Segunda-feira, 4 de Junho de 2007

Algures (continuação)

“As saudades revolvem-me as entranhas, num nostálgico e permanente desassossego. Fecho os olhos e deixo que os meus pensamentos voem até à aldeiazinha onde cresci, tão longe no espaço e no tempo, e contudo tão disponível quando a invoco para me trazer de volta a serenidade de que tanto necessito. As memórias desses despreocupados anos da minha juventude transportam-me à velha eira da minha avó e trazem com elas o cheiro inigualável da palha de trigo, seca e dourada, em que nos deitávamos para observar as estrelas e sonhar com viagens fabulosas através do negro oceano cósmico. Parece-me, ainda agora, vislumbrar a etérea dança dos pirilampos, nessas noites quentes de verão, inundadas de sons de grilos e rouxinóis, e pontilhadas pelo ocasional piar de um mocho. Recordo-me daquelas manhãs luminosas, refrescadas pela brisa estival que quase sempre soprava de noroeste e que a meio da manhã cessava, para dar lugar à canícula. Não há nada que substitua as nossas raízes. As coisas eternas devem ser eternamente reafirmadas…”

V.A.D., em Algures.

Imagem: Planeta Alienígena (www.nasa.gov/images/content/119556main_image_feature_359_ys_4.jpg)

música: Luz Vaga (Mesa & Rui Reininho)

publicado por V.A.D. às 01:00
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12 comentários:
De Emanuela a 4 de Junho de 2007 às 02:32
"Ninguém foge às marcas do seu próprio lar..." É impressionante como as imagens do lugar onde vivemos nossa primeira infância se tornam fortes no nosso ser. Com as imagens, escondidas no fundo da memória, nos vem os cheiros, os sabores e todas as outras agradáveis( ou dolorosas) sensações. No meu caso, é para onde também sempre me volto se estou triste. Tu traduzes muito bem os sentimentos. Um abraço!


De V.A.D. a 5 de Junho de 2007 às 01:00
Felizmente, as memórias da minha infância são muito agradáveis, e servem-me muitas vezes para purificar alguns estados de alma. Neste caso, usei-as para sentir; só sentindo se consegue dar conteúdo às palavras.
Votos de uma excelsa noite.

Um abraço!


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