Segunda-feira, 23 de Julho de 2007

“O velho louco apareceu na aldeia, ao cair da tarde. Arrojava os pés pelo chão, fazendo dançar a poeira, e os cães ladravam à sua volta, enquanto avançava mecanicamente. Carregava nas costas todos os seus pertences, encafuados numa velha e esburacada saca de serapilheira, segura pela mão sã. Vergado pelo peso dos anos, com o braço doente inerte e a cabeça descaída, ia proferindo palavras sem nexo, entrecortadas por uma tosse tísica e violenta. Um sorriso demente perpassava a espaços os seus lábios cinzentos, meio escondidos pela barba rala e amarelecida pelo tempo, e a insanidade estava presente no olhar esbugalhado e penetrante que lançava aos miúdos que se metiam com ele. A sua presença já não era vista com desconfiança; há muito que as gentes daquela aldeia perdida na província sabiam que ele era inofensivo. Perdera a razão ainda jovem, quando um acidente o deixara às portas da morte, e desde que saíra do hospital não mais tinha deixado de vaguear, talvez em busca do futuro brilhante que o abandonara…”
V.A.D. em Algures.
Imagem: Velho (Original não alterado em: www.hulubei.net/tudor/photography/photos/O/l/Old-Man-1-500x750.jpg)
música: Hurt (Johnny Cash)
Boa noite meu amigo V.A.D.
Na verdade vim aqui rápido pra lhe desejar uma semana produtiva, mas vir aqui é mesmo "embasbacante"...
È impossível sair de mãos vazias.
E o pior: dá mesmo vontade de levar tudo de uma vez...
Mas vou me conter e levar apenas mais um dos seus fantásticos posts...
Um grande abraço meu amigo.
E como eu vim dizer: tenha uma ótima semana!
De
V.A.D. a 24 de Julho de 2007 às 01:27
Boa noite, amigo Óscar. É sempre um prazer ler as suas gentis palavras, que agradeço.
Sinto-me orgulhoso por ver algumas das coisas que escrevo publicadas no seu blog.
Formulando também o desejo de que a sua semana seja magnífica, deixo-lhe um grande abraço!
De
dhyana a 23 de Julho de 2007 às 16:10
Velhice.
É o penúltimo degrau na estrada da sabedoria.
Beijos...
De
V.A.D. a 24 de Julho de 2007 às 01:31
A experiência acumulada durante uma vida inteira tem um valor inestimável. Pena é que os velhos sejam tão ignorados nas sociedades ocidentais.
Pobres daqueles a quem a velhice traz também a demência. Enchem-me de pena, e não deixo de sentir um certo medo daquilo que poderei encontrar dentro de algumas décadas... Se lá chegar, claro... :-)
Votos de uma excelente noite.
Beijos...
Ao ler este texto velhas recordações assolaram a minha memória e recordei uma senhora, a quem chamavamos "Maria das sacas". Nos sacos, e eram muitos, carregava uma vida inteira, percorrendo ruas e ruelas da minha infância.
Adorei o texto...
Teres
De
V.A.D. a 24 de Julho de 2007 às 01:41
Duas figuras da minha infância serviram de inspiração a este texto. Um dos velhos ainda é vivo, e frequentemente deambula pelas ruas da aldeia onde nasci, em busca do sonho perdido, transmutado num copo de vinho... Continua a proferir palavras que só ele entende e a rir de coisas que só ele escuta...
Obrigado!
Um beijo...
De Dafne a 24 de Julho de 2007 às 00:38
Nós, seres humanos, ficamos muitas vezes á merce de um destino que de forma alguma escolhemos. E quem poderia explicar o porque? Minha mãe sempre falava:"O homem propõe e Deus dispõe". Será?Um abraço!
De
V.A.D. a 24 de Julho de 2007 às 01:51
O destino às vezes pode parecer cruel... Mas quem sabe o que vai na mente do velho do meu texto? Terá ele noção do que é a infelicidade? Haverá ódio e desespero, inveja e crueldade naquela simplicidade demente? Não há certezas nem explicações definitivas para muitos dos caminhos tortuosos que o destino leva um indivíduo a percorrer...
Votos de uma magnífica noite!
Um beijo...
De Dafne a 15 de Outubro de 2009 às 19:11
Ele, talvez, esteja feliz em seu pequeno mundo... Mas, e os que o amam? Não sofrem por ele uma perda em vida? Quando a mente se fecha , não deixando que o sentimento dos que nos amam seja capaz de alcançar-nos, poderão não sofrer? Saber que existe, mas que tornou-se intocável, vivendo num mundo completamente alheio, distante de todos... Imagino que deve ser bem difícil!
(Ps: Como não há novas publicações, teus leitores se veem obrigados a reler as antigas...)
Grande abraço
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