"Agora, todos os seres humanos que ele alguma vez viu estão envoltos em chumbo, são pó, todas as vozes que ele alguma vez ouviu estão mudas. O próprio som da lingua materna está mudado. Impérios, religiões, raças humanas iniciaram-se, provavelmente, ou desapareceram; o seu próprio património (o pensamento é vão, contudo, sem ele, como se pode viver?) está afundado na goela sedenta que se escancara sempre, ávida para engolir o passado; as suas aprendizagens, os seus conhecimentos, estão provavelmente obsoletos. Os objectos, pensamentos e hábitos familiares à sua infância são agora antiguidades. Pergunta a si próprio onde estão os cento e sessenta volumes manuscritos que o seu pai compilara e que, enquanto criança ele contemplara com uma reverência religiosa; estão agora onde, onde? O seu companheiro favorito de brincadeiras, o amigo dos seus últimos anos, a encantadora noiva que lhe estava destinada; lágrimas há muito geladas fluem pelas suas velhas faces jovens abaixo."
Excerto do conto Roger Dodsworth, de Mary Shelley, criadora de Frankenstein. A imortalidade - será ela uma benção ou uma punição? - é um dos temas recorrentes nas obras desta autora nascida em 1797.
Imagem: Mary Shelley (www.noosfere.net/Ligny/Mary_shelley.jpg)
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