“Todos os evos da sua vida não passavam agora de um fugaz momento, o passado constituindo uma mera ilusão enevoada pelas brumas de um tempo que, obstinado no seu fluxo, parecia não querer reconhecer que toda a verdadeira significância se condensa no presente, ou ainda num futuro feito de aspirações a substanciar ou de realizações a consolidar. Ali estava, emudecido pela extraordinária beleza daquelas horas, extático perante a profunda simplicidade de algo tão veementemente sentido, rendido à absoluta perfeição de um mundo inteiramente novo, avassalado por uma emotividade que equilibrava a razão e lhe propiciava uma orgia sensorial de sabor a chocolate e laranjas, de doces aromas a unguentos perfumados, de geométricos toques em cadências mais que perfeitas… Ia-se apercebendo, a cada instante, dos simples segredos até então encerrados no seu próprio âmago, a revelação crescendo numa espécie de liberação levitante, conduzindo-o a uma ventura impossível de expressar cabalmente em simples palavras…”
" toda a verdadeira significância se condensa no presente " - há momentos em que vivemos como automatos, rendendo-nos por completo à rotina, limitando-nos a abandonarmo-nos na corrente de ilusões - quando algo nos faz quebrar essa passividade, "uma mera ilusão enevoada", é que realmente damos valor ao tempo, ao mundo, a nós, à vida. Então é que nos vamos "apercebendo, a cada instante, dos simples segredos até então encerrados no próprio âmago", de todos os sonos, cheiros, sabores, texturas e cores...
Depreendendo, quem sabe de forma errónia e presunsosa, que já senti algo similar, ficando emudecida "pela extraordinária beleza daquelas horas", não poderia arranjar melhor definição que uma "espécie de liberação levitante". Concordo, é "uma ventura impossível de expressar cabalmente em simples palavras", contudo não imagino melhor forma d o tentar fazer... é fantástico, meu amigo, vais-me continuamente surpreendendo a cada texto que leio.
Beijos e desejos duma noite avassaladora, numa "orgia sensorial de sabor a chocolate e laranjas, de doces aromas ",
O fluxo contínuo e regular dos eventos rotineiros funciona muitas vezes como uma espécie de soporífero, um sono sem onirismo, uma espécie de inane sobriedade infiltrando-se no próprio âmago, negando a cor da existência... Até que algo surge inesperada e avassaladoramente, numa espontaneidade absolutamente bela e sincrónica que tudo altera... :-) As percepções tornam-se muito mais profundas, a nossa própria identidade ganha contornos mais definidos, de vultos indistintos passamos a figuras muito mais evidentes aos nossos próprios olhos... Tornamo-nos infinitamente mais cônscios, ainda que sobejamente "levitantes"... :-)
Não creio que seja presunçosa, a assunção de que terás já sentido algo de similar... Terás experimentado, também, a dificuldade que constitui a tentativa de transformar em palavras aquilo que se sente... Fico contente, muito contente, por perceber que o resultado deste exercício te é agradável e cabe-me agradecer a gentileza com que sempre me presenteias, através dos teus comentários...*
Formulo os votos de que também a tua noite seja verdadeiramente magnífica!
Beijos e sorrisos infindavelmente ilimitados... :-)