“Em alguns momentos de insólito destempero, tenho a impressão de, na presença de outros, não existir de todo. Olho à minha volta e congemino que ninguém, absolutamente ninguém, me está a prestar atenção. Os olhares alheados, fixos num infinito de quiméricos e falaciosos horizontes, parecem permear-me como se o meu corpo fosse feito do mais transparente e incolor cristal, deixando-me siderado pela insegurança de não ser. Decidem não me perceber como tangível; interrogo-me sobre a minha irrealizável invisibilidade e estremeço. Cai-se-me a compostura, imagino-me feito de esfumada fantasia, um mero desvario de uma mente desconchavada. Perco-me de mim, arrastado pelo caótico delírio de ter rasgado, amarrotado e deitado fora, o invólucro que é o corpo onde não caibo. E depois, a angústia. A aflição de apanhar do chão os pedaços dispersos pelo vento e reconstruir a arrevesada exterioridade. A urgência de me reunir à roupagem, para que o conteúdo encontre o formato. O receio de que o espírito soçobre, se se ausentar do organismo. A certeza de que só sou se for uno…”
V.A.D. em Algures.
Imagem: Intangível (www.paasonen.com/media/0000000518.jpg)
Todos me vêem
a seus olhos
roupagens diferentes
Mas...
Quem me vê
simplesmente transparente?
Quem me vê
pedindo socorro?
Quem me vê
o desejo estampado no rosto?
Quem me vê
balançando insegura?
Quem me vê????
Por vezes é assim, sinto que "na presença de outros, não existir de todo"...
Um Beijo...
Teres
De
V.A.D. a 6 de Novembro de 2007 às 01:47
Estou consciente de que todos sofremos, a espaços, as terríveis dores da insegurança... Sei que, nessas alturas, tendemos a envergar uma roupagem que oculte a transparência que devíamos poder sempre exibir... Contudo, estou em crer que nenhum deserto é inultrapassável... :-)
Desejo-lhe uma noite muito, muito agradável!
Um beijo...
De
Emanuela a 6 de Novembro de 2007 às 01:53
O que é o nosso corpo,meu amigo? Só uma ilusão! Acredito ser esta a única certeza: um dia o corpo vira pó. Inda assim ( creio nisto) o espírito permanecerá. É bom ter esta fé, mesmo que seja como dizem: "um salto no escuro".
Beijos, e o desejo de que estejas "inteiro" por muito tempo.
De
V.A.D. a 6 de Novembro de 2007 às 02:14
Sabes que, sendo ateu, não acredito que o espírito possa sobreviver à morte do corpo. Podia dizer que gostaria de acreditar, mas estaria a mentir. Satisfaço-me com a certeza de que a vida pode ser aproveitada de uma forma rica e bonita.
No entanto, o meu respeito pela religiosidade de cada um sobrepõe-se a tudo, e por isso te digo que fico contente por teres fé. Talvez consigas ver a existência com uma esperança diferente, uma vez que crês que ela não se esgota num período curto e finito: é para toda a eternidade...
Desejo-te uma noite muito, muito agradável!
Um beijo... :-)
De Sónia a 6 de Novembro de 2007 às 10:55
Gostei do post. tens uma maneira engraçada de escrever sobre temas pouco comuns. bjs.
De
V.A.D. a 7 de Novembro de 2007 às 00:12
Muito obrigado! Tento fugir aos temas rotineiros, para que este espaço não se torne (ainda mais) chato... :-)
Votos de uma óptima noite!
Um beijo... :-)
às x sinto-me tão assim... já sei pq é q tnh saudds de ler-te. pq me identifico e pq escreves bem. bj
De
V.A.D. a 10 de Novembro de 2007 às 02:00
Creio que, uma vez por outra, todos nos sentimos assim... Desligados de nós mesmos, a nossa mente separada do resto...
Rapidamente, essa impressão desvanece-se, e voltamos a ser unos...
Desejo-te um óptimo fim-de-semana!
Um beijo... :-)
De
dhyana a 15 de Novembro de 2007 às 16:32
O Ponto
Mínimo sou,
Mas quando ao Nada empresto
A minha elementar realidade,
O Nada é só o resto.
Reinaldo Ferreira.
De
V.A.D. a 16 de Novembro de 2007 às 02:10
Fiquei maravilhado com a forma, simples mas imensamente profunda, como um simples ponto é descrito. É verdade que sou um ponto, mas também é certo que a outros pontos me uno, para que o somatório seja uma infinita linha recta, desvanecendo o Nada em Coisa Definida...!
Desejo-te uma noite cheia de Tudo!
Um beijo... :-)
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