Numa época em que a consciência ecológica tem vindo a ganhar um peso cada vez maior, convém fazer algumas distinções fundamentais entre determinados fenómenos, muito falados, mas pouco conhecidos em profundidade. Tenho notado na vox populi uma tendência estranha para confundir buraco na camada de ozono com efeito de estufa. O ozono protege a Terra dos mais perigosos raios do Sol, os ultravioleta (UV), localizados no espectro electromagnético acima da radiação visível e abaixo dos raios-X. Ao invés de ser constituída por dois átomos de oxigénio, a molécula de ozono é formada por três átomos deste elemento. Quando, na estratosfera, é atingida pela luz solar, decompõe-se numa molécula de oxigénio comum, mais um átomo livre. Neste processo, parte significativa da radiação UV, causadora de graves danos aos organismos vivos através da destruição do ADN celular, é absorvida na quebra das ligações moleculares. Os buracos na camada de ozono ocorrem sazonalmente sobre os pólos terrestres mas, no final do século XX, foram constatados aumentos substanciais na área dessas lacunas, principalmente devidos à libertação para a atmosfera de gases que destroem o ozono, nomeadamente os clorofluorcarbonetos (CFC).
A Organização Meteorológica Mundial, no seu relatório de 2006, prevê que a redução na emissão de CFCs, resultante do Protocolo de Montreal, resultará numa diminuição gradual deste problema, com uma recuperação total por volta de 2065.
Imagem: Buraco Na Camada De Ozono (www.ambienteterra.com.br/saladeaula/ozonio/image002.jpg)
“Por um Órgão do Sentido entende-se aquilo em que, em última análise, está colocado tal poder.”
Aristóteles, em De Anima
A fome e a sede são registadas no hipotálamo, a área do cérebro que detecta mudanças químicas no sangue. O senso de equilíbrio é regulado no ouvido interno, onde três tubos curvados, cheios de fluido, estão alinhados com cada uma das três dimensões espaciais, minúsculos pelos reagem a cada movimento do líquido, transmitindo a informação ao cérebro através de conexões nervosas específicas. Outro sentido de movimento, chamado Cinestesia, permite que saibamos a posição exacta das diversas partes do nosso corpo e também a tensão dos nossos músculos. Em geral, as pessoas consideram que a capacidade de percepção da temperatura está associada ao tacto. Na verdade não é assim. Dois grupos de nervos distintos, um para o frio, outro para o calor, encarregam-se dessa função. A dor e a pressão também são captadas por fibras nervosas específicas. Os controlos sensoriais internos medem também a quantidade de oxigénio no sangue, regulando a respiração. A uma infinidade de processos fisiológicos corresponde um infindável número de sentidos.
Imagem: Cérebro e Sentidos (www.faizani.com/online_library/G1/images/brain_senses.jpg)
“Por um Sentido entende-se o que tem o poder de receber as formas sensíveis das coisas, sem a matéria”
Aristóteles, em De Anima
Se tivéssemos apenas cinco sentidos, estaríamos perdidos. Confundiríamos as noções de para cima e para baixo, não saberíamos quando comer ou beber, permaneceríamos no frio até que os nossos membros ficassem entorpecidos ou, ainda, deixaríamos a mão exposta ao calor de um forno, por exemplo, até que o nosso olfacto nos avisasse de que algo estava errado. Além de toda esta confusão, estaríamos constantemente preocupados com o que os nossos membros estão a fazer. Na lista normal dos sentidos constam apenas aqueles que recebem informações do mundo externo ao nosso organismo: visão, audição, paladar, tacto e olfacto. Mas, além dos dados sobre o mundo que nos cerca, precisamos de uma infinidade de informações sobre o que está a acontecer dentro de nós mesmos.
