“Sentia-se espalhado pelo solo pedregoso e áspero, disperso por entre a poeira esbranquiçada e inerte dos séculos esquecidos, a sua identidade esfumando-se num insignificante torvelinho, a consciência reduzindo-se a um quase nada, como que se enrolando numa esfera colapsante, a compreensibilidade esvaindo-se de si próprio, fugidia, as diagramáticas imagens laboriosamente construídas deslizando no inevitável declive entrópico de um entorpecimento vazio e cinzento. Deixara de sondar, tornara-se incapaz de entender o que ainda via, uma atroz inépcia aprisionando-o numa incomensurável aridez desarrazoada. Um derradeiro raciocínio assomou-se-lhe ao espírito, o último paroxismo suspenso num fio de inteireza: não fora em vão, aquela vida. Havia atingido um quê de plenitude, conhecera a perfeição de uns instantes perpetuados na sua própria essência, alimentara-se de fascínios indescritíveis, partilhara-se numa fusão tão absoluta quanto inesperada… E, subitamente, a inanidade das trevas separou-o da existência…”
Será assim, morrer? Os últimos momentos poderiam ser desta forma, uma análise do que de fato foi importante durante a existência, para então apagar-se a mente para este tempo e espaço... Ou simplesmente momentos de vida em que a própria vida parece tão sentido, para surgir no amanhã, depois de um sono reparador achando que tudo faz sentido absoluto. É assim, né amigo? Porque quando vemos o sol brilhando lá fora, quando ouvimos o canto suave dos pássaros e respiramos o ar puro da manhã, não é só o dia que renasce, também nós mesmos. Beijinhos