“O infernal calor desarranja-me, a secura de palha estival enche-me a boca, o sabor acerbo do fumo dificultando a respiração ofegante, o fulgor de dois sóis, altos no céu cerúleo, crestando a pele já tisnada. No meu espírito, ecoa um brado aflito e lancinante, o ego gritando que quer viver, que nada mais importa. Deixem que o mundo arda, desde que eu possa viver…! Reúnem-se energias onde a morte ronda, um empenho descomunal arrastando-me para longe da nave em chamas, o metal rasgado expondo as entranhas mecânicas num braseiro de plástico e metal arrevesado, o bafo malcheiroso do perigo materializando-se em volutas negras. Rastejo até encontrar a sombra de uma árvore, enquanto a ardência dos olhos inflamados confunde a vista. Rir-me-ia se as dores excruciantes não me toldassem a razão, a fractura exposta obrigando ao cerrar dos lábios, a perna latejando num martelar de tendões desfeitos e ossos rasgando a pele. Parece que ainda não foi desta que os insectos me apanharam…! Num derradeiro esforço, encosto-me ao tronco e ligo o emissor de emergência; talvez os impulsos de microondas sejam captados e tragam a salvação. Antes de desmaiar vêm-me à mente recordações tão difusas e longínquas quanto as imagens da Terra há tanto tempo trocada por uma guerra que é também da humanidade…”
V.A.D. em Insectos
Imagem: Fogo e Fumo (http://newsimg.bbc.co.uk/media/images/42000000/jpg/_42000732_fire_416.jpg)
De
JoãoSousa a 2 de Fevereiro de 2008 às 18:03
sem conseguir ajustar um comentario à altura, tive de deixar pelo menos a marca que estive aqui :)
De
V.A.D. a 3 de Fevereiro de 2008 às 00:05
Amigo, regozijo-me com as tuas visitas, e afirmo-te que os teus comentários estão sempre à altura!
Agradecendo as tuas palavras, aproveito para te desejar uma óptima noite e um excelente domingo.
Um abraço.
De
A Túlipa a 2 de Fevereiro de 2008 às 18:10
Que saudades não tinha já de toda a magia deste mundo de palavras...
'
De
V.A.D. a 3 de Fevereiro de 2008 às 00:17
Amiga, a tua amabilidade é que é mágica, assim como as tuas visitas... :-)
Começo, de forma titubeante, um novo conto que espero venha a agradar...
Aproveito para te desejar uma óptima noite e um excelente domingo!
Um beijo... :-)
De
Emanuela a 3 de Fevereiro de 2008 às 00:42
O conto promete. Não só pela cena inicial tão bem descrita, como , ainda mais forte que tudo, a vontade de viver do protagonista e a saudade do lar, que parece começar a emanar no final do texto.
Beijos.
De
V.A.D. a 3 de Fevereiro de 2008 às 01:12
Amiga, uma vez mais me aventuro pelo mundo da ficção científica, através de um conto que espero venha a ser interessante.
A vontade de viver, expressa através dos lancinantes gritos de um ego que não quer desistir, é algo de fascinante, que faz do ser humano único... E as raízes, que nunca se esquecem, parecem adquirir maior importância em momentos de aflição, quais âncoras às quais nos tentamos agarrar... :-)
Desejo-te uma óptima noite e um domingo maravilhoso!
Um beijo... :-)
De
**** a 4 de Fevereiro de 2008 às 18:52
"No meu espírito, ecoa um brado aflito e lancinante, o ego gritando que quer viver, que nada mais importa" - Um eco do qual muitas vezes nos esquecemos no rotineiro e sensaborão dia-a-dia e que, nos momentos de maior aflição, quando corpo e discernimento são levados ao extremo, deixamos soar descontroladamente.
É um tanto egoísta, algo animalesco, mas que revela uma vontade de viver, uma fúria, fascinante.
Beijos
e que essa guerra tenha um desenrolar mais airoso do que o da maioria das bélicas desventuras da humanidade
Sophia
De
V.A.D. a 5 de Fevereiro de 2008 às 01:47
A tudo o resto se sobrepõe o instinto de sobrevivência, empolado e subjugante, quando o cheiro do perigo se infiltra, insidioso, nos poros escancarados pelo medo... As glândulas supra-renais produzindo enormes quantidades de adrenalina, o organismo reagindo para escapar ao risco...
Concordo, amiga: tudo isto soa a animalesco e primário, mas a realidade é mesmo esta. Parte do sucesso das espécies está relacionado com uma faceta egoísta, inata, impressa nos próprios genes: a transmissão das características individuais às gerações futuras...
Espero conseguir fazer deste conto uma aventura interessante... :-) Agradecendo as tuas palavras, desejo-te uma excelente noite e um dia de carnaval cheio de diversão e alegria!
Um beijo... :-)
De
Pérola a 4 de Fevereiro de 2008 às 19:41
Amigo, dou-te os parabéns por esta imaginação e por esta capacidade de expressão.
Beijo muito grande.
De
V.A.D. a 5 de Fevereiro de 2008 às 01:52
Amiga, tento ir construindo algo que possa ser interessante, aos olhos de quem me lê... Agradeço a tua amabilidade, expressa nas palavras com que me brindas...
Desejo-te uma óptima noite e um dia de carnaval alegre e cheio de momentos agradáveis!
Um beijo enormeeeeeeeee... :-)
De Anónimo a 28 de Junho de 2010 às 14:57
"Deixem que o mundo arda,desde que eu possa viver".
Meu querido VAD, que posso eu dizer-lhe que já não saiba? Escreve bem, mas eu sou uma alienígena no seu espaço literário. Uma Abelha circunscrita à primitiva tarefa de responder às necessidades de uma pequena colmeia, uma espécie em vias de extinção.
Evitando que o meu pequeno mundo arda.
Beijinhos.
De VisitaFeminina a 7 de Julho de 2010 às 11:19
Sublime como descreve a guerra, a vida e a morte, a luta pela sobrevivencia e ao memso tempo a nossa pequenez como seres humanos.
Um abraço
VisitaFeminina
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