A cidade-Estado foi uma das muitas formas de organização social registadas no decorrer da história. A mais antiga floresceu há 5000 anos, na Suméria; a mais recente ainda estava de pé no começo do século XIX, na Nigéria. Durante milénios, espalhadas no tempo e no espaço, essas estruturas características surgiram e desapareceram em diversas culturas, como se fossem pequenos remansos dentro da torrente violenta da civilização humana. Como se explica este fenómeno? Por que motivo em certos níveis de desenvolvimento social os homens lançaram mão desta forma típica de organização? É difícil de dizer ao certo. Os especialistas não sabem, por exemplo, o porquê do aparecimento de cidades autónomas gregas, depois de uma série de imensos impérios, que começou com os babilónios e egípcios, mais de 2000 anos antes. Acreditam apenas que a cidade-Estado foi uma espécie de refúgio isolado, em épocas em que não havia uma autoridade central englobando várias regiões. Elas apresentavam características mais ou menos definidas, compartilhadas por Esparta, cinco séculos antes de Cristo, ou por Florença, já no século XVIII. As cidades gregas, geralmente, compunham-se de um núcleo urbano de 10000 pessoas, cercado por um fosso ou uma muralha; esse núcleo era autónomo, sustentando-se de uma intensa actividade comercial. Além disso, uma cintura de terras férteis permitia que a cidade se alimentasse. Mais cedo ou mais tarde, após um período de médio de quinhentos anos, todas as cidades-Estado terminaram unificadas numa estrutura maior, por necessidade de expansão geográfica, falta de alimentos ou outras razões. É um mecanismo histórico que continua a ser enigmático, mas foi assim com as 1500 cidades gregas, finalmente incorporadas no império Macedónio; é curioso notar que quando o notável líder desse império, Alexandre o Grande, invadiu o Egipto em 332 a.C., as grandes pirâmides tinham já 2000 anos.
Imagem: Efígie de Lycurgus, político espartano (http://educaterra.terra.com.br/voltaire/antiga/pimage/esparta6.jpg)
"Agora, todos os seres humanos que ele alguma vez viu estão envoltos em chumbo, são pó, todas as vozes que ele alguma vez ouviu estão mudas. O próprio som da lingua materna está mudado. Impérios, religiões, raças humanas iniciaram-se, provavelmente, ou desapareceram; o seu próprio património (o pensamento é vão, contudo, sem ele, como se pode viver?) está afundado na goela sedenta que se escancara sempre, ávida para engolir o passado; as suas aprendizagens, os seus conhecimentos, estão provavelmente obsoletos. Os objectos, pensamentos e hábitos familiares à sua infância são agora antiguidades. Pergunta a si próprio onde estão os cento e sessenta volumes manuscritos que o seu pai compilara e que, enquanto criança ele contemplara com uma reverência religiosa; estão agora onde, onde? O seu companheiro favorito de brincadeiras, o amigo dos seus últimos anos, a encantadora noiva que lhe estava destinada; lágrimas há muito geladas fluem pelas suas velhas faces jovens abaixo."
Excerto do conto Roger Dodsworth, de Mary Shelley, criadora de Frankenstein. A imortalidade - será ela uma benção ou uma punição? - é um dos temas recorrentes nas obras desta autora nascida em 1797.
Imagem: Mary Shelley (www.noosfere.net/Ligny/Mary_shelley.jpg)
A única instiruição que não se desintegrou juntamente com o Império Romano do Ocidente foi Igreja Católica, que acaba por vir a ter uma enorme influência sobre a vida, o pensamento e o comportamento do homem medieval. Responsável pela protecção espiritual da sociedade, mantém o que resta da força intelectual, especialmente através da vida monástica. Contudo, perdido o acesso aos tratados científicos originais da antiguidade clássica, as traduções em latim dessas obras, por vezes deturpadas, eram guardadas nos mosteiros, onde os religiosos viviam numa atmosfera que privilegiava a fé em detrimento das questões científicas. A educação era para poucos, pois só os filhos dos nobres estudavam, e era predominantemente religiosa e militar. Aprendia-se latim, doutrina católica e tácticas de guerra. A esmagadora maioria da população medieval era analfabeta e não tinha acesso aos livros, raros e copiados manualmente. A arte medieval foi assim fortemente marcada pela religiosidade da época, dado que as pinturas e os vitrais das igrejas eram, em conjunto com os sermões, uma das poucas formas de transmitir ao povo os ensinamentos religiosos.
