"Em sonos inquietos, na escuridão nocturna do quarto, falou em voz alta por diversas vezes, o delírio febril manifestando-se em palavras desconexas, os suores febricitantes encharcando-lhe o cabelo, o coração batendo violenta e desconformemente num surdo matraquear de aflição, o centro de controlo de temperatura do hipotálamo reagindo aos agentes pirógenos segregados pelas células numa resposta à agressão de minúsculos atacantes. A sua mente clamava por algo ou por alguém, estendendo-se, informe e sofrida, através de abismos hadeanos, os bafejos ardentes da pirexia calcinando a fina crosta da congruência num frenesi absurdo e desarmonizado, a agitação e os tremores fatigando até que a quietude estática do esgotamento se sobrepôs num definitivo sossego. A manhã chegou cedo, o sol refulgente entrando pela persiana entreaberta, iluminava metade da divisão, a suavidade morna da luz tirando-lhe a vontade de sair daquele estado letárgico. Por diversas vezes deixou-se escorregar para a tepidez do sono, até a luminosidade exercer sobre si a obrigatória instância do despertar. Entreabriu os olhos e deixou-se ficar imóvel por um momento, contemplando a alvura do tecto e a faixa de claridade que invadia a sua vida…"
V.A.D. em Febre
De
Emanuela a 27 de Janeiro de 2008 às 03:17
Espero que este texto tenha sido construído, como sempre, só a partir da imaginação e não de uma doença real. Se assim não for, desejo-te pronto restabelecimento do mal que te tenha acometido.
Um beijo , desejando que teu domingo possa ser alegre e cheio de saúde!
De
V.A.D. a 27 de Janeiro de 2008 às 03:42
De facto, amiga, o texto tem como base apenas as memórias desagradáveis de gripes passadas. Felizmente, nenhuma doença me perturba, mas não posso deixar de agradecer as tuas palavras, sempre carinhosas.
Também eu te desejo um domingo maravilhoso, cheio de alegria e bem-estar!
Um beijo... :-)
De
**** a 27 de Janeiro de 2008 às 15:09
A febre é algo que nos avisa que algo se passa de errado, que nos tira todas as forças para nos obrigar a descansar, que põe o organismo em alerta para ele activar todo o sistema imunológico. Se não existisse este mecanismo de alerta a nossa luta contra doença seria bastante dificultada.
Isso não faz, porém, que deixe de ser desagradável, frustrante, aflitivo, que nos deixe de arrasar enquanto a mente clama “por algo ou por alguém, estendendo-se, informe e sofrida".
O que, pelo contrário, é bastante agradável é o facto de conseguires até sobre este assunto escreveres textos envolventes.
Beijos,
E espero que não venhas a passar muitas noites assim e, mesmo que as tenhas, que as manhãs luminosas tas permitam esquecer
Sophia 
De
V.A.D. a 28 de Janeiro de 2008 às 01:31
A febre é um dos mecanismos de alerta do organismo, um sintoma de que algo não está bem no seio de um corpo que não é imune aos mais variados ataques.
Felizmente, amiga, têm sido raros os momentos em que ela se tem manifestado nestes últimos anos, mas sei que não estou a salvo dessa sensação de delirante desconforto, dessa exaustão desidratante de que ainda guardo algumas memórias. Foi, aliás, com base nessas recordações que escrevi o texto, nesta época propícia a gripes e constipações.
Creio que se pode escrever acerca de tudo, mesmo que certos temas possam parecer menos adequados à construção de uma escrita agradável...
Agradecendo as tuas palavras, também eu te desejo uma noite muito agradável, sem suores febricitantes, e alvoradas radiosas ao longo da semana que se inicia!
Um beijo... :-)
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