Aquilo a que comummente se chama de acaso não passa de uma medida da ignorância, a disfarçada incapacidade de apreensão de todos os pormenores obrigando ao uso de um termo inadequado, a inabilidade de descortinar todas as cenas da peça levando à inadmissível exclusão do princípio de causalidade, a impossibilidade de reter cada um dos incontáveis eventos tornando indefinido cada um dos futuros possíveis, a mente sendo incapaz de abranger as infinitas variáveis de um Universo em permanente mutação. Algures, no mundo que partilhamos com Edward Lorenz, uma borboleta abandona uma flor, os subtis vórtices sob as suas frágeis asas gerando imperceptíveis correntes de ar, um pequeníssimo distúrbio da condição inicial trazendo consequências insólitas a milhares de quilómetros e duas semanas de espaço-tempo, o sistema físico onde vivemos apresentando-se-nos definitivamente como não-linear. Existem causas para tudo mas, quando multiplicadas numa figuração ainda que apenas aproximada à realidade, obtém-se uma caótica complexidade da qual será difícil extrair sentido aparente… Será mesmo assim? O caos pode ser assimilado e compreendido, a matemática revelando-se a derradeira ferramenta do conhecimento, a ciência da desordem estudando o comportamento aleatório, modelando-o e afirmando que, embora ocorram anomalias intrincadas, nem a casualidade escapa cabalmente às leis da Natureza…
Vídeo: Atractores Estranhos: Ordem no Caos (www.youtube.com/watch?v=SGWgCffiW4c)
Música: Mira Verra Qui a Virtus – Vision Leads to Virtue (Whisper Of The Garden)
De
Emanuela a 18 de Fevereiro de 2008 às 01:44
Amigo, sem dúvida, por mais inteligentes, por mais incríveis que sejamos( porque a mente é mesmo fantástica!) não há como abranger, quanto mais explicar tudo o que está à nossa volta e dentro de nós. Lei da causa e efeito? Sem dúvida, creio que nada é por acaso. Mas é assim, aceitamos muitas vezes designar desta forma o que não conseguimos explicar de outra. Se não dá para explicar e nem entender, ao menos podemos nos maravilhar diante de tudo. E tu nos ajudas a descortinar muitas vezes estas maravilhas. Parabéns!
Um beijo, desejando que a tua semana seja harmoniosa.
De
V.A.D. a 18 de Fevereiro de 2008 às 02:13
Amiga, em última instância, o acaso existe de facto, inscrito nas profundezas do infinitamente pequeno, nos abissais domínios só vislumbrados através da mecânica quântica, um mundo estranho feito não de certezas, mas de probabilidades. Pode ser que um dia destes aborde esta vertente da questão, embora não seja fácil traduzir em palavras conceitos tão distanciados do senso comum.
Neste texto, reporto-me às ocorrências do dia-a-dia, aproveitando o chamado "efeito borboleta" para salientar que, embora o acaso pareça governar muitos dos eventos, é a nossa incapacidade de colher e analisar todos os dados disponíveis que nos impede de escapar aos "imprevistos", levando-nos a confundir causalidade com casualidade... :-)
Obrigado, amiga, pela amabilidade que sempre expressas através das tuas palavras.
Desejo-te uma óptima noite e uma excelente semana!
Um beijo... :-)
apreciei bastante este texto!
obrigado pelo teu comentário, sim escrever é bastante saudável e agradável e sim, é como se afastássemos os "fantasmas"!
obrigado pelo teu comentário e ela tua opinião!
=) espero que tenhas tido um bom fim-de-semana, eu tive a estudar nem consegui escrever nenhum texto!
beijinho*
De
V.A.D. a 19 de Fevereiro de 2008 às 01:56
Neste texto uso a maravilhosa metáfora do "efeito borboleta" para tentar sublinhar que aquilo a que chamamos "acaso" é quase sempre o resultado de relações de causalidade escondidas sob um véu de complexidade que as impede de serem vistas.
O acaso é, na verdade, algo de muito mais profundo, uma característica da matéria no domínio do infinitamente pequeno, algo que, fugindo por completo ao senso comum, é de difícil abordagem, mas definitivamente provado.
Também eu agradeço as tuas palavras, sublinhando que aquilo que tenho lido do que vais escrevendo me parece ser cheio de interesse e revelador de uma grande maturidade.
Amiga, desejo-te uma óptima noite e uns excelentes estudos!
Um beijo... :-)
De
perola a 18 de Fevereiro de 2008 às 20:43
Meu amigo VAD:
Diz-me a minha vida que nada é ao acaso. Que mesmo as coisas menos positivas, têm a sua causa assim como a sua consequência.
Pensemos que isto se dá pelo destino, ou pelas escolhas que fazemos na vida, é certo que tudo tem uma razão de ser, se assim o desejarmos.
Beijinhos e uma semana óptima (com menos chuva)!
De
V.A.D. a 19 de Fevereiro de 2008 às 02:06
Minha amiga, estou inteiramente de acordo contigo, no que diz respeito à abordagem, digamos sociológica, que fazes do "acaso". Existem causas e consequências, as escolhas que fazemos influenciando o resultado, ainda que possamos não nos aperceber de imediato dos efeitos... A existência é cheia de imprevistos, é certo, mas também de decisões que tomamos. Se erramos, devemos aprender com as falhas; se acertamos, podemos perceber qual o caminho a seguir...
Agradecendo as tuas amáveis palavras, também eu te desejo uma excelente semana, sem dilúvios destruidores!
Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)
De
perola a 19 de Fevereiro de 2008 às 23:19
Amigo:
Que o acaso na tua vida seja sempre feliz.
Obrigada pelas lindas palavras de amizade que deixaste no meu blog.
Um grande beijo (com sol)!
De
V.A.D. a 20 de Fevereiro de 2008 às 03:26
Obrigado, minha amiga. Também eu formulo o desejo de que a vida te traga tudo quanto possas almejar.
Não tens de agradecer; sabes o quanto te considero... :-)
Que a tua noite seja plena de momentos agradabilíssimos!
Um beijo e um enormeeeeee sorriso... :-)
De
**** a 22 de Fevereiro de 2008 às 01:06
"Aquilo a que comummente se chama de acaso não passa de uma medida da ignorância" - Tocaste numa área de estudo que me atrai dum forma muito especial (já escrevi algo sobre ele). Acho essa ideia de universo onde causas e efeitos se intelelaçam numa trama de cuja existência temos noção, mas que nunca conseguiremos compreender por completo. A teoria do Caos e o efeito borboleta, o princípio da incerteza e o da causalidade, abrem um novo universo de hipóteses, de conceitos e conhecimentos.
O famoso enunciado de Lourenz - um exemplo que não só facilita a compreensão desta ideia como também imprime um certo lirismo na teoria – acaba por nos fazer pensar nas na forma como um pequeno facto, um gesto, uma acção ou inacção – uma inóbil causa – pode ter repercussões acerca das quais poderemos nunca aperceber-nos – efeitos demasiado grandes para termos a noção deles.
Pequenas causas (efeitos de causas precedentes) podem gerar enormes efeitos (causas de efeitos subsequentes) – aplicando-se isto de forma tão universal como as leis da natureza. Por exemplo como é dito num livro que sei teres por aí – A Breve História do Tempo, de Stephen Hawkings – “se a carga eléctrica do electrão fosse ligeiramente diferente, as estrelas ou seriam incapazes de queimar hidrogénio e hélio, ou então não teriam explodido” – uma causa aparentemente pequena possibilitou a formação da variedade de elementos que temos na tabela periódica, a formação dos astros, o aparecimento de vida e estar agora aqui a escrever.
“O caos pode ser assimilado e compreendido”? – Não sei... já avançámos muito no estudo de áreas relacionadas - como os fractais em matemática - mas duvido que o venha a ser no meu tempo de vida. O que não tenho dúvida alguma é que vale a pena continuar a tentar afinal, se o bater das asas duma borboleta pode provocar um tufão, que fenómeno atmosférico poderá a acção humana desencadear?
Beijos
E desculpa o tamanho deste comentário ao teu fantástico texto, demostra que o caos realmente existe, nem que seja somente na confusão do meu discurso
Sophia
De
V.A.D. a 23 de Fevereiro de 2008 às 02:41
O acaso é algo de muito profundo, está impresso no comportamento das partículas elementares, o mundo do infinitamente apresentando-se-nos governado por leis estranhas ao senso comum, o princípio da causalidade sendo substituído pelas incertezas da estatística. Mas, vivemos num mundo que, para a maioria das pessoas, é apenas aquilo que se vê, sente e percepciona. A este nível, não existe acaso, existem apenas imprevistos, na medida em que se é incapaz de recolher e analisar toda a informação, a todo o instante. Fôssemos hábeis para o fazer e saberíamos o futuro... :-)
E as leis que governam o nosso Universo serão as mesmas em todos os lugares do multiverso...? Haverão Cosmos feitos de uma sopa de quarks e leptões, sem estrelas, sem átomos sequer...?
Para questões destas, talvez nunca encontraremos respostas, mas estou certo de que a humanidade continuará a progredir no sentido do conhecimento, embora a linguagem que relata os avanços pareça estar cada vez mais distante da compreensão da maioria...
Não tens de pedir desculpa por nada: os teus comentários, sempre interessantíssimos, complementam os meus raciocínios. Por isso te agradeço, por isso os aprecio tanto!
Desejo-te, uma vez mais, uma óptima noite e um fim-de-semana magnífico!
Um beijo e um enormeeeeeee sorriso... :-)
De Oscar a 18 de Março de 2009 às 03:30
Não escolhi este post por acaso...
Apesar de distante no tempo dos restantes comentários merecia um comentário, não só sobre o post , como alguns dos comentários... e respostas.
Este é talvez o Santo Graal do conhecimento: Se tudo está intrinsecamente interligado, como e quando a sua descodificação?
Se... foi o pressuposto.
O que a ciência aspira a quantificar, a religião enunciou há muito. Karma , o meu principio de vida e o meu Graal, há muito, e intuitivamente, formulou este principio.
Assim sendo, a questão que coloco é: E a imponderabilidade da condição humana? Se nos é intuitivo o conhecimento, como não interferir e alterar?
Uma última nota: A religião consegue a linguagem das massas, porque não um esforço da ciência no mesmo sentido? Depende de nós em última análise.
Um grande abraço com enorme respeito e um maior ainda prazer de o ter conhecido.
Gostei muito do seu blog. Parabéns.
Principalmente desse assunto que é polêmico pois nos tira algo que muito prezamos: o controle sobre nossas vidas.
Escrevi um artigo semelhante no meu blog: http://butequimvirtual.blogspot.com/2011/01/o-caos-o-acaso-e-o-destino-parte-1.html#more
Pensamos de maneira parecida.
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