Aproveito este post para recomendar um romance magistral de Umberto Eco, O Nome da Rosa, que viria a servir de base a um filme homónimo.
Imagem: O Rei David (Catedral de Canterbury, Kent, Grã-Bretanha) (www.historiadaarte.com.br/imagens/vitral.jpg)
Chamamos Idade Média ao período de um milénio que se estendeu desde meados do século V até meados do século XV. Começa com as invasões dos Bárbaros e a consequente queda do Império Romano do Ocidente em 476, e termina com a conquista de Constantinopla (inicialmente designada Bizâncio, e actualmente chamada de Istambul) pelos Turcos Otomanos em 1453, pondo fim ao Império Bizantino (também conhecido como Império Romano do Oriente), último baluarte do outrora poderoso e vasto Império Romano. Estes dez séculos de transição presenciaram a agonia do mundo antigo e o nascimento da Europa. No seu decurso, a maior parte das nações modernas tinha tomado forma, alicerçadas por um passado histórico feito de lutas pelo poder.
A queda do Império Romano do Ocidente trouxe com ela o fim da Pax Romana, e parte substâncial da população do defunto império migrou para o campo, onde se sentia mais segura. A moeda perdeu valor, e os impostos deixaram de alimentar abundantemente os cofres do Estado. Este, enquanto organização política e social forte e centralizadora, desmoronou-se e deixou de poder garantir a segurança dos cidadãos, e os grandes proprietários, aproveitando este vazio, concentraram nas suas mãos todos os poderes, jurídico, económico e político. Erigiram fortalezas e criaram exércitos privados. Nascia o feudalismo, e o senhor feudal tinha apenas que se manter leal ao seu Rei.
Imagem: Castelo Medieval (http://i1.trekearth.com/photos/2912/middle_age_entrance.jpg)
"Agora entregue a sua mente ao raciocínio que eu vou revelar. Um facto novo está a bater vigorosamente às portas dos seus ouvidos. Um novo aspecto do universo está a lutar para ser revelado."
Lucrécio, Roma, 55 a.C.
Se você quiser chegar ao mundo invisível do átomo, o primeiro passo pode ser, por exemplo, cortar uma laranja ao meio. Se dividir uma das metades e repetir essa operação apenas 30 vezes, você terá conseguido. Não é tão simples como parece, e, mesmo assim, você ainda estará relativamente longe do reino pouco familiar das partículas fundamentais, que formam a estrutura de todas as coisas, dos micróbios às estrelas. Quando se aventuram nesses abismos, quer teoricamente, quer com o auxílio dos aceleradores de partículas, os cientistas podem observar de perto as molas e roldanas dos mecanismos do Universo em acção. As forças básicas que regem o movimento da matéria e da energia são apenas quatro: a gravidade, a força electromagnética, a força nuclear fraca e a força nuclear forte. Parece muito pouco para dar conta da incrível diversidade do Universo, mas a ciência está a descobrir que mesmo essas engrenagens mestras têm semelhanças entre si, e tenta descrevê-las de maneira unificada, de forma a cumprir o sonho de Einstein de há setenta anos: a Teoria do Campo Unificado.
Imagem: Bosão (www.ethlife.ethz.ch/images/teilchenphysik04-l.jpg)
"Levada pela corrente, agitada pelas vagas, violentamente arrastada por todo o poder dos oceanos, a medusa deriva na maré abissal. A luz atravessa-a, penetra-a a sombra. Levada, agitada, arrastada de qualquer lado para um lado qualquer, a medusa pende e oscila. No seu interior movem-se curtas e rápidas pulsações, tal como as vastas pulsações diurnas palpitam no mar que a Lua domina. Pendendo, oscilando, pulsando, esta que é a mais vulnerável e insubstancial das criaturas tem, para sua defesa, a violência e o poder de todo o oceano, ao qual confiou o seu ser, o seu movimento e a sua vontade.