Imagem: Cinco Sentidos (www.west.asu.edu/call/5%20SENSES.jpg)
Mesmo viajando a velocidades próximas às da luz, uma nave espacial gastaria quase dez anos numa viagem de ida e volta à estrela mais próxima. Se a duração desta jornada parece longa, a realidade mostra-se bem mais desanimadora. As velocidades exigidas pela aventura interestelar são humilhantes para os portentosos veículos actuais, maravilhas do engenho humano: impulsionados quimicamente, eles levariam cinquenta milhares de anos a atingir a Proxima Centauri. Contudo, se dispõe de um ainda precário arsenal espacial, a espécie humana conta com uma grande arma: a imaginação, impulsionadora dos mais incríveis avanços tecnológicos. Já somos capazes de vislumbrar algumas maneiras de realizar o velho sonho de alcançar as estrelas. A rigor, os entraves que persistem são meros problemas de engenharia. Usando fusão, fissão, antimatéria, laser ou iões como propulsão, conseguiremos seguramente enviar uma nave para além do nosso sistema solar. Resta saber quando. E há também outra questão: será relevante fazê-lo?
Imagem: Insígnia (www.colonization.biz/me/pics/sunshipc.jpg)
Há trinta milhares de anos, nas profundezas da actual gruta de Chauvet, em França, o Homo Sapiens revelou um incrível talento. As formas que desenhou sobre as paredes de calcário denotam uma formidável matriz artística, um conhecimento íntimo da Natureza e do movimento, e uma capacidade inovadora e extraordinária de representar, não só o mundo que o rodeia, mas também aquele que é capaz de imaginar. Aquele que é o mais antigo traço conhecido de expressão pictórica é manifestamente o fruto de uma evolução que tem raízes nos ainda mais ancestrais membros da espécie humana, ela mesma filha da história da vida na Terra, velha de quatro milhões de anos. A vida deu à luz criaturas com a habilidade de apreender as realidades evidentes e, acima de tudo, capazes de assimilar e de transmitir aos seus semelhantes os impalpáveis pormenores de uma existência feita também de raciocínios abstractos. Este comportamento desconcertante baseia-se num fenómeno que não cessa de fascinar: a consciência.
Imagem: Chauvet (www.dinosoria.com/hominides/chauvet.jpg)
“Sinharat era uma cidade sem pessoas, mas não estava morta. Possuía uma memória e uma voz. O vento fazia-a respirar e cantava, através dos incontáveis tubos de órgão dos seus corais, das bocas que eram os limiares de mármore das suas portas e das estreitas gargantas das suas ruas. As esguias torres pareciam extensas flautas e o vento nunca parava. Por vezes, a voz de Sinharat soava baixinho e gentil, murmurando coisas acerca da juventude eterna e dos prazeres dela derivados. Noutras ocasiões, era forte e altivamente orgulhosa, gritando: Vocês morrem, mas eu não! Havia alturas em que era louca, risonha e odienta. Mas a sua canção revelava-se sempre perversa. Compreendia agora por que motivo a cidade era tabu.”
Excerto de A Chegada Dos Terrenos, um dos mais célebres clássicos da ficção científica. Para os amantes deste género, Marte tem sido sempre a Última Thule, o mundo para além das fronteiras conhecidas do mundo, um local mítico habitado por raças poderosas e antigas civilizações, capazes de modificar um planeta inteiro, rasgando-o de lés-a-lés através de canais, num esforço colossal para impedir a ruína. Leigh Brackett, conceituada escritora norte-americana, apresenta de forma inolvidável estas lendas oníricas de um Marte Antigo, convidando a verdade científica a manter uma distância respeitosa.
Imagem: Sinharat
“Subitamente, sem aviso, sinto um rasgão no frágil tecido da minha sanidade, coçado por décadas de agitação e paradoxos. As memórias tranquilizadoras são varridas por uma torrente de emoções primitivas. Medos misturados com desagrado e fúria, espumados com ódio e horror, toldam-me o raciocínio e empurram-me para os tenebrosos e pútridos abismos da alienação. Os princípios de um gemido que se vai transformar em vómito irrompem, abafados, na minha garganta. Convulsões violentas agitam o meu corpo, os músculos abdominais e o diafragma provocando a inevitável emese, simultaneamente libertadora e esgotante. Depois vem a inesperada compreensão de que tudo isto – o lento e incómodo afundamento neste absurdo estado de catalepsia intelectual – exige uma rápida e inequívoca tomada de atitude. Endireito-me e encaminho-me para aquela espécie de vivenda, em busca de um duche, que mais que me lavar o corpo, me lavará a alma…”
V.A.D., em Algures.
