"Levada pela corrente, agitada pelas vagas, violentamente arrastada por todo o poder dos oceanos, a medusa deriva na maré abissal. A luz atravessa-a, penetra-a a sombra. Levada, agitada, arrastada de qualquer lado para um lado qualquer, a medusa pende e oscila. No seu interior movem-se curtas e rápidas pulsações, tal como as vastas pulsações diurnas palpitam no mar que a Lua domina. Pendendo, oscilando, pulsando, esta que é a mais vulnerável e insubstancial das criaturas tem, para sua defesa, a violência e o poder de todo o oceano, ao qual confiou o seu ser, o seu movimento e a sua vontade.
Mas eis que surgem agora os inflexíveis continentes. Os seus baixios de areia grossa e as suas falésias de rocha erguem-se despidamente da água para o ar, para esse terrível espaço exterior de esplendor e instabilidade, onde a vida não encontra apoios. E agora, agora as correntes desviam e as vagas atraiçoam, quebrando o seu ciclo sem fim, para subirem num estrondo de espuma contra rocha e ar, quebrando... Que poderá a medusa fazer, toda ela produto do mover do mar, da segurança da água, da inquietude da corrente..., que poderá ela fazer na areia seca da luz do dia...?
Que poderá a mente fazer, cada manhã, ao acordar?"
Adaptação de excerto de O Tormento dos Céus, de Ursula K. Le Guin
Imagem: Medusa (http://terresacree.org/images/jellyfish.jpg)
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