Sexta-feira, 19 de Outubro de 2007

Neblina

A neblina da sonolência vai-se adensando e quanto mais me esforço por escrever algo que possa parecer coerente, mais difícil se torna o encadeamento dos pensamentos erráticos e dispersos. Pouco a pouco, os sentidos deixam de estar alerta e vejo-me cada vez mais a escutar a música suave e soporífera que escolhi para companhia. O cigarro vai ardendo no cinzeiro, as volutas criando padrões incertos, vórtices simultaneamente caóticos e de finos recortes. Os olhos teimam em fechar-se e o dia foi longo… Apago o cigarro e vou dormir. Talvez sonhar…

música: Angel (Diana Krall)

publicado por V.A.D. às 03:24
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Quinta-feira, 18 de Outubro de 2007

Paradoxo

“Sinto pressa de um futuro que teima em não chegar, arredio e sonhado. Tenho vislumbres de mim mesmo, desenleado das futilidades que me aperreiam, liberto de limites auto-impostos, capaz de sorver cada simples momento como se fosse o último sentir. Vivo conforme posso viver, enredado nas cordas urdidas de nós, os movimentos cerceados e os pensamentos desprendidos, a terra dura sob os pés nus e a leveza de dias ditosos pairando na mente. Preciso de mundos dissemelhantes, quero repelir-me dos abismos pasmatórios que me sugam a vontade e me encarceram na apatia das horas iguais. Conto as batidas do coração, relógio do meu ser, aguardando esse ápice impreciso que provavelmente não ocorrerá. Ou talvez esse instante esteja sempre a acontecer e, sem que disso me dê conta, o desperdice constantemente. Sinto pressa de não me apressar…”

V.A.D. em Algures.

Imagem: Ponte

música: Mundos Mudos (Da Weasel)

publicado por V.A.D. às 02:40
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Quarta-feira, 17 de Outubro de 2007

Edifício

Vejo-me como um edifício em contínua construção, redesenhado a cada momento, edificado com os tijolos das experiências vividas, rebocado com os conhecimentos que vou adquirindo, pintado com as cores variadas das emoções. A minha mente é a parte mais elevada da casa, o sótão onde guardo velhas mobílias, sobre as quais me empoleiro para olhar a janela do futuro. Fundações de alguma solidez e um terreno firme garantem, aparentemente, a estabilidade almejada. Sismos e furacões, cheias e canículas racham paredes e arrancam telhas, descoloram a tinta fina de areia que cobre a minha sanidade. Os trabalhos nunca estarão completos… Das amplas e arejadas varandas, contemplo infindáveis planícies de descoberta, promessas de inovação e maravilha. Na cave, soturna de mim, cheira ao mofo das contrariedades; sombras fantasmagóricas revolteiam-se nas paredes húmidas de desalento.  Um dia, o edifício ruirá e, sobre os restos decrépitos daquilo que foi outrora uma estrutura impossível, sobre os escombros dispersos pela terra molhada, nascerão as ervas daninhas da indiferença. Mas, por enquanto, ainda há andaimes…

Imagem: Edifício

música: Building A Mystery (Sarah Mclachlan)

publicado por V.A.D. às 02:54
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Terça-feira, 16 de Outubro de 2007

Deambulações

Pé ante pé, deambulo pelos recantos fulgentes do meu ser, encontrando a cada passo um velho sentir, renovado de tão esquecido, a adolescência perdida agigantando-se diante de mim, irreverente e saudavelmente louca, desengonçada e ruidosa como uma dança caótica. Despojo-me de preconceitos e exulto com o brilho das luzes, panorama mirabolante de mil tons, combinação auspiciosa e infinita de cores. A cada expressão, nasce um orbe de tumultuosas emoções, surpreendentemente aconchegantes e arrebatadas, borbulhantes e enérgicas, mas também suaves como o aveludado crepúsculo dos dias estivais. A cada olhar, cresce a ilimitada certeza de que a existência é uma promissora sucessão de alvoradas, cada uma desigual de todas as outras, cada uma plena de acasos e rotinas, cada uma trazendo aquela antecipação saborosa do que pode acontecer. A cada passo, é levantada uma poeira fina e luzente de ouro… Sim, porque neste edifício que sou eu mesmo, não há só plúmbeas teias de aranha…

Imagem: Brilho (http://images.astronet.ru/pubd/2006/06/20/0001214544/leoregulus_croman.jpg)

música: Hold Still (David Fonseca & Ana Rita)

publicado por V.A.D. às 03:10
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Segunda-feira, 15 de Outubro de 2007

