“A ferocidade do animal encheu-me de medo. Fiquei paralisado, sem saber sequer o que pensar, e todos os músculos do meu corpo se retesaram, accionados instintivamente pela parte mais profunda e antiga do meu cérebro. A sua aparição inesperada atordoou-me e imediatamente recuei no tempo, até à minha meninice. O subconsciente é atemporal: nele não há uma fronteira bem delimitada entre o passado e o presente. Vi-me, pequeno e indefeso, no pátio da minha vizinha; senti ali o terror e a dor excruciante da mordedura daquele enorme cão de pelagem negra, os dentes aguçados a enterrarem-se-me na carne, o puxão a dilacerar os tecidos, os olhos malévolos da besta a fitarem-me, o sangue a jorrar em grandes golfadas, a perna hirta e seriamente lesada… Há coisas que deixam marcas, quer físicas, quer psicológicas e, embora o corpo possa recuperar, a mente guarda-as a um canto, prontas para nos atormentar e encher de suores frios. Lutei para retomar as rédeas dos meus pensamentos; não me podia deixar apanhar daquela forma, sem que pelo menos tentasse resistir ou fugir…”
V.A.D. em Algures.
Imagem: Pantera Negra (original em www.cedargrove.k12.nj.us/cghssports/cghssoccer/black%20panther.jpg)
De
In a 2 de Outubro de 2007 às 02:15
A nossa mente guarda sempre tudo, embora às vezes nos queiramos convencer que não...
Um beijo...
De
V.A.D. a 2 de Outubro de 2007 às 02:32
Subscrevo...! E, mais interessante, certas coisas ficam guardadas durante tanto tempo e não diminuem de intensidade: episódio do cão é autobiográfico, e acredite que ainda hoje tremo quando me vem à memória. Desapareceram as sequelas físicas; ficaram profundamente gravadas, as marcas psicológicas...
Votos de uma excelente noite!
Um beijo...
De
Emanuela a 2 de Outubro de 2007 às 03:05
Contra as marcas que o nosso consciente conhece há uma possibilidade maior de cura. Mas creio ser pior, as dores que estão presentes em nós (sub) ainda do ventre materno... Como chegar até elas e curá-las?
Um beijo , desejando que nenhuma fera assombre teus sonhos!
De
V.A.D. a 3 de Outubro de 2007 às 01:43
Não tenho resposta para a tua questão. Aliás, nem nunca havia pensado em tal coisa...
Creio que os bebés em gestação também podem sofrer... Mas estão isolados, quase por completo, dos perigos exteriores, e se a progenitora for cuidadosa pouco terão a temer.
Quanto a certas marcas psicológicas, sei que podem ser atenuadas, mas nunca serão esquecidas...
Que a tua noite seja isenta de temores!
Um beijo... :-)
Ainda hoje tenho pavor real a cães... Talvez o meu grande e único medo, medo mesmo. Vitima, sem marcas, de um ataque canino. Por isso, quando ao longe me apercebo de um vulto canino, atravesso a estrada para não me cruzar com ele e sou literalmente gozada pelas minhas pequenas de "medricas"...
Um beijo
Teres
De
V.A.D. a 3 de Outubro de 2007 às 01:49
Há coisas que, por muito que queiramos, não podemos deixar de sentir. Certos episódios deixam mesmo marcas, e muito acentuadas! E, por muito que sejamos chamados de medricas, o nosso pavor não deixa de ser bem real...
Desejo-lhe uma noite serena e sem fobias de espécie alguma! :-)
Um beijo...
De
dhyana a 2 de Outubro de 2007 às 12:27
A nossa mente é a nossa pior e melhor armadilha.
Há que saber usá-la e acalmá-la qd necessário.
Mas uma coisa é certa, diante de uma fera dessas, fujo primeiro e acalmo a mente depois, eh,eh!
Beijos...
De
V.A.D. a 3 de Outubro de 2007 às 01:51
Os mecanismos ancestrais do medo são extraordinários: certos episódios intensos, especialmente os que são vividos na infância, são como uma micro fissura no reservatório de experiências que é a nossa mente. Às vezes, sob tensão, o reservatório rebenta, tornando difícil o controlo. É preciso um treino aturado para que se consiga conter a fuga... :-)
Espero que a tua noite seja isenta de feras temíveis!
Um beijo...
Pior do que as marcas físicas são aquelas que marcam a nossa alma e condicionam a nossa vida e que muitas vezes não chegam a desaparecer Só depende de nós tentar viver com elas dando-lhe sempre um entendimento construtivo e positivo . Eu pelo menos tento...
Um beijo
De
V.A.D. a 3 de Outubro de 2007 às 01:52
Concordo inteiramente consigo: devemos fazer os possíveis para não vivermos sob o jugo de certas fobias, pois sabemos que só servem para nos atrapalhar. Há coisas que, não sendo esquecidas, podem ser atenuadas.
Votos de uma magnífica noite.
Um beijo... :-)
De
Fisga a 4 de Outubro de 2007 às 10:25
PARABÉNS PELA HISTÓRIA: POIS ESTÁ MUITO HORRIPILANTE. PODIA MUITO BEM TER SIDO UM SONHO, A ESTRAGAR UMA BOA NOITE DE SONO E QUEM SABE ATÉ UM BOM DIA REGABOFE. MAIS UMA VÊS PARABÉMS. PELA HISTÓRIA NO SEU TODO. UM ABRAÇO. E MUITAS AVENTURAS. DE POR CABELOS EM PÉ.
De
V.A.D. a 5 de Outubro de 2007 às 01:39
Agradeço as suas palavras e a sua visita. Creio que um encontro com uma fera assim seria ainda mais terrível que o confronto inesperado que tive com o cão, há muitos anos atrás...
Bom fim-de-semana!
Um abraço.
De
Fisga a 7 de Outubro de 2007 às 18:32
Agradeço e retribuo calculo o medo que deve causar um bicharoco desses.
um abraço e um bom sucesso futuro.
De
V.A.D. a 7 de Outubro de 2007 às 21:03
É um medo que deixa marcas, de tal forma que a elas se dá o nome de fobias... Enfim, com o passar do tempo, essas recordações perdem intensidade, e cabe a nós contornar esses medos...
Um abraço.
Comentar post