“Penosamente, peguei nos pedaços desfeitos da minha congruência e juntei-os com extremo cuidado. A espuma e a lâmina de barbear encarregaram-se de sonegar as provas; a água, negra de sonhos lúcidos, sumiu-se pelo ralo abaixo. Rodopiando, levou consigo parte do meu cepticismo. Nesse dia, quis dormir até à exaustão.
Assisti ao gotejar das águas na clepsidra do tempo, as horas passando por mim como luzes vertiginosas, os anos sucedendo-se bonançosos, percebidos com a cadência própria de quem já viveu metade da vida. Sabia, de forma pertinente, que aquele episódio não passara de uma ilusão, que nada daquilo que sentira e experimentara havia sido real. E, no entanto, vívida e incisiva como um gume afiado, a esquizóide e obsessiva impressão de aquilo tinha sido mais do que uma simples manifestação de uma raridade neurofisiológica, teimava em atormentar-me. Tinha sido oneironauta por uma noite: a hiper-realidade, estranha e enganosa, apossara-se de mim, arrastando-me por lugares horríveis e fazendo-me refém de mim mesmo. Ah…! Nunca mais levei os dedos à nuca!”
V.A.D. em Os Outros.
Imagem: Sonho Lúcido (http://sprott.physics.wisc.edu/fractals/collect/2005/Lucid_Dream.jpg)
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