Se, numa noite límpida, olharmos para uma determinada direcção do espaço, para os lados da constelação de Sagitário, estaremos a olhar para uma região onde se ocultam os escombros monumentais de enormes quantidades de matéria que desmoronou sobre si própria, até se transformar num objecto extraordinário, diferente de tudo o resto que existe no céu. Escondido pelas poeiras e pelas moléculas interestelares, o centro da Via Láctea tem cerca de cinco anos-luz de diâmetro. É um agrupamento monumental de cerca de cinco milhões de estrelas e nele se abriga um desses raros corpos celestes: um buraco negro. Nestes objectos que desafiam a nossa imaginação, a velocidade de escape, função da gravidade, é tão elevada para lá do horizonte de eventos, que nem as partículas de luz conseguem escapar. No coração da galáxia vive um tenebroso e insaciável monstro devorador de matéria…
Imagem: Buraco Negro (Concepção Artística) (www.seedmagazine.com/news/uploads/BlackHole.jpg)
Governos e religiões sempre usaram condicionamentos operantes para conseguir que as pessoas ajam e morram por uma causa. Mesmo que a causa seja justa, qualquer condicionamento é iníquo. É preocupante que os resultados dependam tanto do espectro moral de quem formula as contingências. Não suporto reis-filósofos da república, nem falsos santos, opulentos e hipócritas. Detesto a forma como a informação é manipulada e assusto-me com o assentimento acéfalo. A propaganda é uma arma, mas a inteligência devia bastar para que se evitasse o logro…
Imagem: Propaganda (www.signs-of-the-times.org/image/image/501/medium/hitler_propaganda.jpg)
Estamos tão acostumados ao facto de os nossos sonhos serem acompanhados de imagens visuais que é difícil imaginá-los de outra maneira. Mas, e os cegos? Com que sonharão eles? Os relatos na primeira pessoa indicam que a capacidade de sonhar não depende da capacidade de ver, ou mesmo de ter visto algum dia. Sonham da mesma maneira que percebem o mundo, através de sons, de texturas, de cheiros e de paladares. Produzem-se sensações idênticas às dos sonhos visuais e os pesadelos são igualmente perturbadores. Os que não são cegos de nascença parecem ser capazes de se lembrar do sentido perdido e o seu cérebro introduz nos sonhos imagens inventadas, embora baseadas em pessoas ou paisagens já vistas. Os sonhos não são assim uma simples tradução nocturna daquilo que vemos. Eles são criações da mente de quem dorme, reciclando impressões registadas pelos sentidos disponíveis e formando, por vezes, uma narrativa tão, tão coerente…!
Imagem: Sonho
Uma bactéria é um organismo modestíssimo: é uma só célula. Já forma, porém, uma associação de grandes moléculas cujo ciclo vital envolve perto de mil reacções químicas diferentes. O corpo humano, por sua vez, tem uma complexidade incrível: é formado por dezenas de grandes órgãos, cujas tarefas são realizadas por dezenas de milhares de substâncias diferentes. Ao nível das moléculas, as funções vitais revelam um extraordinário engenho. Há as que se engastam nas membranas celulares, deixando de fora apenas uma parte dos seus milhares de átomos; dependendo de factores químicos, da forma e da distribuição das cargas eléctricas, elas reconhecem um por um os milhares de substâncias que entram em contacto com a célula. Algumas, diante de certos compostos, alteram-se e deixam entrar ou sair os suprimentos necessários e os produtos resultantes da actividade orgânica. Outras identificam e coordenam moléculas mensageiras, que regem o metabolismo. Não admira que tenhamos dificuldade em compreender o que se passa no interior dos organismos vivos…
Imagem: Leucócito (http://library.thinkquest.org/3564/cell751.gif)
“Produziu-se instantaneamente um relâmpago de luz, de calor, de cor, de volume, de sentido de forma e de orientação. Centenas de outras explosões sensoriais, difíceis de imaginar e impossíveis de explicar, acompanharam aquele momento. Uma poderosa vaga de emoções submergiu por completo o terreno firme da racionalidade. Ritmadamente, novas ondas, réplicas daquele maremoto mental e somático, continuaram a fustigar o corpo com intensidade decrescente, até que uma aveludada dormência sobreveio…”
V.A.D. em Algures.
