“Aproximávamo-nos do final da íngreme subida e as sombras agigantavam-se, à medida que o luzeiro descia para o horizonte, o arco da luz fechando-se sobre a terra, predizendo a negrura gélida da noite. A desolação branca era rasgada, a espaços, por penhascos enegrecidos e ameaçadores, o assobio do vento glacial a roçar na pedra contrastando com o mutismo generalizado que se havia assenhoreado da comitiva. Havíamos deixado para trás a floresta de coníferas, depois de esquartejarmos o imolado, sem que houvessem sido trocadas quaisquer palavras entre o Tatuado e o Cura, este último parecendo cada vez mais absorto em congeminações. Por fim, diante de nós, abriam-se as fauces da terra, a boca negra da Deusa, escancarada, aguardando as oferendas. Prostrámo-nos, numa genuflexão submissa, enquanto as palavras rituais eram cantadas numa cadência arrebatadora:
Oh, Deusa-Mãe sagrada
Lutámos contra neve e vento
Aqui te trazemos alimento
Que sorria, a tua face irada
No fim desta dura jornada
Rogamos-te pelo sustento
Submetemo-nos à tua vontade
Rastejando perante a grandeza
Faz do nosso fardo, leveza
Suplicamos a tua bondade
Dá-nos um gesto de caridade
Alivia-nos a dor e a tristeza
Faz do frio, temperança
Faz da neve, água pura
Suaviza esta vida dura
Faz da tempestade, bonança
Faz da desilusão, esperança
Dá-nos para os males, a cura
Por alguns instantes, senti-me em comunhão plena com a Natureza, o fervor da reza amenizando a severidade de um mundo repleto de misteriosos e intrincados caprichos. Mas, no fundo, havia já em mim a convicção de que é ao Homem que compete a escolha do caminho…”
V.A.D. em Otztal
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