Imagem: Algures (http://fixx.tvspielfilm.de/imedia/418/2418_4Y8lnP_IWlWB1sIuRigzMY6vOQIm62+allSsvMaNJOI=.jpg)
O meu blog foi nomeado pela Dhyana para o prémio Blog Com Tomates. Nas suas palavras, mereço esta distinção “pela honestidade dos textos e pela preocupação com o mundo”. Vejo a existência como uma interessante e motivadora mistura de razão e emoção, de seriedade e riso, de matemática e poesia, de conhecimento e espanto, de serenidade e inquietude, de silêncio e música. Pego em pedacinhos do meu entendimento das coisas e partilho-os, de forma muitas vezes tosca, com as pessoas que fazem o favor de me ler. Sinto-me honrado e agradeço à Dhyana por ser uma dessas pessoas.
Cabe-me, agora, a ingrata tarefa de escolher, de entre tantos, cinco blogs em que identifico um inquestionável contributo para o engrandecimento do ser humano enquanto animal pensante, quer pela qualidade da escrita, quer pela forma descomplexada como as ideias são expostas, quer pelo interesse dos temas abordados, quer pela forma quase mágica como as vivências e as emoções são transcritas, quer ainda pela atitude solidária para com o próximo:
"Aqueles que sonham acordados têm consciência de mil coisas que escapam aos que apenas sonham adormecidos"
Edgar Allan Poe
Agradeço à In, dona do Blog Ainda Sem Nome (http://aindasemnome.blogs.sapo.pt), a transmissão deste meme, e acrescento o meme por mim escolhido:
"Os sonhos são memórias de futuros possíveis"
António Damásio
Um meme, termo cunhado em 1976 por Richard Dawkins no seu bestseller controverso O Gene Egoísta, é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros) e outros locais de armazenamento ou divulgação, como os blogs. No que respeita à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se. Os memes podem ser ideias ou partes de idéias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma. O estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética.
Imagem: Cérebro (http://zope.iuk.hdm-stuttgart.de/iwm/roswitha_projekt_wissen_emotion/damasio/images/gehirn_im_kopf)
Conforme as regras, nomeio seis blogs, que poderão ou não dar continuidade ao meme. No processo, tentarei passar o meme a quem ainda não o tenha recebido.
O templo de Dhyana (http://otemplodedhyana.blogspot.com)
Emanuela (http://emanuela.blogs.sapo.pt)
Sibila (http://asibila.blogspot.com)
Rabiscus (http://rabiscus.blogs.sapo.pt)
Unknown Poets (http://unknownpoets.blogs.sapo.pt)
Reinvenção (http://alexiaa.blogs.sapo.pt)
Em milésimos de segundo, a energia libertada pela matéria em escombros cria uma bola de fogo com temperaturas próximas às da superfície do Sol. A esfera flamejante avança em todas as direcções ao mesmo tempo, as ondas de choque resultantes da expansão arrasando tudo, como uma máquina de morte em deslocação supersónica. A matéria vaporizada pelo calor, menos densa que o ar, eleva-se como um balão, criando correntes verticais fortíssimas e arrastando consigo grandes quantidades de poeira radioactiva, formada pelos materiais fundidos próximos à detonação. Dos núcleos de plutónio em ruptura são libertados neutrões a altíssima velocidade, e com um elevado poder de penetração. Fotões de raios-X e de raios gama, semelhantes à luz mas muitíssimo mais violentos, são disparados em todos os sentidos. A energia, arrancada em profusão das mais profundas estruturas atómicas é usada com um único e tenebroso objectivo: provocar a destruição. A versão moderna da besta do Apocalipse tem a forma de um cogumelo.
Imagem: Bomba Atómica (Chris Bjornberg / Science Photo Library) (www.sciencephoto.com)
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. O horizonte de eventos e ...
. Blogs
. Abrupto
. Feelings
. Emanuela
. Sibila
. Reflexão
. TNT
. Lazy Cat
. Catinu
. Marisol
. A Túlipa
. Trapézio
. Pérola
. B612
. Emanuela
. Tibéu
. Links
. NASA