“Como a fragrância que se espalha ao sabor de um movimento etéreo, o aroma incorpóreo dos seus pensamentos atravessava os golfos da distância, o espírito reivindicando a plenitude de tudo tocar, o seu intelecto exultando com o percebimento de outros numa imprevisível singularidade. Via com clareza aquilo que outros olhos viam, nenhum segredo se lhe ocultava, nenhum sabor lhe era estranho. E, contudo, ansiava descobrir, por entre a amplíssima mole, aquela que o complementaria, que daria sentido à invenção insuspeitamente exequível de conhecer sem ter de estar, de se dar a perceber sem desvendar a substância, a imaterialidade dos raciocínios exteriorizando-se bastamente e ainda assim tão bastamente falha de um diálogo ansiado numa premência muda. Era extensa, a agra semeada de perguntas, tão imensa quanto a safra de respostas que tinha armazenado cuidadosamente nos silos frescos da memória que ia sendo arquitectada… Num lugar absurdamente próximo e tão paradoxalmente remoto, uma mente debatia-se na impugnação da velha lei da humanidade, a determinação de se desagrilhoar aniquilando o derradeiro obstáculo, a libertação assentindo finalmente a unicidade, a fusão de dois entes predestinados erradicando decisivamente a sombra num flamejante encontro.”
V.A.D. em Telestesia
Vídeo: Destiny (Zero 7) (http://www.youtube.com/watch?v=ZncATpZre_w)
De
**** a 16 de Fevereiro de 2008 às 15:15
“o espírito reivindicando a plenitude de tudo tocar” – Acho que todos acabamos por ter esse desejo, se bem que os pensamentos de uns tenham um perfume mais perene e o de outros não consiga atravessar “golfos” tão integramente.
Poder usar essa capacidade de telestesia para perscrutar o “percebimento dos outros” é algo estranho e maravilhoso como tal. “Via com clareza aquilo que outros olhos viam, nenhum segredo se lhe ocultava, nenhum sabor lhe era estranho.” – contudo há imagens que desejaríamos nunca ter visto, segredos que preferiríamos que se mantivessem assim e sabores que nos amargam o palato. Saber sempre o que os outros pensam e sentem a cada instante (sem que o consigamos evitar) pode ser prático por vezes, mas toda essa fluência de informação deve tornar-se insuportável e dolorosa em certo ponto. Tem um tanto de dom e outro tanto de maldição, resta saber para que lado tenderia a balança.
"a fusão de dois entes predestinados erradicando decisivamente a sombra num flamejante encontro" - Como é frequente, o final dos textos é simplesmente fantástico. Numa metáfora gasta, insípida e desinteressante - é a cereja no topo do bolo, uma cereja que causa um impacto inexplicável, incontestável, inabalável nas papilas gustativas.
Beijos
Boa agra e melhor safra
Sophia 
De
V.A.D. a 16 de Fevereiro de 2008 às 22:09
Tenho numa das minhas estantes, aguardando a oportunidade de ser lida, uma pequena mas creio que fantástica obra de Curt Siodmak (a sinopse que tive oportunidade de ler assim o indicando), chamada "O terceiro ouvido". O livro aborda essa temática: um bioquímico desenvolve uma poção capaz de induzir a percepção extra-sensorial e, obviamente, serve-se dele mesmo como cobaia. Até conseguir fazer uma filtragem adequada do incomensurável ruído que lhe chega a essa espécie de novo sentido, vê-se sufocado por uma dose maciça de palavras, de imagens, de sons, a quantidade de informação ao seu dispor ameaçando-lhe a sanidade. Não sei de que forma o protagonista aprendeu a lidar com esta inusitada situação, mas suspeito que se tenha arrependido muitas vezes de a ter criado.
Ainda assim, amiga, imaginar a possibilidade de podermos libertar a nossa mente e fazê-la viajar para além dos limites físicos é algo que me apaixona. Neste texto, nem contemplei a hipótese de que ela se pudesse ressentir das experiências menos favoráveis pelas quais teria certamente de passar. O enfoque estava, sobretudo, nesse fabuloso êxtase que seria a fusão de duas mentes que se complementariam, atingindo aquela sensação de plenitude que talvez seja conhecida como felicidade absoluta... :-)
Não há verdadeiramente metáforas gastas e insípidas, e gosto particularmente de cerejas, ehehehehe :-))
Fico satisfeitíssimo por saber que consegui causar um impacto assim. Agradeço, uma vez mais, a tua saborosa amabilidade e aproveito para te desejar um óptimo final de sábado, bem como um domingo cheio de doçura!
Um beijo e um enormeeeeeee sorriso... :-)
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