
“Permaneci algum tempo em total imobilidade, demasiado fatigado e entontecido, os meus olhos fixando-se nos olhos do interlocutor sem que os estivesse a ver, a minha mente mostrando-se incapaz de entender ou elaborar um raciocínio coerente, a privação do sono gerando um total alheamento em relação a tudo o que me rodeava. A espaços, sentia-me invadido por uma espécie de leveza delirante semelhante àquela que os estados febris costumam provocar, o som das palavras ouvidas parecendo esbarrar no meu corpo em vergastadas bruscas ou sedosas consoante o timbre das sílabas, uma absurda sinestesia submergindo-me ainda mais na estranheza de não saber o que fazia ali, um mal-estar latente apoderando-se de mim como um organismo gelatinoso e tentacular, tão repulsivo quanto um verme parasitário, verde e fedorento. E de súbito a emese, libertadora e dolorosa, arrancando-me o vazio às entranhas, as contracções involuntárias do corpo exaurindo as réstias de energia, o pânico mal dissimulado levando a um esgar de aflição… E o desfalecimento, inevitável e reparador, sobrevindo sem aviso, transformando-se num longo sono sem sonhos, numa completa ausência em parte alguma…”
V.A.D. em Tortura
De KI a 27 de Maio de 2008 às 02:15
Impressionantemente bem descrito e sentido.
A consciência do sair de si e toda uma ausência paralela.
Tortura mas renascimento.
A pena q eu tenho de n te conseguir comentar assiduamente, mas textos assim n merecem um 'mt bom' apenas, além disso, isso já tu sabes :)
Abraço.
De
V.A.D. a 28 de Maio de 2008 às 02:21
Agradeço-te, amiga... É-me muito importante saber que aquilo que vou escrevendo tem essa capacidade de transmitir sensações...
Neste texto, amplifiquei algumas experiências pelas quais passei, as longas horas de vigília provocando uma completa baralhação na capacidade de gerar raciocínios coerentes, um torpor delirante resultando da privação do sono, o relógio biológico levando uma forte martelada, estilhaçando-se por completo numa miríade de sensações absurdamente indescritíveis...
Peço-te que me desculpes por andar meio ausente. Embora muito limitado em termos de tempo, não tenho deixado de te ler mas, tal como tu, tenho sido incapaz de te comentar com a regularidade que desejaria. O que me vale é que esta é só uma fase anormalmente atribulada... :-)
Desejo-te uma magnífica noite!
Um beijo e um enormeeeeeeeeee sorriso... :-)
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