Quarta-feira, 28 de Fevereiro de 2007

Febre

Através dos séculos, a febre foi combatida ou bem recebida, alternando-se estes comportamentos de acordo com a época. Os antigos gregos, por exemplo, consideravam-na uma forma de expulsar os humores malignos que provocavam a doença. Uma frase é atribuída a Hipócrates, famoso médico grego: "Dêem-me uma febre e eu curarei o paciente". No entanto, mesmo entre os gregos a febre também era combatida. As propriedades antipiréticas do salgueiro, Salix Alba, eram já conhecidas e o seu uso é mencionado nos tratados de Hipócrates, Dioscórides e Galeno. Foi Santorius, logo após a invenção do termómetro por Galileu, no início do século XVII, que introduziu a termometria na medicina. Nessa época, a elevação da temperatura corporal era considerada em si uma doença, e foi só passados 200 anos que Wunderlich identificou essa variação térmica como um sintoma e não como enfermidade propriamente dita. A introdução dos analgésicos antipiréticos, na segunda metade do século XIX, coincide com o desenvolvimento dos primeiros medicamentos orgânicos sintéticos. Até então, eram usadas preparações de origem vegetal, como a quinina e derivados naturais do ácido salicílico proveniente do salgueiro. Em 1899, Dreser desenvolve sintéticamente o ácido acetilsalicílico, princípio activo da aspirina, medicamento que passou a ser amplamente usado, devido à sua eficácia. Uma arma poderosa contra a febre foi colocada nas mãos de todos. Mas não nos esqueçamos que só quando a febre termina por meios naturais é que a vitória sobre o agressor é completa. Só então estamos curados.

Imagem: Febre (http://decarneesonho.weblogger.terra.com.br/img/febre.jpg)

música: Just The Way You Are (Barry White)

publicado por V.A.D. às 01:56
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Terça-feira, 27 de Fevereiro de 2007

Palavras

"Quem não compreende um olhar também não compreenderá uma longa explicação"

Provérbio árabe

Hoje não há fotos. Há palavras. Palavras que podem não dizer nada. Invólucros sem conteúdo. Embalagens vazias. Ou palavras simples, despojadas de papel de embrulho e lacinhos, mas transbordantes de convicções; imagens sonoras de uma escrita sem sons, feias ou belas, subtis ou avassaladoras. "Quando falares, procura que as tuas palavras sejam mais profundas que o teu silêncio." Pela palavra pode haver entendimento ou divergência. As palavras veiculam ideias, construtivas ou destrutivas. São transmutações dos pensamentos, quantas vezes imperfeitas. Muitos tentam, mas poucos têm o dom. Palavras diversas exprimem o mesmo conceito. Diferentes conceitos e uma só palavra. A complexidade da mente tantas vezes distorcida pelos vocábulos; uma sinfonia mental interpretada por um maus músicos, com instrumentos desafinados. Outras vezes, as palavras são uma melodia, não necessariamente complicada, mas emocionante. Tantas vezes uma simples palavra faz uma grande diferença...

Gostava de melhor saber escrever... 

música: Mike Mills (Air)

publicado por V.A.D. às 01:27
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Domingo, 25 de Fevereiro de 2007

Transmutação - parte 2

Provocar reacções nucleares... à temperatura ambiente? Cada vez mais experiências mostram hoje em dia que a aposta na fusão fria não é coisa de louco. Um pouco por todo o mundo, em laboratórios italianos, franceses, americanos, japoneses e russos, os investigadores afirmam transmutar a matéria à temperatura ambiente. Com um pouquinho de energia, eles transformam a natureza dos elementos químicos: o hidrogénio torna-se hélio, o titânio muda para alumínio e o chumbo transforma-se em ouro! Terão eles descoberto a pedra filosofal, objecto de uma fantástica busca esotérica ao longo dos milénios? Não nos iludamos; não há nada de oculto nestas pesquisas. Se a centena de químicos e físicos que trabalham neste domínio o fazem somente à margem dos seus trabalhos oficiais, não é para seguirem a grande tradição de secretismo dos alquimistas dos tempos antigos, mas por necessidade. Os seus estudos não são facilmente publicáveis nas revistas internacionais conceituadas, dotadas de um comité de cientistas independentes, aptos a validar a solidez de cada artigo. As mais prestigiosas, Nature e Science, não aceitam uma linha sequer sobre o assunto, pois foram "escaldadas" pela célebre experiência de Stanley Pons e Martin Fleischmann, publicada em 1989 e denominada  "Fusão a Frio". Estes dois físicos afirmaram ter transmutado o hidrogénio em hélio à temperatura ambiente, sem emissão de raios gama e com a obtenção de calor, o que poderia significar a possibilidade de desenvolvimento de uma fonte de energia praticamente inesgotável. Isto suscitou uma das maiores polémicas científicas do século XX, pois verificou-se a impossibilidade de reproduzir sistemáticamente a experiência. Actualmente trabalha-se arduamente, mas com grande escassez de fundos, para corrigir esta situação.