Naufrágio (II)

Inacção. Quero exilar-me num lugar vazio de pensamentos, onde possa encontrar o letargo total de mim mesmo, onde as incertezas do futuro sejam enterradas sob os escombros poeirentos do esquecimento. Afundo-me, uma vez mais, num estúpido sono que desejo permanente… Acordo, subitamente alertado por algo que sei instintivamente não ser normal e abro os olhos. Confusão. Reajo com desagrado à luz forte que incide sobre a minha face e, num acto reflexo, viro-a para o lado, enquanto volto a fechar as pálpebras. A ardência de mil agulhas a espetarem-se-me na mente desvanece-se de imediato mas, com o regresso da consciência, é substituída por algo muito mais profundo e dilacerante. Sei-me perdido nos áridos vórtices do espaço-tempo e vejo-me sufocado na minha excessiva solidão. Que raio será aquela luz? Estarei a delirar, ou a meio de algum sonho que, de tão promissor, se faz torturante? Decisão. Enfrento o intenso fulgor, comparável ao do sol; os párpados semi-cerrados, num trejeito grotesco, evitam a cegueira. Através da ampla escotilha, distingo a fonte daquele enorme caudal de fotões, encastoada numa estrutura negra e imensa, estranhamente familiar de tão obviamente artificial…”

V.A.D. em Naufrágio.

Imagem: Feixe Luminoso (original em http://www.dansdata.com/images/xlights/beam280.jpg)

música: Strangers In The Night (Frank Sinatra)

publicado por V.A.D. às 01:39
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Domingo, 14 de Outubro de 2007

Melhores Momentos Virtuais

A Melissa Yedda e a Maluca Responsável muito gentilmente consideraram que este meu blog merece ser certificado como um espaço que está entre os melhores momentos virtuais. Sentindo-e honrado, é com enorme satisfação e não menor gratidão que aceito a distinção. 

Cabe-me agora a tarefa de escolher e nomear alguns dos espaços que visito regularmente e que, por diversos motivos, me deixam preso à escrita.

 

- Dhyana – Porque nas palavras que escreve existem emoções, porque os textos têm uma beleza e uma força que não nos podem deixar indiferentes.

- Emanuela – Porque a sensibilidade, patente em cada palavra e em cada parágrafo, é capaz de comover intensamente.

- Lazy Cat – Porque a poesia parece fluir com uma incrível naturalidade, carregada de emocionantes melodias. Cada linha é um mundo para descobrir e apreciar.

- Teresworld – Porque nos apresenta um mundo de poesia e um universo de prosa, ambos cheios de sensíveis e maravilhosas nuances.

música: Mythodea - Movement 1 (Vangelis)

publicado por V.A.D. às 02:53
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Sábado, 13 de Outubro de 2007

Naufrágio (I)

Constatação. Olho à minha volta, e vejo o infinito em todas as direcções. Ou talvez a infinitude seja uma mera ilusão. Não tenho a certeza, ninguém a tem. Poderá algo finito ser ilimitado? Naufraguei a meio das planuras cósmicas, e nem a clareza das ideias sobreviveu ao violento abalo. Não há botes salva-vidas, nem foguetes tonitruantes. Vejo-me só, destituído de confiança, infecto de negros temores, a racionalidade cedendo lentamente, vergando-se ao imensurável peso dos inóspitos parsecs, inanes e gélidos como só o vácuo dos abismos pode ser. Perturbação. Maldita coisa, esta que me aconteceu! Apetece-me chorar de raiva, mas não sei contra quem me rebelar. Palavras espumadas e vociferadas escorrem da minha boca como fel sulfuroso e corrosivo, enquanto a fúria que me queima por dentro é descarregada nas paredes daquela ilha minúscula e derivante. Resignação. Devagarinho, as energias esvaem-se e uma letargia pardacenta e fosca apossa-se das fibras vacilantes de mim. Nada vale a pena; nem a violenta vontade de destruir o último refúgio. Não há ânimo nem forças. Imobilizo-me e fecho os olhos, incapaz de suportar a visão do nada, penetrando a janela de plexiglass. Solução. Dormi um sono isento de imagens e de sons. Vivo aquela calma agoirenta e silenciosa dos condenados. Nada me resta, a não ser esperar calmamente o fim, preenchendo o vazio conforme puder…”

V.A.D. em Naufrágio.

