“Desenleou-se das palavras, abdicou da fútil tentativa de se descrever, os caracteres inventados não chegando para verter no papel todo aquele pélago de emoções incontidas e vertiginosos pensamentos, as palavras parecendo cada vez mais exíguas, incapazes de encerrar as infinitudes deflagrantes de uma indómita e impetuosa mente. Ténues, a princípio, as ondas partiam do seu encéfalo, perturbando o falacioso isolamento de outros egos, insinuando-se disfarçadamente por entre sinapses, as dendrites reagindo, os axónios parecendo envergonhar-se perante a intrusão inesperada mas irresolutamente admitida. Viam-lhe, sentiam-lhe o âmago, sorviam-lhe a intrincada nitidez da essência, a transparência do seu ser entregando-se à intelecção, a clareza das suas ideias transformando o entendimento de quem intuía a sua presença. Tornou-se parte de um todo crescente, a consciência de quem era disseminando-se, harmoniosa, pelos raciocínios inventados de quem a acolhia. Aos outros eram abertas passagens para os lugares onde estava, imagens pintando cores, sons sendo escutados, os conhecimentos difundindo-se num fluxo inesgotável…”
V.A.D. em Telestesia
Vídeo: Porcelain (Moby) (http://www.youtube.com/watch?v=D1Fcaro25Ek)
De Ki a 14 de Fevereiro de 2008 às 09:57
Adoro esta música do Moby, para mim a mais bonita dele. QUanto ao texto eu poderia tê-lo escrito não fossem as palavras difíceis e a estrutura e estilo tão trabalhados.
Um beijo com carinho e um sorriso :)
De
V.A.D. a 15 de Fevereiro de 2008 às 02:32
Este é um daqueles fantásticos temas que me fazem arrepiar, numa extraordinária reacção psicossomática de difícil explicação...
Tenho lido a tua fabulosa escrita, e duvido que palavras difíceis ou construções frásicas mais elaboradas constituam impedimento de espécie alguma, face às capacidades que creio teres... :-)
Já vi, com imenso agrado, que a tua sabática paragem terminou... Já li, vou reler e comentar... :-)
Desejo-te uma magnífica noite, minha amiga!
Um beijo carinhoso e um enormeeee sorriso... :-)
De mnike30 a 14 de Fevereiro de 2008 às 22:26
Bem... só falta mesmo descreveres a sensação de corpo minúsculo para tamanho calor emocional... aquela que faz a energia do universo concentrar-se no peito que quase rebenta de emoção, aquela que flui pelo corpo tão velozmente quanto a lava de um vulcão...
Ufff esta tua telestesia é uma sinestesia de palavras que se teletransporta para lá da WWW...
Fica bem,
Beijinhos e boa continuação!
De
V.A.D. a 15 de Fevereiro de 2008 às 02:48
Essa sensação de êxtase, esmagadoramente incompreensível, essa "unidade absoluta do ser"...
É algo difícil de imaginar sem se sentir, dificílima de se traduzir, quase impossível de se apreender... É, como dizes, lava que brota, fervente, emoção crua, destino ardente, corpo despido, alma nua, um mundo mágico e diferente, líquido vertido, toque sentido, a suavidade da luz da lua... :-)
Desejo-te uma noite desagrilhoada, os pensamentos vogando. Que possas viver sonhando, seja a dormir, seja acordada...!
Um beijo e um enormeeeeeeee sorriso... :-)
De
Emanuela a 15 de Fevereiro de 2008 às 00:20
Para mim, um tema cheio de encantos, apesar da dificuldade de entendimento até pelos que o estudam.
Telepatia, telestesia, premonições...Quem nunca os terá sentido? Uns lhes dão atenção, outros os relegam ao mero "acaso". E como muito bem dizes no começo do teu texto, quem os sente, cansa-se de tentar explicá-los aos demais e normalmente cala-se.
Como sempre, um assunto interessantíssimo e muito bem retratado por ti.
Um beijo
e muitos sorrisos ( lol ).
De
V.A.D. a 15 de Fevereiro de 2008 às 03:03
Amiga, este meu exercício de escrita representa apenas uma modesta tentativa de ilustrar uma espécie de desejo secreto, a capacidade de libertar o intelecto dos grilhões do espaço-tempo sendo aqui representada como um sonho que, embora considere impossível, não deixa de me interessar. Estou certo de que grande parte dos fenómenos que referes terão uma explicação baseada nas leis universais. Poderia argumentar que a própria física quântica encerra paradoxos dificílimos de explicar, o "gato de Schrodinger" constituindo talvez o melhor exemplo do quão estranha pode ser a realidade, pelo menos quando estudada a certos níveis... :-)
Desejo-te uma noite muito, muito agradável!
Um beijo e um enormeeeeeeee sorriso... :-)
De
**** a 15 de Fevereiro de 2008 às 01:08
"os caracteres inventados não chegando para verter no papel todo aquele pélago de emoções incontidas e vertiginosos pensamentos" - sim, realmente as palavras nunca são suficientes para descrever algo, tangível ou não. Mesmo que tentemos descrever algo bem mais objectivo que as emoções - uma paisagem, por exemplo - falta-nos sempre algo mais para dizer, um cheiro que se insinuou de mansinho, uma sombra indelével no céu por entre as nuvens, uma sensação inexplicável que nos percorreu a espinha... realmente nunca são demais as palavras, aliás, nunca são suficientes.
São meras representações artificialmente criadas por nós na necessidade de comunicação, contudo, com engenho e arte, podem aproximar-se, podem ser "abertas passagens para os lugares onde estava, imagens pintando cores, sons sendo escutados, os conhecimentos difundindo-se "...
É uma das formas mais clara de abrirmos a nossa mente, o nosso ser, a nossa alma aos outros, nunca conseguiremos mostrar a sua totalidade - nem nós a vemos - mas, por vezes, mesmo esta parcialidade pode ser demais.
"os axónios parecendo envergonhar-se..." - a passagem soa especialmente bem 
Beijos,
e que nunca abdiques da tentativa de te descreveres, em ti não é fútil pois tens realmente geito
Sophia 
De
V.A.D. a 15 de Fevereiro de 2008 às 03:23
Acho, amiga, que é a própria intangibilidade das palavras que lhes limita a profundidade tão desejada. São veículos maravilhosos, capazes de nos transportar para mundos diversos, para lugares inventados, ou mesmo até aos abismos do intelecto mas, como muito bem referes, nunca serão suficientes. Simplesmente, há coisas que não podem ser descritas; a sua apreensão, mesmo que transitória, só é possível durante a vivência, a complexidade ou a subtileza do que nos é apresentado revelando uma amplidão de pormenores impossível de transcrever...
E, contudo, o que seria de nós sem as palavras...?! Não saberíamos das maravilhas, não nos deixaríamos extasiar pelas descrições de lugares ou sentimentos, víveríamos (ainda mais) isolados, num crepúsculo difuso feito apenas de instintos dissociados das emoções e da racionalidade...
Partilhamo-nos também pelas palavras, unimo-nos também pelas palavras... :-)
Agradecendo as tuas palavras, sempre amáveis, sempre enriquecedoras, desejo-te uma noite em que os teus pensamentos possam fluir, livres, através da imensidão do espaço-tempo!
Um beijo e um enormeeeeeeee sorriso... :-)
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