"Esta noite não há lua nem estrelas, apenas uma chuvinha fina que é quase uma névoa. Estou sentado à porta da nossa tenda, onde a fogueira fumegante me concede luz suficiente para escrever. Diz-se que a lenha para as fogueiras escasseia, mas com uma centena de Fazedores de Cordas e mais de duzentos escravos ao seu serviço, Pasícrates terá toda a lenha de que precisar, por isso deito mais na fogueira sempre que as chamas começam a baixar.
Quando eu era criança, guardávamos os ramos podados das vinhas para queimar, lembro-me disso. Lembro-me de ouvir a minha mãe cantar, acocorada junto ao fogo para mexer uma pequena panela preta, olhando para mim enquanto cantava, para ver se eu a gostava de ouvir. Quando o meu pai estava em casa, fazia uma flauta de cana, e a flauta acompanhava a canção dela. O nosso deus era Lar, e o meu pai dizia que a canção da mãe fazia Lar feliz. Lembro-me de pensar que compreendia mais do que ele, e de como me sentia orgulhoso e dono de um segredo, porque sabia que Lar era a canção, e não algo fora dela. Recordo-me de estar estendido debaixo da pele de lobo e de ver Lar saltar de parede em parede a cantar e a brincar comigo. Tentava apanhá-lo e acordava, a esfregar os olhos, com a minha mãe a cantar ao pé da lareira."
Excerto de Soldado da Névoa, de Gene Wolfe, brilhante incursão no fantástico mundo da Grécia Antiga.
Imagem: Soldado Grego
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. O horizonte de eventos e ...
. Blogs
. Abrupto
. Feelings
. Emanuela
. Sibila
. Reflexão
. TNT
. Lazy Cat
. Catinu
. Marisol
. A Túlipa
. Trapézio
. Pérola
. B612
. Emanuela
. Tibéu
. Links
. NASA