Imagem: Paládio - Estrutura Cristalina (www.freespiritproductions.com/pdatom.jpg)

Fonte: Science & Vie

música: Smoke On The Water (Deep Purple)

publicado por V.A.D. às 23:23
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Sábado, 24 de Fevereiro de 2007

Nebulosa

Depois de ter sido reparado, em 1999, o telescópio espacial Hubble, da Nasa, capturou esta magestosa visão de uma nebulosa planetária, que não é mais do que os restos de uma estrela moribunda, em tempos semelhante ao nosso Sol. Esta relíquia estelar, vista pela primeira vez por William Herschel em 1787, é denominada Nebulosa do Esquimó (NGC 2392), e está localizada a cerca de 5000 anos-luz da Terra. A fotografia foi tirada em Janeiro de 2000,  pela "Wide Field and Planetary camera 2". Os gases incandescentes produzem a maravilha das cores. O Universo apresenta-nos imagens magníficas...

Imagem: Nebulosa do Esquimó (http://dayton.hq.nasa.gov/IMAGES/SMALL/GPN-2000-000882.jpg)

música: Black Holes and Revelations (Muse)

publicado por V.A.D. às 02:31
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Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2007

Gnosticismo

"O gnosticismo, caro Íon, é uma filosofia que reflecte uma velha fraqueza do espírito humano. Incapaz de imaginar uma ordem da natureza diferente da que se lhe apresenta, e desde logo convicto de que constitui o coroamento de todas as espécies vivas, ou mesmo do Universo, o Homem é naturalmente propenso a interpretar os malogros das suas empresas como injustos. Semelhante à criança, que não cuida senão de si, ele atribui o seu infortúnio a uma potência sobrenatural e maligna que define como um deus mau. E, na sua lógica, deduz que, visto haver um deus mau, há também um bom. É claro que ele se identifica com o bom e o cumula de sacrifícios. (...) Supõe igualmente que os seus sofrimentos são partilhados pelo deus bom, (...) e acaba por ter a certeza de que este anda em guerra aberta com o deus mau. Como somos todos mortais e supomos que a morte é um acidente que não adviria se o deus bom reinasse, deduzimos também que, cá na Terra, o deus mau triunfa sempre do bom. O que significa que o mundo material é o império do deus mau. Mas como esta ideia é insuportável, supomos, outrossim, que no mundo invisível o deus bom se desforra. (...) (Os homens) simplificaram tremendamente a sua representação do mundo, o bem em cima e o mal em baixo. Do mesmo passo, eliminaram das suas cabeças toda a complexidade do mundo. É exactamente o contrário daquilo para que deveria tender o espírito humano."

Excerto de O Homem Que Se Tornou Deus, de Gerald Messadié. Esta obra é o resultado de um longo e complexo trabalho, levado a cabo com extrema seriedade e notável rigor científico, com o objectivo de trazer finalmente à luz, dois mil anos depois, factos que têm permanecido ocultos ou foram deturpados em sucessivas e, em muitos casos, tendenciosas interpretações. Um livro que merece ser lido.

