“Venho do nada. Provavelmente sou a vaga materialização de um devaneio de alguém, um mero átomo, indistinto e intangível, no vasto universo da existência. No entanto, creio ser capaz de pensar: finas e quase imperceptíveis estruturas electroquímicas parecem ser erguidas no âmago do meu cérebro – talvez ele próprio um delírio ilusório – para serem arrasadas e de imediato substituídas por outras, numa contínua e incessante renovação. Não passo de um evanescente e descolorido ponto numa descomunal tela, pintada ao longo de incomensuráveis éons; os meus gritos são tão inaudíveis quão fúteis aparentam ser os meus actos. E, apesar disso, não deixo de agir, nem retenho as palavras que me parecem ter de ser ditas. Vejo-me enclausurado num vazio destituído de qualquer sentido. Contudo, suponho sentir e pareço ter a aptidão de me emocionar.
Retornarei ao nada e serei esquecido, quando os profundos golfos do tempo absorverem as résteas da memória e os ecos da minha presença se esbaterem. Irei despido de tudo, até de espírito. Cessarei de existir… Mas, enquanto isso não suceder, estarei por aqui, fantasia ou realidade, sonho ou vigília…”
V.A.D. em Algures.
Imagem: Vazio (http://files.v2.nl/portal/lab/projects/void/void_01.jpg)
De
In a 5 de Outubro de 2007 às 19:53
O homem reduzido à sua real dimensão. Acredito que tudo seria mais simples se todos tivessem a noção disso...
Adorei o texto, a sensibilidade no sentir...
Um beijo...
De
V.A.D. a 5 de Outubro de 2007 às 21:33
Sempre tentei evitar, a todo o custo, dar-me a importância que sei não ter. Sendo certo que temos o nosso papel no Universo, não faz sentido pensarmos que tudo gira em torno de nós, quando a realidade é bem distinta.
Obrigado pelas palavras... :-)
Continuação de um óptimo fim-de-semana!
Um beijo...
De
Emanuela a 7 de Outubro de 2007 às 02:14
Pensamento humilde, e ao mesmo tempo grandioso. Mostrando , como sempre, o pensamento de uma pessoa maravilhosa e positiva. Tuas palavras são contagiantes. É sempre uma grande satisfação ler as belas coisas que escreves, aprender com o que compartilhas!
Beijos.
De
V.A.D. a 7 de Outubro de 2007 às 21:19
A grandiosidade e a magnificência do Universo onde existo tornam-me humilde... Tento imprimir isso nas palavras que escrevo, sem contudo deixar de aceitar que há um lugarzinho, nos vastos oceanos espácio-temporais , onde o "eu" é importante... :-)
Agradeço as tuas palavras; sabes que a satisfação é recíproca!
Votos de um óptimo final de domingo.
Um beijo... :-)
De
Fisga a 7 de Outubro de 2007 às 23:07
Assim é que é falar:resistir, resistir, resistir, ou não fosse aesperança a ultima a morrer.Parabéns pela imaginação fertil bem demonstrativa de que ainda falta muito para o fim. um abraço, mais uma vês parabéns.
De
V.A.D. a 8 de Outubro de 2007 às 01:41
Obrigado! Espero que, de facto, ainda falte muito para o fim: conto só ter ainda passado por menos de metade da vida, eheheheh .
Votos de uma noite sem insónias!
Um abraço.
De
dhyana a 10 de Outubro de 2007 às 12:33
"Nada de perde, tudo se transforma"
De
V.A.D. a 11 de Outubro de 2007 às 01:27
Sabes... Quanto a mim, a lei de Lavoisier tem uma “brecha”: a morte representa mesmo a perda da identidade, pois não acredito na sobrevivência do espírito.
Embora no texto divague sobre esse facto, a cessação da existência não me preocupa. Aquilo que pretendo transmitir é a noção de que, sendo pouco mais que nada, não deixo de ser eu... Um ser que pensa e sente, capaz de meditar sobre estas questões, sem ter a certeza de conseguir encontrar respostas...
O meu carinho por ti não se perde, transforma-se num BEIJO! Ehehehehe :-)
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