Domingo, 27 de Janeiro de 2008
Ele tinha medo das estrelas, sempre tivera medo delas. Eram a representação visual de tudo quanto era desconhecido e impossível de alcançar, a perturbante diegese da sua própria insignificância e a velada asseveração de que a humanidade teria ainda um longo caminho a percorrer até ser capaz de domar as distâncias incomensuráveis que a separavam de outros sistemas planetários onde talvez enxameassem descoincidentes formas de vida, quem sabe o silício sendo o elemento aglutinador da biopoese ou o carbono engendrando organismos donos de eminentes inteligências. E, contudo, olhava o céu nocturno com a desmesurada ânsia de se deixar ir na nave do pensamento, até a um daqueles bicos de alfinete, ardente e desinteressado de tudo, as reacções termonucleares inflexivelmente alheias a conjecturas de um simples adolescente criando, ao seu redor mas sobretudo no seu cerne, um Universo de invenção, alimentado pelas ilusões tão admiravelmente construídas nos livros de ficção científica em que se costumava perder, as horas parecendo minutos, o tempo chegando a parar no isolamento agorafóbico das bastas letras que o avassalavam. Nunca abdicou de se maravilhar com os enigmas de um Cosmos prolífico e, em muitos momentos claustrofóbicos, ainda se deixa distrair pela miríade de centelhas que povoam o firmamento…
Imagem: Estrelas (www.le.ac.uk/ph/faulkes/web/images/stars.jpg)
música: Kelly Watch The Stars (Air)
De
Lazy Cat a 27 de Janeiro de 2008 às 21:01
Apenas um beijo, de boa semana.
Eu tembém deixava que a nave do pensamento me levasse....
De
V.A.D. a 28 de Janeiro de 2008 às 01:35
A imaginação é poderosa e capaz de nos transportar através dos abismos escuros das planuras cósmicas. Ainda hoje a exercito, maravilhando-me com as incógnitas possibilidades oferecidas por um Universo ilimitado...
Também eu te quero desejar uma noite cheia de estrelas e uma magnífica semana!
Um beijo... :-)
De
Emanuela a 28 de Janeiro de 2008 às 01:52
É bonita a forma que tens de olhar o passado, tua adolescencia...Ler-te é sempre viajar por lugares diferentes, mas que consegues fazer parecer tão conhecidos. Deves ser uma pessoa muito querida no meio onde vives. Parabéns por seres desta forma.
Um beijo, e que a tua semana possa transcorrer com a serenidade que consegues me passar.
De
V.A.D. a 28 de Janeiro de 2008 às 02:16
Obrigado, amiga, pelas tuas palavras sempre gentis e carinhosas. Na verdade, não me posso queixar da vida; ainda que às vezes traga alguns obstáculos, ela sempre teve a amabilidade de sorrir para mim, dando-me a satisfação de os superar e a aptidão de aprender com eles.
Também desejo que a tua semana seja plena de serenidade e qua a tua noite decorra de forma muito, muito agradável!
Um beijo... :-)
De
**** a 28 de Janeiro de 2008 às 11:24
" a perturbante diegese da sua própria insignificância e a velada asseveração de que a humanidade teria ainda um longo caminho a percorrer ” – Concordo que as estrelas são a representação de tudo isto, aliás, as estrelas são a representação, dum insípido infinito. Nunca tive propriamente medo delas - não as encaro tanto com a perspectiva negativa de serem o desconhecido, mas como a reconfortante ideia de que, por mais que faça, por mais que procure, por mais que me esforce, haverá sempre algo a conhecer, algo que me fascine, algo que me distraia.
Sinto e tentarei sempre sentir uma “desmesurada ânsia de se deixar ir”, de partir para longe, de me envolver com elas. Enquanto essas conversas com a sua milenar existência não se passa realmente, fico a ler os teus texto que fazem voar pelo meio dos astros, sem ser necessária a nave dum maravilhoso livro de ficção científica.
Beijos
Um belo céu esta noite
e que nunca te deixes de "distrair pela miríade de centelhas que povoam o firmamento", se nos deixarmos de fascinar perdemos essa preciosa vivacidade
Sophia
De
V.A.D. a 29 de Janeiro de 2008 às 01:35
Olá Sofia :-) O medo é meramente figurativo, representando não só a consciência profunda de que sabemos tão pouco sobre as negras vastidões de um Cosmos ainda cheio de mistérios, mas também a noção de que a vida é curta demais para os desvendar.
E, apesar de tudo, continuo a maravilhar-me com viagens imaginadas que me levam até aos confins dessa permanente busca do saber e encanta-me perceber que há quem, tal como eu, se queira deixar levar pela nave do pensamento... :-)
Obrigado, amiga, pelas tuas palavras. Também eu desejo que te possas continuar a fascinar, quer com os enigmas, quer com a simples procura de respostas.
Um beijo de boa noite... :-)
De
alexiaa a 28 de Janeiro de 2008 às 16:33
Contemplação…quer das estrelas quer doutra coisa qualquer que nos faça viajar. O medo está muitas vezes presente mas no fundo é ele que também motiva para irmos mais além!
Outro beijo…desta feita menos sisudo e mais para o terno para condizer com o texto!
De
V.A.D. a 29 de Janeiro de 2008 às 01:42
Creio que todos precisamos de ter algo que nos faça divagar, a imaginação sendo exercitada através do pensamento à solta...
Concordo inteiramente com aquilo que afirmas sobre o medo; de facto ele também pode impulsionar em busca do desconhecido e não tem de representar uma retracção.
Desejo-te uma excelente noite!
Retribuo esse teu beijo e acrescento um sorriso... :-)
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