"Trombetas soaram em diversos tons. Apareceu à distância uma procissão de nobres de roupas limpas e cabelo cortado curto à maneira romana, porque aquela cidade era tão romana quanto grega. Todos vestiam sedas alvas...importadas, com grandes despesas, por intermédio de caravanas vindas da China. Os bizantinos ainda não tinham conseguido roubar o segredo do seu fabrico. E o sol do fim da tarde, incidindo nas esplêndidas túnicas num ângulo agudo, conferia à procissão um tal brilho de beleza, que mesmo Capristano, que já anteriormente assistira a tudo aquilo, se mostrou comovido. Muito lentamente, os altos dignatários avançavam e a sua passagem demorou cerca de uma hora. Chegou o crepúsculo. A seguir aos sacerdotes e duques de Bizâncio, vieram as tropas imperiais, transportando velas acesas, que cintilavam no crescente entardecer, como se fossem uma infinidade de estrelas. A seguir, mais padres, trazendo medalhões e ícones e depois um príncipe de sangue real, com o risonho e rechonchudo infante, que viria a ser o poderoso imperador Teodósio II. Depois, o próprio Imperador , Arcádio, envergando a púrpura imperial. O imperador de Bizâncio! Repeti mil vezes as palavras para mim mesmo. Eu, Judson Daniel Elliot III, ali de pé , sob o céu bizantino de 408 D.C...."
Excerto de O Correio do Tempo, de Robert Silverberg, um extraordinário romance sobre viagens temporais e os seus paradoxos, e onde são apresentadas interessantes e muito precisas descrições de factos e costumes da História antiga.
Imagem: Moeda bizantina
Um antigo filósofo grego, Heráclito, disse uma vez: "O carácter determina o destino." Penso nisto enquanto me entrego a divagações. O que Heráclito disse é meia verdade. Toda a gente tem um carácter singular, e esse carácter é influenciado pelo ambiente. E todo o ambiente é único; não há nenhum lugar ou nenhum tempo iguais as outros quaisquer. O carácter de uma pessoa integra o ambiente em que a pessoa se desloca, e o ambiente determina as oportunidades e limitações com que a pessoa se confronta. O ego é inflenciado pelo ambiente. O destino determina o carácter. Talvez esta seja outra meia verdade.
Outro sábio antigo, hebreu e não grego, disse: "Há um tempo para agir e outro tempo para não agir." Será esta uma verdade inteira? Não agir não será , em si, um acto? Estamos perante uma outra meia verdade, portanto. O nosso entendimento do mundo baseia-se muitas vezes em meias verdades. Estamos muito mais interessados no "como" do que no "porquê". Pensamos que é possível viver a nossa vida meditando somente no "como", mas um ser humano só é completo se sondar o "porquê". Sem se conhecer a causa, nunca será possível compreender o efeito.
"Sabeis porque vo-lo digo? Porque vos vi louvar a Deus despois de fartos, com as mãos alevantadas e com os beiços untados, como homens que lhes parece que basta arreganhar os dentes ao céu sem satisfazer o que têm roubado; pois entendei que o Senhor da mão poderosa não nos obriga tanto a bulir com os beiços, quanto nos defende de tomar o alheio, quanto mais roubar e matar, são dous pecados tão gravesquanto despois de mortos conhecereis no rigoroso castigo de sua divina justiça."
Estas eram palavras de um menino raptado a seus pais, e que os portugueses captores tentavam doutrinar.
A Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, é ao mesmo tempo um romance alicerçado em muitos factos vividos pelo autor e uma dura crítica à sociedade da época - com as suas atrocidades, hipocrisias e falsas religiosidades - feita quase sempre de forma indirecta, por razões que não são difíceis de entender, se nos lembrarmos da Inquisição e da Censura. Continuam actuais muitas das realidades daquele tempo, e de todos os tempos; a humanidade continua a ser feita de actos heróicos mas também de banalidades, e muitos homens vivem a fingir que são o que não são e a dizer que se deve fazer aquilo que não fazem...
Imagem: Fernão Mendes Pinto (http://content.answers.com/main/content/wp/en/thumb/5/55/180px-Fernao_Mendes_Pinto.jpg)
As histórias e lendas sobre heróis da antiguidade mostram um claro fascínio por espadas, veneradas pelos seus possuidores, que passam de geração em geração como tesouros, e que se supõe terem sido forjadas por entidades sobrenaturais, ou em circustâncias igualmente portentosas. É o caso da espada de Gou Jian, rei de Yue, estado actualmente integrado na china, ou da Kasunagi-no-Tsuguri japonesa, ou ainda da mítica Excalibur, pertença do Rei Artur. Contudo, há algo de histórico nessa aura extraterrena que acompanhou as primeiras espadas de ferro, muito mais poderosas que as fabricadas anteriormente com outros metais. As técnicas de mineração de ferro só viriam a ser desenvolvidas muito tempo depois de se conhecer e aproveitar esse metal. Naqueles tempos, o ferro era conhecido como o metal que caía dos céus. Os sideritos, ou meteoritos metálicos, constituidos por uma liga de ferro-níquel, foram durante um longo período, e em muitas culturas, a única fonte do ferro usado no fabrico de armas. Por terem sido criadas com o material caído das estrelas, justifica-se que algumas espadas tenham causado um tão profundo impacto na psicologia humana.
