Diante dos nossos olhos, e tão difíceis de serem vistos, desenvolvem-se os jogos da matéria. Inauguraram-se, há quase catorze mil milhões de anos, numa fulgurante e inimaginável explosão, o vazio transformado em energia, o nada transfigurado em tudo, o tempo dimanando de onde antes nem a eternidade fazia qualquer sentido. Antecedentemente, apenas o inconcebível vácuo, desprovido de dimensões e de significado, ovo quimérico que poucos ousam controverter, ínfima bolha condensada de forças titânicas, encerrando-se a si própria, contendo o Universo. Mas, escutemos o tempo que, lenta ou velozmente, leva a cabo a sua obra, acordando a matéria, separando a gravidade das outras forças fundamentais, o incomensurável calor dos primeiros segundos esvaindo-se, a expansão inflacionária a consentir que germinem quarks, os quarks formando protões e neutrões, a génese dos elementos a acontecer, a verdadeira alquimia a ter lugar. E, quase meio milhão de anos depois, a luz, fúlgida e cintilante, irrompe intempestivamente da prisão da gravidade, enchendo o espaço com o seu brilho, iluminando os grumos de matéria em contínua transformação…
Vídeo: Aquém da Grande Explosão (http://www.youtube.com/watch?v=hSZqhqR5XKM&feature=related )
Imensas correntes oceânicas, transportando incomensuráveis massas de água, circulam através dos oceanos, modelando as condições atmosféricas. Tempestades eléctricas rasgam a noite com deslumbrantes descargas de energia, enquanto nuvens negras de chuva assombram a superfície de um planeta que respira, que se movimenta, que chora e padece, que evoluciona e frutifica, animado por um sopro de vitalidade, instilado pela querença da Grande Arquitecta, as dinâmicas e cíclicas variâncias climatéricas resultando num maravilhoso e precário equilíbrio. Tudo devemos à prodigiosa torrente de energia, proveniente da Estrela Mãe, qual centelha que ateia e ceva os mecanismos, em contínua operação, de toda e qualquer estrutura biofísica, numa veemente recusa de condescender à estagnação. A vida, abraçando todos os recantos, floresce pela luz, a máquina dos estados do tempo é posta em movimento por desigualdades na quantidade de calor recebida em latitudes diferentes, e até o humor dos meus iguais varia em função de céus limpos ou de dias nublados. Ventos ciclónicos ou brisas cálidas, dilúvios bíblicos ou secas infernais, temperaturas gélidas ou amenas tardes estivais, nada mais são que manifestações de um clima num sempiterno ciclo de mudança.
Imagem: Mudança das Estações (www.youtube.com/watch?v=hH8UMbzgIAE)
O mundo não tem descanso, não há imutabilidade alguma na lenta mas contínua movimentação do chão sob os nossos pés. Não há placitude no imo de um corpo vivo e pulsante, alojamento da fornalha nuclear geradora do calor que faz da nossa morada um planeta em contínua evolução, mudando a cada instante das longas eras, transformando a face, a tectónica das placas gerando montanhas soberbas e insondáveis fossas abissais, fendendo, por vezes abrupta e brutalmente, o tegumento deste pequeno e isolado lugar, onde assistimos inquietos ao desfiar da nossa existência. Ilhas nascem e são destruídas, meras cidadelas de lava em praia fustigada pelas vagas da eternidade; chaminés expelem para a atmosfera gases primordiais, a Terra expectorando as próprias entranhas. Derivam continentes inteiros, como se de barquinhos em miniatura se tratassem; as correntes magmáticas da astenosfera, desenvolvendo colossais forças de atrito, empurram e remodelam, energia assombrosa metamorfoseando o mapa-mundi.
