“Os meus olhos vagueiam pelos campos cósmicos desprovidos de estrelas, um frio glacial enregelando-me o sangue, um pavor desmesurado dementando-me o raciocínio e incapacitando-me de assimilar a magnitude do que me havia sucedido. Demoro-me pelas amplidões sombrias de um nada aparentemente dominado pela mais absoluta entropia, exilado do meu próprio Universo por forças muito para além da compreensão, perdido num referencial descaracterizado e isotrópico. Das profundezas da mente vai emergindo a indubitável e tenebrosa sensação de que não há por onde fugir, a cápsula que me sustenta mal suportando o esforço de manter operativos os sistemas, os mostradores piscando em alarmantes vermelhos e amarelos e a escuridão completa do exterior contribuindo para a absoluta desorientação em que me vou naufragando. Respiro fundo, perseguindo a serenidade que se me afigura esquiva, faço por ordenar os pensamentos e peço à I.A. que me elucide. Revela-se parca em palavras, o profuso fluxo de dados provenientes dos sensores ocupando-a talvez em demasia para valorizar a pertinência das minhas questões…”
V.A.D. em Ergosfera