A In, no seu último post, teve a meritória ideia de transcrever um texto de Eduardo Prado Coelho, no qual ele faz uma brilhante dissertação, quer sobre o estado da nação, quer sobre a mentalidade dos portugueses. É um texto que realmente merece ser lido, e sobre o qual se deve fazer uma profunda reflexão. Não sendo meu hábito abordar assuntos relacionados com política, não deixo de ter uma opinião formada sobre estas questões e acrescentei, num exercício de escrita que às vezes me apetece desenvolver, inúmeras outras coisas sob a forma de comentário. Resolvi publicá-lo:
Pertenço a um país onde a classe política é composta, na sua maioria, por pessoas medíocres que, revelando-se incapazes de singrar no mundo do trabalho, usaram da esperteza para encontrar um tacho que lhes dá muito a troco de nada. Pertenço a um país onde algumas empresas, detentoras de um desequilibrado monopólio, se acham no direito de cobrar, por péssimos serviços, valores totalmente desadequados. Pertenço a um país onde, de facto, a luz e a água são bens demasiadamente caros. Pertenço a um país onde os peões se acham no direito de atravessar uma rua em qualquer parte, sem que sequer se dignem olhar. Pertenço a um país onde existem leis, nunca cumpridas, que determinam que só se deve iniciar a travessia de uma passadeira se não existirem veículos em aproximação a menos de vinte metros. Pertenço a um país onde as autoridades, em vez de praticarem uma política de sensibilização e dissuasão, se entregam descaradamente àquilo que é vulgarmente conhecido por caça à multa. Pertenço a um país onde se perdeu a cultura do trabalho e onde a formação profissional não passa de uma farsa. Pertenço a um país onde a maioria dos pais se demitiu da educação dos filhos e acha que a escola tudo tem de resolver. Pertenço a um país em que o governo privilegia o laxismo e cria estatutos absurdos, com o único e exclusivo fim de melhorar as estatísticas, ainda que para isso possa comprometer o futuro dos próprios jovens. Pertenço a um país em que se perdeu o respeito para com os idosos. Pertenço a um país onde o telelixo é o conteúdo preferido das salas de estar. Pertenço a um país onde os municípios e as empresas a eles agregadas não passam de uma enorme bolsa de emprego para os “boys”. Pertenço a um país onde quem trabalha tem de pagar impostos tantas vezes incomportáveis, sem que veja melhoria alguma nos serviços essenciais, nomeadamente a nível da saúde. Pertenço a um país onde os ex-vice-governadores e governadores do banco de Portugal têm a distinta lata de apregoar a necessidade de alterar o sistema de pensões, obrigando o comum dos mortais a trabalhar até morrer, quando cozinharam, na grande panelinha dos seus gabinetes, leis que lhes permitem o usufruto da reforma por inteiro ao fim de apenas seis anos de serviço. Pertenço a um país onde a banca, que nada produz, usufrui de benefícios fiscais com os quais as empresas que realmente criam riqueza nem sequer ousam sonhar. Pertenço a um país que, a continuar assim, verá um dia a esperança morrer…
V.A.D.
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