Imagem: Gnosticismo (www.fuocosacro.com/pagine/liste/studi108.jpg)

música: Karmacoma (Massive Attack)

publicado por V.A.D. às 02:01
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Quinta-feira, 22 de Fevereiro de 2007

Tempo - parte 2

A visão científica do universo é radicalmente diferente daquilo em que acreditavam os cristãos da Idade Média. Contudo, é aceite pela moderna cosmologia a existência de um início do tempo, aquando do Big Bang. O fim é algo muito mais nebuloso; está por determinar se o universo é aberto ou fechado, embora pesquisas datadas dos finais da década de 90 do século XX, baseadas na observação de supernovas extremamente distantes, sugiram que a aceleração da expansão do universo é positiva. Num cosmos em expansão cada vez mais rápida é pouco provável que alguma força possa reverter o processo, sendo assim quase certo que vivemos num universo aberto. No entanto, a hipótese de um universo fechado não pode ser completamente arredada. Se a densidade média for superior à densidade crítica, a gravidade acabará por fazer parar a expansão e forçar a reversão do processo. O cosmos contrair-se-á, e acabará por colapsar sobre si próprio, até que toda amatéria fique concentrada numa singularidade. Dar-se-á aquilo a que se convencionou chamar de Big Crunch. E depois? Não poderá recomeçar tudo? Não poderá ocorrer um outro Big Bang? Não poderão o tempo e o universo ser cíclicos? Não poderia Platão ter tido um vislumbre da verdade?

Imagem: Tiempo (www.bluethinking.com/evam/cpg132/albums/userpics/10001/tiempo.jpg)

música: Moments in Love (Art of Noise)

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Quarta-feira, 21 de Fevereiro de 2007

Tempo - parte 1

"Era uma vez, há muito, muito tempo..." Desde a alvorada da humanidade que a história do mundo foi abordada sob a forma de conto: através da mitologia e das histórias passadas de geração em geração, os homens sempre tentaram explicar como tudo começou. A questão do "quando" surgiu muito mais tarde. Nas mentes dos nossos ancestrais, o tempo não havia tido um início; supunham-no eterno, ainda que com ciclos perpétuos de recomeço. Não é a natureza governada por ciclos ininterruptos? A alternância da noite e do dia, a contínua sequência das fases da lua, a dança das estações... Nas mais antigas tradições hindus, que remontam a 4 milénios, o mundo era recreado incessantemente pela meditação do deus Brahma; os astecas supunham regenerar o cosmos através dos sacrifícios humanos. A astronomia antiga, ao colocar a Terra no centro de um universo onde os astros aparentam ser animados de movimentos circulares perfeitos, reforçou essa concepção cíclica. Para os filósofos gregos, como Platão, " o tempo imita a eternidade, desenrolando-se em círculos." Foi o cristianismo que perturbou essa relação antiga entre Homem e tempo: com a Génese, que descreve a criação do mundo em seis dias, e com o Apocalipse, construiu-se uma história linear, feita de eventos únicos e fundadores. O universo passou a evoluir de uma maneira irreversível, desde o seu início até ao seu fim. Passou a haver um tempo inicial e um tempo final. A necessidade de conhecer o "quando" tornou-se inevitável.

Imagem: Brahma (http://mythologiesetlegendes.ifrance.com/brahma.jpg)

música: Unfinished Simpathy (Massive Attack)

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Terça-feira, 20 de Fevereiro de 2007

337

"Durante todo esse dia, a batalha prosseguira violenta. Vezes sem conta se tinham os hunos atirado contra as fileiras godas, como vagas de uma tempestade, a irromperem sobre os penhascos. As suas setas escureciam os céus até as lanças se baixarem; as bandeiras desfraldadas ao vento, a terra a tremer sob o ribombar dos cascos dos cavalos em pleno ataque. Lutadores a pé, os godos aguentavam as suas formações. Piques inclinados para a frente, espadas, machados e armas de folhas largas brilhavam, prontas para a luta. Arcos tangiam e voavam pedras de arremesso; cornetas ornejavam. Quando o choque se produzia, gritos roucos e profundos respondiam aos uivantes gritos de guerra dos hunos. Depois era cortar, apunhalar, arquejar, suar, matar, morrer. Homens caíam, pés e cascos esmagavam costelas e espezinhavam a carne numa massa vermelha. O ferro abatia-se sobre os elmos, ribombando nas cotas de malha, martelando nos escudos de madeira e nos couros endurecidos que serviam de protecção ao peito. Os cavalos relinchavam e gemiam, gargantas perfuradas ou tendões de jarrete cortados. Homens feridos rosnavam e tentavam atacar ou lutar. Raras vezes alguém tinha a certeza de quem o atingira e ferira. A loucura inundava-os, dominava-os, rodopiando negra através do seu mundo."