Mas eis que surgem agora os inflexíveis continentes. Os seus baixios de areia grossa e as suas falésias de rocha erguem-se despidamente da água para o ar, para esse terrível espaço exterior de esplendor e instabilidade, onde a vida não encontra apoios. E agora, agora as correntes desviam e as vagas atraiçoam, quebrando o seu ciclo sem fim, para subirem num estrondo de espuma contra rocha e ar, quebrando... Que poderá a medusa fazer, toda ela produto do mover do mar, da segurança da água, da inquietude da corrente..., que poderá ela fazer na areia seca da luz do dia...?
Que poderá a mente fazer, cada manhã, ao acordar?"
Adaptação de excerto de O Tormento dos Céus, de Ursula K. Le Guin
Imagem: Medusa (http://terresacree.org/images/jellyfish.jpg)
A maioria de nós está acostumada a pensar que as bússulas apontam sempre para o norte. Desde há muitos séculos que os marinheiros confiam no campo magnético de Terra para navegar. Pássaros e outros animais magneticamente sensíveis também o fazem há muito tempo. Estranhamente, no entanto, os polos magnéticos do planeta nem sempre foram orientados da mesma forma que hoje. Os minerais que registam as orientações passadas do campo magnético revelam que ele já se inverteu centenas de vezes durante a história de 4,5 mil milhões de anos do nosso planeta. A última inversão ocorreu há 780 mil anos, tempo consideravelmente maior do que o período médio entre inversões, que é de cerca de 250 mil anos. O que é mais relevante é que o campo geomagnético primário sofreu uma redução de cerca de 10% desde que foi medido pela primeira vez por volta de 1830. É possível que isto seja o prenúncio de uma outra inversão. Os geofísicos sabem há muito que a resposta sobre as oscilações do campo magnético está nas profundezas da Terra. O nosso planeta, como outros do Sistema Solar, gera o seu próprio campo por intermédio de um dínamo interno, que cria campos eléctricos e magnéticos a partir da energia cinética das suas partes móveis, como se de um vulgar gerador se tratasse. Dentro da Terra, o que se move é um fluido condutor, um vasto mar de ferro derretido com mais de cinco vezes o volume da Lua.
Imagem: Campo Magnético Terrestre (www.altairostia.org/crop/campo_magnetico.jpg )
Fonte: Sci-Am
"Esta noite não há lua nem estrelas, apenas uma chuvinha fina que é quase uma névoa. Estou sentado à porta da nossa tenda, onde a fogueira fumegante me concede luz suficiente para escrever. Diz-se que a lenha para as fogueiras escasseia, mas com uma centena de Fazedores de Cordas e mais de duzentos escravos ao seu serviço, Pasícrates terá toda a lenha de que precisar, por isso deito mais na fogueira sempre que as chamas começam a baixar.
Quando eu era criança, guardávamos os ramos podados das vinhas para queimar, lembro-me disso. Lembro-me de ouvir a minha mãe cantar, acocorada junto ao fogo para mexer uma pequena panela preta, olhando para mim enquanto cantava, para ver se eu a gostava de ouvir. Quando o meu pai estava em casa, fazia uma flauta de cana, e a flauta acompanhava a canção dela. O nosso deus era Lar, e o meu pai dizia que a canção da mãe fazia Lar feliz. Lembro-me de pensar que compreendia mais do que ele, e de como me sentia orgulhoso e dono de um segredo, porque sabia que Lar era a canção, e não algo fora dela. Recordo-me de estar estendido debaixo da pele de lobo e de ver Lar saltar de parede em parede a cantar e a brincar comigo. Tentava apanhá-lo e acordava, a esfregar os olhos, com a minha mãe a cantar ao pé da lareira."