Vídeo: Deriva dos Continentes (www.youtube.com/watch?v=ft-dP2D7QM4&feature=related)
Detenho-me, absorto em divagações sobre a intrínseca natureza das coisas, e reavalio as noções de permanência e de mudança. Não há remanso no coração da matéria. Nos esquisitos e mal compreendidos domínios do infinitamente pequeno, operam-se, incessantemente, subtis e prodigiosas alterações. Forças em permanente actuação, consumadas por bosões energéticos, são as manifestações de um campo unificado de quatro faces. Pedem energia ao princípio da incerteza, ganham existência e, rodopiando incansavelmente, mantêm coesa a fina estrutura de tudo, exercendo um férreo domínio sobre os fermiões. Feita de corpúsculo ou de ondas, a realidade é o resultado de algo muito menos compreensível do que aquilo que os nossos sentidos afirmam: a espuma de actividade transvaza, borbulhante, até naquilo a que chamamos de vácuo. Pois que fértil é o campo quântico, onde a todo o instante são criados pares partícula-antipartícula que, embora de existência fugaz, retratam um ininterrupto ciclo de transformação.
Imagem: Campo Quântico (http://pdg.cecm.sfu.ca/~warp/exp7f1.gif)
O coração bate cerca de setenta vezes por minuto, mais de dois mil milhões de vezes em toda a vida, e aparentemente tem uma vida própria. As fibras musculares que o compõem diferem das de outras partes do corpo, no facto de que algumas delas geram os seus próprios impulsos eléctricos sem receberem sinais do cérebro. Com efeito, o coração de um feto começa a pulsar ainda antes de se formarem as conexões nervosas. O marca-passo natural do coração é um grupo de células auto-estimuláveis que constituem o nódulo sinoatrial, ou NSA. Localizada na parede do átrio (ou aurícula) direito, esta área envia impulsos ao nódulo atrioventricular, que fica no septo, a parede muscular que divide o coração. Os sinais viajam pelo feixe de His, em direcção a um conjunto de fibras nervosas, chamado rede de Purkinje, que recobre os ventrículos, e daí para todo o coração, causando uma contracção. Não se sabe o que dá início à corrente no NSA, mas as suas células comportam-se mais como neurónios do que como fibras musculares…
Imagem: Nebulosa do Coração (http://apod.nasa.gov/apod/image/0610/heart_russell_big.jpg)
O físico inglês Michael Faraday recebeu, um dia, a visita da rainha Vitória. Ela estava curiosa por saber que utilidade tinham as pesquisas do cientista, cujas descobertas incluíam os princípios básicos da electricidade e do magnetismo, então de aplicação prática, no mínimo, pouco evidente. Faraday respondeu com outra pergunta: Madame, replicou, e qual é a utilidade de um bebé? Quase dois séculos depois, a rainha teria ficado admirada, ao descobrir um mundo povoado por telemóveis, televisores, hidroeléctricas, computadores… Resultantes, em última análise, do génio de Faraday. Durante este intervalo de tempo, ganhámos uma consciência muito mais aguda da importância da ciência e da necessidade da sua divulgação. Para acompanhar o ritmo do desenvolvimento científico, a quantidade de publicações dedicadas a este campo cresceu aceleradamente nos últimos anos. Mas, constato também um incremento assustador no número de revistas e de livros virados para as falsas ciências, e assumo que isto reflecte um interesse crescente por esses temas. Não deixo de me preocupar com este facto: precisaremos de retornar ao obscurantismo? Não será o verdadeiro conhecimento suficientemente empolgante?
