Uma gargalhada irracional flutuou pela sala. A própria luz, que até então entrava pela pequena ventana em raios de um branco imaculado, pareceu tornar-se vermelho-acinzentada, o sangue enfermo da insanidade inquinando-lhe o percebimento, a cinza da degradação corrompendo o ar. O mundo transformou-se, pairando numa quietação que não era exactamente silêncio. A respiração, arquejante e desregrada, silvando como um réptil encurralado e o coração, ressoando em batidas alvoroçadas, preenchiam o estrépito do sossego. Sentia uma brisa tórrida e pútrida a gelar-lhe a cara, os membros e o corpo; um perfume de violetas amarelas entranhava-se-lhe nas narinas, recordação endemoninhada de um outro tempo, nunca vivido, nem sequer sonhado. Alfinetes duros e pontiagudos quebravam-se, a cada toque, na pele desnuda de um corpo que teimava em ser de um outro alguém que não ele, um formigueiro hiperestésico que lhe empanava os resquícios da razão. Sentiu-se desfalecer numa maré de energia que o alagava em golfões de suor. Acordou, trémulo e debilitado, deitado numa enxerga da ala de psiquiatria do velho hospital, os sedativos roubando-lhe o Universo por onde às vezes viajava…
Vídeo: Insanity (Supuration) (www.youtube.com/watch?v=6l8Q7xtO5gI)
De
A Túlipa a 24 de Novembro de 2007 às 21:03
Não serão os outros os loucos? Será ele o verdadeiro insano?
De
V.A.D. a 24 de Novembro de 2007 às 23:18
Essas, minha amiga, são perguntas para as quais creio não existirem respostas definitivas... Aprendemos a olhar com uma certa desconfiança para tudo o que foge à norma; talvez por isso a loucura seja tão inquietante para quem se considera são de espírito...
Desejo-te um fim de semana pleno de momentos agradavelmente... normais! :-)
Um beijo... :-)
De
Emanuela a 25 de Novembro de 2007 às 01:57
Insanidade? Ou possessão. Porque nestes casos a ciência pode não ter respostas, mas a religião sim? Porque a ciência não cura, mas a religião expulsa?Casos comprovados? Não sei. Ninguém me explicou!
Beijos!
De
V.A.D. a 25 de Novembro de 2007 às 03:52
Amiga, sabes que sempre procuro as respostas na ciência, e nunca na religião. Embora reconheça que existem inúmeros casos de difícil explicação, a neurologia tem feito enormes progressos no entendimento de fenómenos comportamentais que dantes eram atribuídos ao paranormal... Nunca saberemos a verdade por inteiro, mas prefiro buscá-la onde ela me parece ser mais racional...
Votos de um excelente domingo!
Um beijo... :-)
De
Fisga a 25 de Novembro de 2007 às 10:54
Não será nada fácil encarnar a/o personagem de um condenado às Catacumbas, mas encarnar a/o personagem de um encarcerado nas masmorras de um hospital psiquiátrico não será mais fácil. É que este Ainda pode ser perigoso. Este de quem se fala
já acabou, mas antes de acabar estava vivo. Parabéns.
De
V.A.D. a 25 de Novembro de 2007 às 21:40
Obrigado, amigo. De facto, não sendo muito fácil colocar-me na pele de alguém com distúrbios tão fora do comum, acabei por usar a imaginação para construir este texto. Fico satisfeito por ter sido do seu agrado.
Votos de um óptimo final de domingo!
Um abraço.
De
Lazy Cat a 25 de Novembro de 2007 às 11:54
sedativos...que lhe toldam o raciocinio e a visão e que permitem a um mundo intero chamar louco a alguém qu enãosendo igual não é diferente e não sendo igualnão tem porque ser doente.....
De
V.A.D. a 25 de Novembro de 2007 às 21:59
Há diversos graus de loucura: aquele que aqui tentei retratar é mesmo um distúrbio neurológico, algo que foge à norma e que, infelizmente, tem de ser classificado como doença...
Contudo, "mais loucos são aqueles que não lhe concedem (à loucura) qualquer espaço na sua vida..." (V.A.D.)
Desejo-te um magnífico final de domingo e uma excelente semana!
Um beijo... :-)
De ______ a 25 de Novembro de 2007 às 19:23
Loucos perdidos em labirintos, somos todos loucos mas saudavelmente loucos, creio que uns se perdem na loucura e não encontram o caminho de volta, outros não enlouquecem mas baixam os braços e deixam de lutar, já perderama coragem para se reerguerem de novo e permanecem no fundo do poço com rasgos de lucidez por entre o clarear das águas.
A Loucura pode ser um bem estar na ilusão de um mundo criado.
Beijos, excelente domingo e boa semana : )
De
V.A.D. a 25 de Novembro de 2007 às 22:07
A própria sanidade só é possível se a nossa existência for temperada com doses adequadas daquilo a que chamas "saudável loucura".
Gostei imenso da forma como fizeste a análise de certos comportamentos. Acrescento: "...permanecem no fundo do poço", numa pasmaceira acéfala...
Desejo-te um óptimo final de domingo e uma excelente semana!
Um beijo... :-)
axo q tds devemos ser loucos. a loucura é saudável...
De
V.A.D. a 9 de Dezembro de 2007 às 01:27
A loucura sã é fundamental para o nosso equilíbrio enquanto seres multifacetados, feitos de racionalidade e emotividade. A não existir, o sabor da vida não pode ser devidamente apreciado... :-)
Um beijo... :-)
axo q n tnh sido louca o suficiente...
De
V.A.D. a 10 de Dezembro de 2007 às 02:30
Saberás dosear a loucura... Sei que às vezes isso não é fácil; existe sempre o receio de excessos, mas esse receio é sinal de maturidade.
Desejo-te uma óptima noite e uma excelente semana, com loucura q.b.! :-)
Um beijo... :-)
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