Excerto de Soldado da Névoa, de Gene Wolfe, brilhante incursão no fantástico mundo da Grécia Antiga.
Imagem: Soldado Grego
Para os filósofos antigos, a criação de vida a partir de matéria inanimada parecia tão mágica, tão perto da esfera divina, que alguns preferiam a ideia de que formas de vida prontas vieram para a Terra de outra parte do universo.Anaxágoras, filósofo grego que viveu 2500 anos atrás, empregou o termo panspermia (em grego, sementes em toda a parte), para a sua hipótese de que toda a vidae, na verdade, todas as coisas se originaram da combinação de pequenas sementes espalhadas pelo Cosmos. Na era moderna, vários cientistas, incluindo o físico britânico Lord Kelvin (1824-1907) e o americano Francis Crick (1916-2004), co-descobridor da estrutura do ADN, defenderam concepções de panspermia. Na sua forma moderna, a hipótese da panspermia trata de como algum material biológico pode ter chegado ao nosso planeta, mas não de como a vida se originou. A biogénese foi deslocada do âmbito da filosofia para o da experimentação nos anos 50 do século XX, quando os químicos Stanley Miller e Harold Urey demonstraram que aminoácidos e outras moléculas importantes para a vida poderiam ser gerados a partir de compostos simples que deviam existir na Terra primitiva. Posteriormente, em experiências realizadas em França em 2003, provaram que essas moléculas complexas podiam surgir no espaço interestelar.
Os cientistas que estudam a panspermia concentravam-se na avaliação da plausabilidade da ideia, mas recentemente, e perante os novos dados, começaram a calcular a probabilidade de que materiais biológicos tenham feito a viagem para a Terra nos núcleos de cometas ou meteoritos. Na caótica história primordial do Sistema Solar, o nosso planeta sofria um intenso bombardeio destes corpos celestes contendo compostos orgânicos e até moléculas com funções enzimáticas; haveria uma química ainda prebiótica, mas já a caminho da biologia. Após a aterragem num habitat adequado no nosso planeta, essas moléculas podem ter continuado a sua evolução até às células vivas. E será que aquilo que designamos por habitat adequado só se encontra na Terra? Não poderão as sementes da vida ter chegado a outros lugares, a outros planetas?
Imagem: Panspermia (http://img.lenta.ru/articles/2006/03/21/life/panspermia.jpg)
Fontes: Sci-Am, Science & Vie, Internet
O céu que vemos numa noite sem nuvens pouco difere do céu visto pelos sumérios, por Aristóteles ou Ptolomeu. Contudo, o nosso entendimento sobre as estrelas mudou muito desde esses tempos remotos. As estrelas deixaram de ser fogos celestiais ou luzinhas penduradas pelos deuses na abóbada celeste. São personagens num drama universal de nascimento, evolução, energia, estertor e morte, e seguem um guião a que chamamos leis da natureza.
As estrelas formam-se a partir de grandes nuvens interestelares de gás e poeira, que se contraem devidò à sua própria força gravítica, num processo lento que pode demorar milhões de anos, até à formação de uma proto-estrela, em cujo interior o aumento da pressão faz aumentar significativamente a temperatura. Se a massa da proto-estrela for inferior a 0,08 massas solares, não se atinge a temperatura necessária para iniciar a reacção termonuclear de fusão, e o corpo celeste passará a chamar-se anã castanha, irradiando ainda assim energia, por compressão gravitacional. Se, por outro lado, a proto-estrela tiver uma massa acima de um determinado valor crítico (aproximadamente 81 vezes a massa de Júpiter), a temperatura do seu núcleo atingirá vários milhões de graus e ocorre a fusão nuclear, cujo principal tipo é o de hidrogénio em hélio. Quatro protões (os núcleos de quatro átomos de hidrogénio) fundem-se em etapas sucessivas para formar um núcleo de hélio, libertando dois protões, dois neutrinos e uma quantidade imensa de energia, sob a forma de fotões.
Imagem: Ciclo Protão-Protão (http://astro.if.ufrgs.br/estrelas/node10.htm)
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