Domingo, 16 de Dezembro de 2007

Artefacto (IV)

A sonda automática havia sido enviada, centenas de anos atrás, para o terceiro planeta do sistema de uma estrela da classe G2V, na periferia da galáxia. Era esse Sol que agora ali estava nos ecrãs, imóvel e amarelo como um globo ocular de qualquer um dos tripulantes, aquentando o corpo ao sol das manhãs claras do planeta natal, num cerimonial que não mais era que uma reminiscência do comportamento ancestral da espécie. Tinham já deixado para trás o quinto planeta, gasoso e de enormes dimensões, o padrão de hidrogénio, hélio e amoníaco congelado convertendo-o numa imensa tela de cor alaranjada, desmanchando o breu do vazio cósmico. A rotação da atmosfera, variável em velocidade angular consoante a latitude, criava modelos circulatórios onde grupos de nuvens conflituosas se moviam em direcções opostas, empurradas por assombrosos ventos ciclónicos, criando vórtices descomunais que envergonhariam o maior dos furacões terrestres. Finíssimos anéis, feitos de incontáveis milhões de partículas de poeira, circundavam a estrela falhada como uma coroa iridescente, acrescentando ao espectáculo visual uma grandiosidade em relação à qual aqueles seres pareciam integralmente alheios. Piloto e navegador concentravam-se na análise de trajectórias, preparando com notória frieza a incrível desaceleração que os levaria à órbita terrestre, enquanto os restantes reviam maquinalmente os planos de acção…”

V.A.D. em Artefacto

Imagem: Anéis de Júpiter (www.geocities.com/mpennafort/Figuras/jupring.gif)
música: Jupiter, The Bringer Of Jollity (Holst - The Planets)

publicado por V.A.D. às 02:40
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14 comentários:
De **** a 16 de Dezembro de 2007 às 21:18
Só esse ou outros seres ainda mais estranhos poderiam ficar indiferentes a um espectáculo desses, não falo somente na cena que a descrição nos mostra mas também na descrição em si mesma.
Acho que acabei por embarcar de livre vontade numa viagem sem saber ao certo qual o destino ou tripulação... mas espero sabê-lo em breve.

Beijos e que chegues a bom termo,
sophia


De V.A.D. a 16 de Dezembro de 2007 às 23:29
Quando imaginei os seres que se dirigiriam para a Terra, precisei de lhes arranjar algumas características que os identificassem sumariamente. Nos répteis, a ausência de sistema límbico pressupõe a incapacidade de exprimirem emoções e é com base neste facto que os alienígenas são retratados.
A cena descrita corresponde a uma realidade cosmológica: Júpiter é assim mesmo, com ventos absurdamente velozes, com vórtices que são maiores que a Terra, com padrões atmosféricos que nos deixam abismados pelas portentosas energias necessárias à sua ocorrência.
Espero conseguir corresponder às expectativas, à medida que o conto vai sendo desenvolvido.
Agradecendo as tuas amáveis palavras, desejo-te uma óptima noite e uma excelente semana!

Um beijo... :-)


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