Terça-feira, 31 de Julho de 2007

Perguntas

O físico inglês Michael Faraday recebeu, um dia, a visita da rainha Vitória. Ela estava curiosa por saber que utilidade tinham as pesquisas do cientista, cujas descobertas incluíam os princípios básicos da electricidade e do magnetismo, então de aplicação prática, no mínimo, pouco evidente. Faraday respondeu com outra pergunta: Madame, replicou, e qual é a utilidade de um bebé? Quase dois séculos depois, a rainha teria ficado admirada, ao descobrir um mundo povoado por telemóveis, televisores, hidroeléctricas, computadores… Resultantes, em última análise, do génio de Faraday. Durante este intervalo de tempo, ganhámos uma consciência muito mais aguda da importância da ciência e da necessidade da sua divulgação. Para acompanhar o ritmo do desenvolvimento científico, a quantidade de publicações dedicadas a este campo cresceu aceleradamente nos últimos anos. Mas, constato também um incremento assustador no número de revistas e de livros virados para as falsas ciências, e assumo que isto reflecte um interesse crescente por esses temas. Não deixo de me preocupar com este facto: precisaremos de retornar ao obscurantismo? Não será o verdadeiro conhecimento suficientemente empolgante?

Imagem: Lâmpada (http://webac.ci.uminho.pt/nefum/enef06/Imagens/Lampada.jpg)

música: The Scientist (Coldplay)

publicado por V.A.D. às 02:29
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Segunda-feira, 30 de Julho de 2007

Optimismo

“Metade dos passageiros enfraquecidos expirava das angústias inconcebíveis que o balanço de um barco causa aos nervos o outras partes do corpo agitadas em sentidos contrários, e nem sequer tinha forças para se inquietar com o perigo. A outra metade gritava e rezava. As velas batiam, rasgadas, os mastros estalavam e partiam-se, o barco metia água por todos os lados; trabalhava quem podia, ninguém se entendia e ninguém comandava. (…) O caridoso Jacques corre em socorro de um homem em perigo, ajuda-o a subir, e desses trabalhos resulta-lhe cair ao mar mesmo à vista do marinheiro, que o deixa morrer sem sequer o olhar. Cândido aproxima-se, vê reaparecer o seu benfeitor, e vê-o depois sumir-se para sempre. Quer deitar-se à água atrás dele, mas o filósofo Pangloss segura-o, provando-lhe que o porto de Lisboa tinha sido feito expressamente para nele se afogar esse anabaptista.”

Excerto de Cândido, ou o Optimismo, de Voltaire. Poeta, ensaísta, dramaturgo, filósofo e historiador iluminista francês, nascido em 1694, Voltaire foi um crítico severo de um mundo vivido entre as contradições do optimismo e do pessimismo, do bem e do mal, e atacou com veemência todos os abusos de poder. Esta obra é uma sátira que se ergue contra o fanatismo, a intolerância, a ignorância e a injustiça, males que infelizmente continuam a grassar nos nossos dias.

Imagem: Voltaire (www.ocidente.eu/img/voltaire2.jpg)


publicado por V.A.D. às 00:01
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Domingo, 29 de Julho de 2007

Parar

“Não parar para pensar na vida é como percorrer de olhos vendados um belo caminho.”

 V.A.D. em Algures.

música: Stop (Jamelia)

publicado por V.A.D. às 23:41
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Sábado, 28 de Julho de 2007

Há Meio Milhão de Anos

Estava-se na caprichosa época do Pleistoceno. A adaptabilidade era a chave da sobrevivência para qualquer espécie. O clima era incerto; os gelos avançavam e recuavam na Europa e na América do Norte, seguindo os padrões da precipitação em África. Numa savana semidesértica do continente que foi berço da humanidade, um pequeno grupo de hominídeos havia organizado o seu acampamento junto à margem de um ribeiro de águas límpidas e tranquilas. No horizonte, a oeste, uma cadeia montanhosa estendia-se, imponente, até se perder de vista. De um dos cumes saía um fumo branco e espesso e, de tempos a tempos, a montanha rugia, vomitando das suas entranhas pedras incandescentes que inflamavam as ervas altas e secas. A tribo sabia já usar aquela dádiva da Natureza. Serviam-se frequentemente do fogo para afastar os grandes predadores nocturnos, mas ainda não haviam considerado a hipótese de o usar para cozinhar os alimentos. Durante o dia, sabiam tomar conta de si próprios. Usavam machados de pedra e clavas com um aspecto não menos ameaçador...