Excerto de o Patrulheiro do Tempo, de Poul Anderson. Ficção-científica com fundamento histórico, que nos transporta para épocas remotas e nos faz viver intensamente os dias de um passado obscurecido pela noite dos tempos.

Imagem: Hunos (www.bohemia.cu/2006/06/02/internacionales/atila--4.jpg)

música: I Would Die For You (Garbage)

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Domingo, 18 de Fevereiro de 2007

Transmutação - parte 1

É impossível saber se a alquimia, saída das profundezas das civilizações indiana e chinesa, e que atravessou o Egipto e a Grécia Antiga, a civilização árabe e a Idade Média cristã, conseguiu alguma vez realizar as suas proezas míticas. Terão sábios obscuros conseguido fabricar o elixir da longa vida, ou transformar metais comuns em metais nobres, com a ajuda de uma misteriosa e poderosa pedra filosofal? O próprio Isaac Newton, que procurava por estes meios abstrusos a revelação de uma atracção universal à escala microscópica, nunca publicou os seus trabalhos. A química acabou por impôr a sua abordagem racional no final do século XVIII e, posteriormente, a física, enquanto estudo das propriedades e interacções de matéria e energia, tomou o lugar de ciência fundamental, na medida em que era o meio para explicar a química e os seus processos. A alquimia era por princípio uma ciência oculta: os nebulosos sortilégios e métodos que fariam o chumbo transformar-se em ouro nunca seriam divulgados. Uma tradição de segredo e de esoterismo que nada tem a ver com as transmutações nucleares a baixa energia que a física moderna tenta realizar.

Imagem: Alquimia (http://blog.iespana.es/kaorusan/blogimage.php?i=116962)

Fontes: Science & Vie, Wikipédia, Sci-Am

música: Baker Street (Gerry Rafferty)

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Sábado, 17 de Fevereiro de 2007

Mitos e Quimeras

Se quisessemos redigir uma lista exaustiva de todos os animais fabulosos, que desde a noite dos tempos assombraram e ainda assombram o imaginário humano, uma enciclopédia não seria suficiente. O bestiário en questão seria um enorme zoo onde co-habitariam répteis com mandíbulas de crocodilo e asas de morcego - os dragões, bestas marinhas armadas de braços longos como mastros de navio - o Kraken dos países nórdicos, cavalos brancos com um longo chifre espiralado - o unicórnio, criaturas metade homem, metade cavalo - os centauros, e tantas, tantas outras... Até onde esses monstros que povoam os mitos são imaginários? Ou, dito de outra maneira, poderiam esses monstros ter existido? Aparentemente, para as pessoas dotadas do bom senso contemporâneo, é uma ideia disparatada. À luz do conhecimento actual, um fóssil de um dinossauro não é o fóssil de um dragão, nem uma lula gigante é confundida com uma Hidra. O esqueleto de um Protoceratops, não seria hoje tomado por ossos de um grifo. Contudo, desde a descoberta da primeira ossada fóssil de um animal extinto, testemunha de um passado anterior, que a interrogação é pertinente. Não nos devemos esquecer que os nossos antepassados, confrontados com provas reais de algo desconhecido, especulavam e arranjavam explicações que por vezes roçavam o sobrenatural. Inventavam assim bestas fantásticas, que muitas vezes personificavam o Mal. Além disso, a construção da mitologia não resultava apenas da tentativa de reconstituição de uma realidade por vezes já desaparecida. Ela tinha as suas próprias finalidades. Os mitos eram edificados a partir de fragmentos da Natureza, distribuidos para responder às interrogações e representações de certas sociedades. Instrumentalizando os bestiários, os fabulistas acrescentavam deliberadamente monstruosidade aos animais, para aumentar a sua aparente perigosidade e assim valorizar as proezas dos heróis que os combatiam.

Imagem: Grifo (www.guiascostarica.com/alicia/img/alice33a.gif)

Fonte: Science & Vie 

 

música: Chariots of Fire (Vangelis)

publicado por V.A.D. às 23:45
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