Imagem: Knights (http://img228.imageshack.us/img228/5314/knightsrevenge4ir.jpg)
Os meteoritos são a única evidência física palpável que temos do Universo sem recorrer à astronáutica. Estas pedras caídas do firmamento permitem-nos estudar amostras de corpos celestes sem que tenhamos que os visitar para extraí-las. Embora tenham estado a chegar do Cosmos durante toda a história humana, a sua utilidade científica tardou muito a ser aproveitada. Durante os últimos anos, graças ao avanço extraordinário das técnicas de análise, todo o seu potencial está a começar a ser vislumbrado. Maiores que partículas, mas sem chegar a dimensões de rochas gigantes detectáveis a grandes distâncias, um amplo conjunto de meteoros circula pelo espaço. Uma parte deles resulta da fragmentação de corpos maiores, devido a colisões ou à erosão por causas térmicas ou de tensão estrutural provocada pelo Sol ou por outros astros próximos. Outros são constituídos pelo material original da construção planetária, que remonta aos alvores do sistema solar, representando por isso condensações planetárias que falharam. A maior parte destes objectos concentram-se na cintura de asteróides, entre Marte e Júpiter, na cintura de Kuiper, que se estende para lá de Neptuno e Plutão, e na nuvem de Oort, situada a cerca de 30000 U.A., e que se pode estender até cerca de 1 ano-luz de distância. A composição dos meteoritos oferece-nos pistas sobre a origem do sistema solar e pode ajudar-nos a compreender melhor o Universo.
Imagem: Meteororito (www.diomedes.com/meteorito.jpg)
Fonte: Espacio
Em 17 de Fevereiro de 1600, um homem encapuzado foi levado numa carroça até à Piazza Campo dei Fiori, próxima do rio Tibre, em Roma. Havia uma excitação incomum na cidade, naquele dia. Madeira empilhada de forma a poder ser ateada numa fogueira, atraía os olhares temerosos. O passageiro solitário, amordaçado para não "blasfemar", havia sido condenado à mais horrível das mortes por questionar a infalibilidade do papa e sustentar que as estrelas são outros sóis, à volta dos quais podem girar planetas susceptíveis de abrigar vida, inclusivé vida inteligente. Giordano Bruno era um homem do renascimento, influenciado pelas ideias revolucionárias de Johannes Kepler, de Tycho Brahe e, em particular, de Nicolau Copérnico, que na sua obra Revoluções das Orbes Celestes, recoloca o Sol no centro do Sistema Solar. O destronamento da Terra, como pode ser interpretado o trabalho de Copérnico, foi uma das mais impressionantes conquistas da história da ciência, pois substituiu a lógica ilusória do olhar pela representação intelectual da realidade. Em A Ceia das Cinzas, de 1584, Bruno reafirma as teorias de Copérnico e visiona um universo em transformação permanente, em conformidade com o que havia sido proposto por Heráclito de Éfeso, na antiguidade grega. Aristóteles, com o pretígio em queda, mas ainda sólido para a Igreja Católica, criara, segundo Bruno, um universo "morto e seco", em que o movimento se originava a partir do que era estático.
O universo de Giordano Bruno é pleno de movimento, como Albert Einstein viria a reafirmar, 300 anos depois.
Imagem: Giordano Bruno (http://z.about.com/d/altreligion/1/0/O/V/3/bruno6.jpg)
Fonte: Sci-Am
"O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel."
Platão
Há pouco mais de 100 anos, a maioria das pessoas, inclusivé muitos cientistas, pensava que a matéria era contínua. No entanto, desde a antiguidade grega, haviam especulações de alguns filósofos sobre a possiblidade da matéria ser um conjunto de pequenas unidades indivisíveis. Hoje já conseguimos obter imagens de átomos individuais e conseguimos até estudar as subpartículas que os compõem. A ideia da natureza granular está devidamente provada. Nas décadas mais recentes, físicos e matemáticos têm questionado se o espaço também não seria formado por quantidades discretas. O espaço é contínuo, como aprendemos na escola e nos diz o nosso senso comum, ou é parecido com um pedaço de tecido formado por fios separados? Se as observações dos físicos permitissem chegar a escalas de dimensões infinitesimais, poderiam eles confirmar a existência de "átomos" de espaço, pequenos volumes indivisíveis que não poderiam ser reduzidos a nada menos? E o tempo: a Natureza muda continuamente, ou o Universo evolui através de uma série de degraus minúsculos? Não será o tempo um fluxo ininterrupto, mas sim uma sequência de de pequeníssimos grânulos? Uma teoria conhecida pelo nome estranho de Gravidade Quântica em Loop pressupõe que o espaço e o tempo são de facto formados por pacotes discretos. Esta teoria ampliou muito a compreensão dos cosmólogos sobre fenómenos intrigantes relacionados com buracos negros e com o Big Bang. Experiências previstas para um futuro próximo permitirão detectar os átomos de espaço, se eles realmente existirem.