Imagem: Vulcão "Ol Doinyo Longai" (www.mtsu.edu/~fbelton/flankview00.jpg)

música: Fire Starter (Prodigy)

publicado por V.A.D. às 02:51
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Sexta-feira, 27 de Julho de 2007

Insónia

“Depois de ter dormitado apenas durante alguns agitados minutos, via-me agora na impossibilidade de conciliar o sono. Enquanto ouvia o quase imperceptível zumbido do aparelho de ar condicionado, vinham-me à mente os mesmos pensamentos recorrentes, e a satisfação, a expectativa e a apreensão invadiam-me de maneira tão intensa que me sentia incapaz de sossegar. Afastei com cuidado o lençol que me cobria parcialmente e levantei-me em silêncio, de forma a não a acordar. O dia, único, um dos mais importantes da minha vida, tinha sido o culminar de um longo e extenuante processo. Após anos de treinos intensivos e de centenas de testes, sabia finalmente que ia ter um lugar na missão. Saí do quarto, desci as escadas pé ante pé e abri a porta da rua. Naquela noite límpida e morna, de um qualquer distante verão, sentei-me nos degraus da minha casa, inspirei profundamente, olhei as estrelas e soube que haveriam de ser o meu destino…”

V.A.D. em Algures.

Imagem: Insónia (www.basdesign.ru/wallpapers/insomnia.jpg)

música: Insomnia (Faithless)

publicado por V.A.D. às 01:34
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Quinta-feira, 26 de Julho de 2007

Caminhos

“Serenos e silenciosos são os caminhos que os verdadeiros sábios percorrem. Vagueiam no meio da turbamulta, imunes à esquizofrénica pressa dos imaturos, cientes de que a existência tem o seu tempo, a sua cadência própria. Não procuram nem fama nem glória; é-lhes suficiente a certeza de que soçobrarão em paz. Não se amedrontam com as dificuldades nem proclamam os seus conhecimentos; usam-nos para contornar obstáculos e fazem-no discreta mas firmemente. Não se socorrem de habilidades dolosas para atingir os seus objectivos nem são corrompidos pela ânsia do poder. Não precisam de acólitos, apreciam a amizade e guiam-se pela luz da ética. Não fomentam guerras estéreis, e mas também não viram as costas à luta; dispõem-se a defender com veemência as causas justas. Não manipulam, não iludem, não se fazem passar pelo que não são. Sonham com impossibilidades sem que deixem de ter os pés bem assentes no solo firme da razão. Acreditam, sem que sejam crédulos e, sobretudo, sabem duvidar.

Busco constantemente a sabedoria, mas ela parece sempre fugir-me…”

V.A.D. em Algures.

Imagem: Caminhos (www.mo.gov/mo/mophotos/rural/RU_GravelRoadnearStJames_Larkin_041707.jpg)

música: My Way (Frank Sinatra)

publicado por V.A.D. às 02:34
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Quarta-feira, 25 de Julho de 2007

Calamidade

Vivemos num mundo de rápidas mudanças, ao qual a tecnologia trouxe o conforto e a possibilidade de uma vida mais longa, inconcebíveis no tempo dos nossos antepassados. Mas este mundo vive sob a ameaça de eventuais catástrofes, como um desastre nuclear, uma nova epidemia virulenta, ou uma alteração radical do clima. A ciência permitiu ao homem compreender muitas das forças destruidoras que nos podem arrasar, mas também acrescentou muitos perigos à nossa existência. Apesar das suas incertezas e problemas, este é um planeta em que podemos viver, o ponto mais aprazível que conhecemos do Universo para a nossa espécie. No intuito de o manter tolerável e de mitigar futuras calamidades, os governos devem aprender a cooperar entre si na condução das instituições sociais e na utilização harmoniosa dos recursos naturais. A ciência é o principal instrumento de que o Homem dispõe para criar um equilíbrio praticável entre as necessidades da civilização e o carácter volúvel da Natureza. Contudo, ciência e tecnologia são, por si próprios, projectos experimentais. Devem merecer toda a atenção e todo o cuidado, para que não se virem contra a humanidade.

