“Estava ali na Mese, a artéria principal de Constantinopla, a mais esplêndida cidade do mundo. Se não tivesse entrado para os magistrianoi, provavelmente nunca teria posto os pés na capital do império. Uma procissão de padres descia a rua vinda de oeste, direita à grande catedral de Hagia Sofia. Alguns erguiam velas e outros cruzes de madeira, enquanto um mostrava a imagem de um santo. Argyros benzeu-se piedosamente quando ouviu o hino que eles cantavam e sorriu. Mesmo que tudo o mais não o conseguisse fazer, esse hino recordar-lhe-ia o que se festejava nesse dia. Ainda que Maomé tivesse morrido havia quase setecentos anos, os seus versos religiosos continuavam a comover os bons cristãos.”
Excerto de Agente de Bizâncio, de Harry Turtledove, historiador e escritor norte-americano.
Têm havido muitas ocasiões em que o destino da humanidade parece ter estado suspenso de um único acontecimento. Que teria acontecido se Roosevelt não tivesse assinado, num sábado, a directiva que pôs em marcha o que viria a ser conhecido como Projecto Manhattan? Ter-se-ia a Alemanha antecipado na construção da bomba atómica? Teríamos hoje o idioma germânico como língua oficial? Nesta fabulosa obra, estamos perante um outro “se” da História. Que aconteceria se a tentativa de Justiniano de restabelecer o Império não tivesse falhado? E se o Império Bizantino pudesse ter detido os Zoroastrianos persas e se o Islão não tivesse surgido para destruir estes e enfraquecer inapelavelmente aquele? Teria Bizâncio podido sustentar a cultura greco-romana, intacta e completa para o futuro…?
Imagem: Hagia Sofia (www.export.nrw.de/export/hagia_sofia.jpg)
De
baixinho a 22 de Julho de 2007 às 06:43
Li este livro na pequenita colecção Argonauta... livros facilmente olhados de lado não só por serem de FC mas também por serem de bolso... será que existe também discriminação nos livros?
De
V.A.D. a 22 de Julho de 2007 às 21:38
Não tenho a menor dúvida de que a FC é um género mal-amado. Não lhe tem sido feita justiça, mas também sei que nem todos podemos gostar das mesmas coisas. Em relação a livros, pouco me importo com a apresentação; afinal compro-os para os ler, não para servirem de enfeite... E de facto a questão que coloca é deveras pertinente: é bem possível que haja descriminação.
Um abraço!
De
Emanuela a 22 de Julho de 2007 às 22:05
Acredito que não só no destino do humanidade, mas no destino de cada ser humano em particular, há sempre as influências, além da sua própria vontade.É claro que sempre há dois ou mais caminhos e da decisão de alguém, surgirão os novos. E não há como se prever a reação que será desfechada, porque nossa inteligência não consegue ir tão além. Então seguimos sempre decidindo pelo que julgamos o melhor aos nossos olhos, mas a teia pode ser bem mais complexa do que imaginamos... Um post fantástico, que me levou a pesquisar, e assim ampliar meu olhar acerca de vários temas. Um beijinho!
De
V.A.D. a 22 de Julho de 2007 às 22:41
Todos somos influenciados por aquilo que nos rodeia; não somos ilhas isoladas no meio do oceano da sociedade. Confrontamo-nos com situações imprevistas, temos de contornar obstáculos e somos forçados a tomar decisões. A isso há quem chame "livre arbítrio", mas é certo que somos condicionados por diversos factores, na escolha do caminho que seguimos, que pode não ser o melhor mas que, como disseste, nos parece o mais adequado.
O próprio acaso parece ter tido um papel interessante em certas decisões que moldaram a História. No caso que referi, a assinatura da directiva foi feita no sábado, 6 de Dezembro de 1941. E domingo, dia 7, foi o dia de Pearl Harbour... Se Roosevelt tivesse adiado aquela decisão, quem sabe o que teria acontecido? A directiva podia simplesmente ter sido esquecida e toda a História teria tido, desde então, um percurso bem diferente...
Creio que estas análises podem ser feitas em relação ao passado, mas o futuro é tão incerto que não nos devemos preocupar em demasia com ele... :-)
Votos de uma noite magnífica!
Um beijo... :-)
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