Imagem: Lâmpada (http://webac.ci.uminho.pt/nefum/enef06/Imagens/Lampada.jpg)
Vivemos num mundo de rápidas mudanças, ao qual a tecnologia trouxe o conforto e a possibilidade de uma vida mais longa, inconcebíveis no tempo dos nossos antepassados. Mas este mundo vive sob a ameaça de eventuais catástrofes, como um desastre nuclear, uma nova epidemia virulenta, ou uma alteração radical do clima. A ciência permitiu ao homem compreender muitas das forças destruidoras que nos podem arrasar, mas também acrescentou muitos perigos à nossa existência. Apesar das suas incertezas e problemas, este é um planeta em que podemos viver, o ponto mais aprazível que conhecemos do Universo para a nossa espécie. No intuito de o manter tolerável e de mitigar futuras calamidades, os governos devem aprender a cooperar entre si na condução das instituições sociais e na utilização harmoniosa dos recursos naturais. A ciência é o principal instrumento de que o Homem dispõe para criar um equilíbrio praticável entre as necessidades da civilização e o carácter volúvel da Natureza. Contudo, ciência e tecnologia são, por si próprios, projectos experimentais. Devem merecer toda a atenção e todo o cuidado, para que não se virem contra a humanidade.
Imagem: Alterações Climáticas (http://weblog.leidenuniv.nl/fdr/1948/climate-change.jpg)
Se, numa noite límpida, olharmos para uma determinada direcção do espaço, para os lados da constelação de Sagitário, estaremos a olhar para uma região onde se ocultam os escombros monumentais de enormes quantidades de matéria que desmoronou sobre si própria, até se transformar num objecto extraordinário, diferente de tudo o resto que existe no céu. Escondido pelas poeiras e pelas moléculas interestelares, o centro da Via Láctea tem cerca de cinco anos-luz de diâmetro. É um agrupamento monumental de cerca de cinco milhões de estrelas e nele se abriga um desses raros corpos celestes: um buraco negro. Nestes objectos que desafiam a nossa imaginação, a velocidade de escape, função da gravidade, é tão elevada para lá do horizonte de eventos, que nem as partículas de luz conseguem escapar. No coração da galáxia vive um tenebroso e insaciável monstro devorador de matéria…
Imagem: Buraco Negro (Concepção Artística) (www.seedmagazine.com/news/uploads/BlackHole.jpg)
Uma bactéria é um organismo modestíssimo: é uma só célula. Já forma, porém, uma associação de grandes moléculas cujo ciclo vital envolve perto de mil reacções químicas diferentes. O corpo humano, por sua vez, tem uma complexidade incrível: é formado por dezenas de grandes órgãos, cujas tarefas são realizadas por dezenas de milhares de substâncias diferentes. Ao nível das moléculas, as funções vitais revelam um extraordinário engenho. Há as que se engastam nas membranas celulares, deixando de fora apenas uma parte dos seus milhares de átomos; dependendo de factores químicos, da forma e da distribuição das cargas eléctricas, elas reconhecem um por um os milhares de substâncias que entram em contacto com a célula. Algumas, diante de certos compostos, alteram-se e deixam entrar ou sair os suprimentos necessários e os produtos resultantes da actividade orgânica. Outras identificam e coordenam moléculas mensageiras, que regem o metabolismo. Não admira que tenhamos dificuldade em compreender o que se passa no interior dos organismos vivos…
Imagem: Leucócito (http://library.thinkquest.org/3564/cell751.gif)
Façamos uma breve consideração sobre o sistema límbico. Antigamente, pensava-se que esta área do cérebro relacionava-se exclusivamente com o sentido do olfacto; hoje, porém, sabe-se que ela está na base dos impulsos da alegria, da raiva, do sexo e da fome. Mal nos começámos a dar conta da extensão e da subtileza com que as nossas emoções, controladas pelo sistema límbico, permeiam cada aspecto do nosso comportamento. Não é de excluir a hipótese que os estados alterados de consciência sejam provocados por uma interacção perfeitamente sincronizada entre este sistema e o lóbulo parietal inferior do cérebro direito. Em situações assim, quando este hemisfério revela à consciência certas percepções transcendentes, o despertar emocional é tão intenso que o cérebro esquerdo acaba por se convencer que elas têm validade, originando-se uma sensação de total comunhão entre o Eu e o Cosmos, aquilo que é chamado de Unidade Absoluta do Ser…
Imagem: Sistema Límbico (www.geocities.com/alexeiplatypus/sistema_limbico_icon.jpg)
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