Imagem: Alterações Climáticas (http://weblog.leidenuniv.nl/fdr/1948/climate-change.jpg)

música: Things Have Changed (Bob Dylan)

publicado por V.A.D. às 02:38
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Terça-feira, 24 de Julho de 2007

Afrodite

A apreciação da beleza e o desejo de atingi-la são tão velhos quanto a humanidade, mas a ideia de que ela seja um atributo de um objecto sexual só apareceu, surpreendentemente, com Charles Darwin, na segunda metade do século XIX. Darwin, cuja curiosidade a respeito da evolução não deixou inexplorado nenhum aspecto desse tema, acreditava que a beleza estava relacionada com a sexualidade. No seu livro A Descendência do Homem faz um esboço da teoria da selecção sexual. De acordo com ele, os animais sexualmente mais atraentes têm mais êxito na conquista de um parceiro e maior probabilidade de deixarem mais descendentes. Desse modo, reflectia ele, se o acasalamento é guiado por esses padrões, a selecção sexual favoreceria as formas de beleza manifestadas na humanidade. Embora cada raça tenda a admirar as características que lhe são únicas e que a distinguem das demais, a beleza, a etérea, fugaz e indizível beleza, tem uma qualidade universal que transcende os critérios locais; em todos os lugares, ela suscita sempre admiração e prazer.

Imagem: Afrodite (Botticelli) (http://users.sch.gr/pchaloul/anagennisi/Botticelli-spring-Afrodite.jpg)

música: You Are So Beautiful (Ray Charles)

publicado por V.A.D. às 02:37
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Segunda-feira, 23 de Julho de 2007

O Velho

“O velho louco apareceu na aldeia, ao cair da tarde. Arrojava os pés pelo chão, fazendo dançar a poeira, e os cães ladravam à sua volta, enquanto avançava mecanicamente. Carregava nas costas todos os seus pertences, encafuados numa velha e esburacada saca de serapilheira, segura pela mão sã. Vergado pelo peso dos anos, com o braço doente inerte e a cabeça descaída, ia proferindo palavras sem nexo, entrecortadas por uma tosse tísica e violenta. Um sorriso demente perpassava a espaços os seus lábios cinzentos, meio escondidos pela barba rala e amarelecida pelo tempo, e a insanidade estava presente no olhar esbugalhado e penetrante que lançava aos miúdos que se metiam com ele. A sua presença já não era vista com desconfiança; há muito que as gentes daquela aldeia perdida na província sabiam que ele era inofensivo. Perdera a razão ainda jovem, quando um acidente o deixara às portas da morte, e desde que saíra do hospital não mais tinha deixado de vaguear, talvez em busca do futuro brilhante que o abandonara…”

V.A.D. em Algures.

Imagem: Velho (Original não alterado em: www.hulubei.net/tudor/photography/photos/O/l/Old-Man-1-500x750.jpg)

música: Hurt (Johnny Cash)

publicado por V.A.D. às 01:38
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Domingo, 22 de Julho de 2007

Agente de Bizâncio

“Estava ali na Mese, a artéria principal de Constantinopla, a mais esplêndida cidade do mundo. Se não tivesse entrado para os magistrianoi, provavelmente nunca teria posto os pés na capital do império. Uma procissão de padres descia a rua vinda de oeste, direita à grande catedral de Hagia Sofia. Alguns erguiam velas e outros cruzes de madeira, enquanto um mostrava a imagem de um santo. Argyros benzeu-se piedosamente quando ouviu o hino que eles cantavam e sorriu. Mesmo que tudo o mais não o conseguisse fazer, esse hino recordar-lhe-ia o que se festejava nesse dia. Ainda que Maomé tivesse morrido havia quase setecentos anos, os seus versos religiosos continuavam a comover os bons cristãos.”

Excerto de Agente de Bizâncio, de Harry Turtledove, historiador e escritor norte-americano.

Têm havido muitas ocasiões em que o destino da humanidade parece ter estado suspenso de um único acontecimento. Que teria acontecido se Roosevelt não tivesse assinado, num sábado, a directiva que pôs em marcha o que viria a ser conhecido como Projecto Manhattan? Ter-se-ia a Alemanha antecipado na construção da bomba atómica? Teríamos hoje o idioma germânico como língua oficial? Nesta fabulosa obra, estamos perante um outro “se” da História. Que aconteceria se a tentativa de Justiniano de restabelecer o Império não tivesse falhado? E se o Império Bizantino pudesse ter detido os Zoroastrianos persas e se o Islão não tivesse surgido para destruir estes e enfraquecer inapelavelmente aquele? Teria Bizâncio podido sustentar a cultura greco-romana, intacta e completa para o futuro…?

Imagem: Hagia Sofia (www.export.nrw.de/export/hagia_sofia.jpg)


publicado por V.A.D. às 02:32
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