Fonte: Sci-Am
"Agora, já não havia qualquer som a não ser o crepitar da neve de metano, nem nada para ver senão uma embotada e débil lança de luz enevoada, ilusoriamente semelhante a uma aurora terrestre ou à coroa solar, a abrir o seu caminho desde além do rebordo de frio até à indiferente companhia das estrelas. Os anéis de Saturno estavam a erguer-se, tremeluzindo levemente na atmosfera azul-escura, quais estandartes de um exército espectral. A face do gigantesco planeta gasoso, vagamente riscada por tempestades insignificantes, como que a procurar recordar uma paixão de infância, inclinar-se-ia carrancuda para ela, (...) se não se pusesse muito em breve a caminho. (...) E então, quando se curvava para espetar a haste de um termopar no solo semelhante a um bolo de noiva, foi atingida nas costas, fazendo-a mergulhar no pesadelo. Juntamente com a inesperada escuridão, veio um profundo e ambíguo golpe emocional. Ambíguo, ainda que contendo algo de chocantemente familiar. Instantaneamente exausta, sentiu que se punha flácida e desprendida e a sua mente, à deriva em parte alguma, obscurecia-se e girava para baixo, mergulhando nos pântanos do transe. A longa queda abrandou o ritmo próximo dos limites da inconsciência, precariamente alojada na concha de um sonho, presa a uma escora mental situada no passado."
Excerto do conto Que Beleza se Houvesse Estandartes, de James Blish, um dos mais célebres e admirados autores de ficção científica, em cujas obras é normalmente subjacente uma profunda visão da humanidade, com todas as suas qualidades e defeitos. Viagem Pelos Universos, onde se insere esta história, é a versão portuguesa de Anywhen, uma colectânea dos seus melhores contos.
Imagem: James Blish (http://scifipedia.scifi.com/images/thumb/d/de/JamesBlish.jpg/150px-JamesBlish.jpg)
A barreira temporal que parecia manter o surgimento dos primeiros animais do lado de cá dos últimos 600 milhões de anos está a ficar cada vez mais ténue. Pesquisadores chineses e americanos encontraram, no sudoeste da China, o que parece ser o fóssil do mais antigo animal complexo já registado, cuja idade fica justamente sobre esse limite. A criatura, denominada Vernanimalcula Ghizhouena, tem uma organização corporal que nada deve a muitos dos invertebrados modernos, sinal de que a evolução dos animais já estava a decorrer havia bastante tempo. Medindo menos de 180 mícrons, não é visível a olho nu, mas aparenta ter já desenvolvido características comuns a quase todos os animais superiores: simetria bilateral, sistema digestivo completo e os mesmos três tipos de tecidos que até hoje formam todos os orgãos humanos (apelidados de endoderme, mesoderme e ectoderme). Até agora, o primeiro florescimento da vida animal cuja existência foi bem estabelecida pelos cientistas era o da chamada biota de Ediacara, um conjunto de seres com a aperência de folhas delgadas com não mais que 575 milhões de anos, e que não eram exactamente um prodígio de complexidade. Se a estrutura corporal do Vernanimalcula Ghizhouena já estava pronta ainda antes dessa época, a vida animal remonta, pois, às profundezas do tempo.
Imagem: Vernanimalcula Guizhouena (www.acepilots.com/mt/wp-content/uploads/2006/03/vern4med.jpg)
Fonte: Sci-Am
"Os homens chamaram-me louco; mas ainda não está assente se a loucura é ou não a mais elevada das inteligências, se quase tudo o que é glória, se tudo o que é profundidade, não provém de uma doença do pensamento, de um modo de ser do espírito à custa do intelecto geral. Os que sonham de dia têm conhecimento de muitas coisas que escapam aos que só sonham de noite. Nas suas visões brumosas, captam foragidos da eternidade e estremecem, ao despertar, por verem que estiveram à beira do segredo. Captam pedaços de algo do conhecimento do Bem, a ainda mais da ciência do Mal. Sem leme e sem bússola, penetram no vasto oceano de luz inefável, como se para imitar os aventureiros do geógrafo núbio, agressi sunt Mare Tenebrarum, quid in eo esset exploraturi. Diremos, por conseguinte, que sou louco. Reconheço, pelo menos, que há duas condições distintas na minha existência espiritual: a condição de razão incontestavelmente lúcida, e a condição de sombra e de dúvida."
Excerto do conto Eleonora, de Edgar Allan Poe. Juntamente com Julio Verne, Poe é considerado um dos precursores da literatura de ficção científica e fantástica moderna.
Imagem: Edgar Allan Poe (http://richmondthenandnow.com/Images/Famous-People/Edgar-Allan-Poe.jpg)
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. O horizonte de eventos e ...
. Blogs
. Abrupto
. Feelings
. Emanuela
. Sibila
. Reflexão
. TNT
. Lazy Cat
. Catinu
. Marisol
. A Túlipa
. Trapézio
. Pérola
. B612
. Emanuela
. Tibéu
. Links
. NASA