Quinta-feira, 31 de Maio de 2007

Mudança

“Só a mudança permanece”

(Heráclito de Éfeso)

Tudo nasce, cresce, envelhece, degenera e morre. E mesmo que haja um novo nascimento, uma nova vida, também isto é variação, e o que surge de novo seguirá o mesmo interminável ciclo. A mudança não é exclusiva dos seres vivos; está em toda a parte. Erguendo-se com lenta majestade, e desgastando-se por uma erosão ainda mais lenta, grão após grão, cume após cume, as montanhas nascem e morrem. A crosta terrestre está em movimento, quase imperceptível, mas constante: uma maciça placa tectónica afasta-se de outra para formar um novo oceano, e nesse trânsito colide com outra ainda, enrugando-se na forma de uma nova cadeia montanhosa. Sob a superfície, correntes de convecção magmáticas, lentas mas poderosas, são os agentes deste eterno movimento, que divide continentes, para mais tarde os juntar, ao ritmo de uma pulsação longa de muitos milhões de anos. Mais abaixo, no núcleo de ferro líquido, há redemoinhos que geram o campo magnético da Terra, o qual cresce de intensidade, só para mais tarde enfraquecer, morrer e renascer com polaridade invertida, brincando com bússolas e com pombos, e deixando desorientadas as pobres borboletas. A natureza parece insegura e desconfortável, para nós, seres humanos, que buscamos a permanência sob as asas do eterno e do imutável.

Imagem: Lava (www.pbs.org/wgbh/nova/volcano/images/anat_lava.jpg)

música: Rollin' and Tumblin' (Bob Dylan)

publicado por V.A.D. às 02:40
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5 comentários:
De In a 31 de Maio de 2007 às 04:40
Insegura e desconfortável, sem dúvida...
A força e a beleza da natureza "esmagam-me"...


De V.A.D. a 1 de Junho de 2007 às 01:04
Só quem é insensível escapa a essa sensação de pequenez que nos é infundida quando somos confrontados com a magnitude das forças e das belezas naturais... :-)

Um abraço!


De dhyana a 31 de Maio de 2007 às 13:44
Heráclito, inserido dentro do contexto pré-socrático, parte do princípio de que tudo é movimento, e que nada pode permanecer estático. "Panta rhei", sua "máxima", significa "tudo flui", "tudo se move", exceto o próprio movimento. Ele exemplifica, dizendo que não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, porque, ao entrarmos pela segunda vez, não serão as mesmas águas que estarão lá, e a pessoa mesma já será diferente (de fato, a Biologia veio a descobrir muito mais tarde que nossas células estão em constante renovação, e isso é uma mudança).
Os teus temas, fazem-me sempre pensar.
Obrigada.
Beijos...


De V.A.D. a 1 de Junho de 2007 às 01:10
Tantas ideias filosóficas, postas de lado durante séculos, vieram a revelar-se acertadas... Tantos ensinamentos menosprezados são nos dias de hoje revalidados...
Eu é que te agradeço... :-)

Beijos...


De mudanças a 24 de Agosto de 2009 às 16:41
muito bom o blog e suas ideias..


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