Façamos uma breve consideração sobre o sistema límbico. Antigamente, pensava-se que esta área do cérebro relacionava-se exclusivamente com o sentido do olfacto; hoje, porém, sabe-se que ela está na base dos impulsos da alegria, da raiva, do sexo e da fome. Mal nos começámos a dar conta da extensão e da subtileza com que as nossas emoções, controladas pelo sistema límbico, permeiam cada aspecto do nosso comportamento. Não é de excluir a hipótese que os estados alterados de consciência sejam provocados por uma interacção perfeitamente sincronizada entre este sistema e o lóbulo parietal inferior do cérebro direito. Em situações assim, quando este hemisfério revela à consciência certas percepções transcendentes, o despertar emocional é tão intenso que o cérebro esquerdo acaba por se convencer que elas têm validade, originando-se uma sensação de total comunhão entre o Eu e o Cosmos, aquilo que é chamado de Unidade Absoluta do Ser…
Imagem: Sistema Límbico (www.geocities.com/alexeiplatypus/sistema_limbico_icon.jpg)
As imagens desenhadas por aquele homem, naquela praia perdida na noite dos tempos, depressa foram esbatidas pelas ondas da maré-cheia, que varreram a areia mas não a ideia. Espantosa, a forma como uma visão viria a crescer lenta mas seguramente, a ponto de refazer a concepção que os humanos tinham do mundo. Aquele homem havia inventado a escrita. Como os nossos ancestrais perceberam, esta nova forma de expressão podia conter muito mais informação do que a simples memória, com uma precisão nunca antes alcançada. Ela podia conduzir os pensamentos muito além dos meros sons, podia fazê-los chegar a pontos distantes e podia, inclusivamente, perpetuá-los. Pensamentos profundos, nascidos numa única mente, podiam ser espalhados como poeira num dia ventoso e sobreviver à sucessão infindável dos dias. As estórias seriam agora melhor preservadas e a História tinha acabado de nascer…
Imagem: Escrita Pictográfica Hitita (www.proel.org/alfabetos/picthiti.html)
Há muitos milhares de anos, um homem sentado numa praia olhava a vastidão do oceano, mergulhado em pensamentos e conjecturas. Subitamente ergueu-se, dirigiu-se à beira de água para recolher um pequeno pau trazido pela maré e começou com ele a mexer na areia que estava a seus pés. Guiou-o com todo o cuidado por curvas e rectas e, olhando o que tinha feito, sentiu uma suave satisfação a iluminar-lhe o rosto. Outros homens repararam naquele indivíduo desenhando na areia. Olharam para as figuras que ele traçara e, embora todos reconhecessem de imediato as formas familiares de peixes, pássaros e árvores, levaram algum tempo a entender o que o homem pretendera dizer ao criar aquelas formas. Mas, assim que perceberam o que o outro fizera, sorriram de satisfação. Aquele pequeno grupo de humanos não fazia ideia das dimensões da revolução que estava a começar…
Imagem: Símbolo (http://www-static.shell.com/static/br-pt/images/shellsolar/solar_areia.jpg)
“Deslizavam em silêncio através da semi-escuridão, os rostos inumanos parcialmente ocultos, tornando-os ainda mais sinistros. A espaços paravam; gritos roucos e lancinantes eram emitidos pelas suas gargantas, rasgando a quietude tensa que se abatia sobre a multidão. As negras vestes alienígenas coladas aos corpos esguios e disformes, os braços longos e rígidos a terminarem em grotescas manápulas, faziam daquele cortejo uma visão de pesadelo e enregelavam a alma, muito para além daquilo que se julgaria possível. Pareciam alheios a tudo, deslocados do seu próprio mundo, indiferentes e austeros, como se uma espécie de demência disciplinadora os tivesse infectado. Baixei o rosto, não tanto em sinal de respeito, mas sobretudo para aliviar a carga emocional que sempre me sufocava quando os via. Se um dia quisesse representar os meus medos, seria assim que os desenharia…”
V.A.D. em Algures.
Imagem: Medos (http://artfiles.art.com/images/-/Rabi-Khan/Fears-not-Encountered-Giclee-Print-C10224641.jpeg)
“Dourado. Tudo era de um amarelo-dourado. Flutuei na luz ténue, consciente mas alheado de tudo, excepto da cor. O líquido começou a escoar-se no tanque, mas eu continuei a flutuar. Um choque fez-me sentir dezasseis fontes de agonia, na forma de minúsculas agulhas; os meus braços e pernas moveram-se em convulsões, mas o meu coração não começou a bater. E, depois, uma sensação bem conhecida: dera uma pancada com um dos joelhos. Mais um choque, e o coração bateu. Estava vivo e preferia morrer a aguentar outro choque. Inspirei e fui sacudido por uma tosse terrível. Bati com a cabeça na borda do tanque, apalpei o inchaço com as mãos frias e, quando olhei para elas, estavam tingidas de sangue. Parte dele tinha escorrido para o olho esquerdo, manchando o dourado de vermelho. A tampa do tanque saltou com um assobio húmido de vedantes de borracha. (…) Os sentidos começaram a despertar e deram-me a conhecer que estava enjoado. (…) Tentei ver o quarto com nitidez, pisquei os olhos, limpei o sangue…”
Excerto de Ofiúco, de John Varley. Autor norte-americano de ficção científica, Varley é muitas vezes comparado a Robert Heilein, quer pelas semelhanças do estilo de escrita, quer pela forma como as sociedades são construídas nas suas obras. Neste espectacular romance, podemos antever a possibilidade da múltipla existência e da quase eternidade, conseguidas através da clonagem e da transferência da memória.
Imagem: Asclépio (www.anestesia.com.mx/articulo/asclep3.gif)
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