por dias ou semanas. As equipas de emergência poderiam também usar esta técnica para dar mais tempo aos feridos em estado crítico, de forma a prevenir a deterioração dos tecidos enquanto os médicos não reparassem os danos sofridos por eles. Recentes estudos no Centro de Pesquisa do Cancro Fred Hutchinson em Seattle, têm mostrado que estados semelhantes à hibernação podem ser induzidos em animais que não hibernam naturalmente. Os resultados levantam a possibilidade de que a animação suspensa seja viável também em humanos. De facto, os métodos usados para o efeito sugerem que esta capacidade está latente em muitos organismos, por meio de um mecanismo com raízes nos primeiros dias da vida microbiana terrestre.
Imagem: Animação Suspensa (www.scienceollze.com/0507/images/0507_01.jpg)
Fontes: Sci-Am, BBC News-Science-Nature
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