Imagem: Preenchendo o Vazio (www.authorsden.com/adstorage/13724/void.jpg)

música: Enjoy The Silence (Depeche Mode)

publicado por V.A.D. às 03:21
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Sexta-feira, 12 de Outubro de 2007

Desfile

Impávido, assistia a certa distância àquele desfile serpenteante e rocambolesco, tempestuoso e caótico, cheio de sons, cores e cheiros, feito de personagens envergando lustrosos trajes ou despidas de tudo. Peles de todas as cores, ou não estivessem as emoções à flor da pele. Rostos de todos os feitios, manifestando alegria ou tristeza, ódio ou amor, uns alheados, como que indiferentes a tudo, outros ostentando a falsa firmeza de quem pretende conhecer uma estranha coreografia em constante alteração. Corpos frágeis e engelhados, vergados sob o peso de indizíveis adversidades, arrastavam-se num esforço sobre-humano, fazendo por manter a compostura, enquanto bobos espalhafatosos cabriolavam como loucos, sacudidos por risos espasmódicos e delirantes. Havia quem dançasse, havia quem mantivesse um passo firme. Via-me em muitos dos trejeitos daquelas figuras tão familiares. Também eu vinha da noite dos tempos, também os alicerces do meu ser assentavam sobre mil milhões de anos, minúsculo pedaço de uma eternidade que nem todas as mentes juntas conseguem abarcar. Embora tivesse parado para o observar, também eu era parte do cortejo da vida…

Imagem: Desfile

(original:http://www1.istockphoto.com/file_thumbview_approve/3016604/2/istockphoto_3016604_crowded_street.jpg)

música: That's Life (Frank Sinatra)

publicado por V.A.D. às 03:08
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Quinta-feira, 11 de Outubro de 2007

Imagens

… Deixei-me envolver pelos sons e as imagens ocuparam a minha mente como um exército benigno, ávido de território, arrasando o mal-estar e destruindo os últimos focos de cansaço. O dia havia sido longo e desgastante, feito de incontáveis e penosos minutos, as diminutas e insignificantes dificuldades parecendo tomar proporções desacertadamente grandes. O percurso sinuoso do regresso a casa fora feito mecanicamente; cada curva teimando em aumentar a incómoda e persistente moinha que me revirava os miolos desde cedo pela manhã. Antes do jantar, o duche morno lavara-me de preocupações e acalmara o latejar das frontes. De início, tinha-me obrigado a engolir a comida, mas no decorrer da refeição o apetite regressou, talvez espicaçado pela agradável conversa, regada com um Quinta da Bacalhoa. As uvas da sobremesa souberam-me a mel e o cheiro intenso do café, acabado de fazer, fez-me regressar àquele lugar aconchegante da satisfação. Completadas as rotineiras tarefas, senti o apelo do sofá. A noite prometia, mas porque não começá-la com a descontracção de uma música suave e de uns momentos de leitura? Escolhi o cd e o livro e...

Imagens: As Que Se Formam Na Mente Quando Se lê Algo De Interessante

música: Le Fabuleux Destin D'Amèlie Poulain (O.S.T.)

publicado por V.A.D. às 03:14
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Quarta-feira, 10 de Outubro de 2007

Verdade Absoluta

Debruçado sobre o muro de betão, à beira da falésia sobranceira àquela praia das minhas meditações, o sol aquece-me a pele e o vento quente brinca com os meus cabelos, enquanto observo as ondas grandes e enrugadas, as cristas de uma centena de azuis, indo do luzente azul do céu ao daquele escuro quase preto da esplêndida meia-noite. A espuma, esbranquiçada de sal, redemoinha de modo complexo e intrincado, deixando perceber a despretensiosa complexidade da Natureza. A minha missão é compreender o processo. Fecho os olhos, conto até três e tenho a ilusão de ter dado um passo significativo na direcção da verdade. Não, não é desta forma elementar que me irei acercar dela. Antes de tudo, preciso de definir o conceito. Uns dir-me-iam que é um conjunto de pressupostos irrefutáveis, contra os quais nem o mais sólido argumento vale alguma coisa. Outros afirmariam que tal coisa não existe. As verdades são, na sua maioria, subjectivas, meras representações de algo mais profundo e sólido, imagens distorcidas daquilo que é íntegro e inabalável. Tento, sem resultados significativos, visualizar mentalmente as ténues forças geradoras daqueles padrões aleatórios. É absolutamente verdade que os vejo. Deveria ser suficiente, mas tenho a sensação de que a missão nunca está cumprida…

Imagem: Ondas (http://www.atpm.com/7.02/mobius/images/waves.jpg)

música: Blowing In The Wind (Bob Dylan)

publicado por V.A.D. às 02:51
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