“Permaneci algum tempo em total imobilidade, demasiado fatigado e entontecido, os meus olhos fixando-se nos olhos do interlocutor sem que os estivesse a ver, a minha mente mostrando-se incapaz de entender ou elaborar um raciocínio coerente, a privação do sono gerando um total alheamento em relação a tudo o que me rodeava. A espaços, sentia-me invadido por uma espécie de leveza delirante semelhante àquela que os estados febris costumam provocar, o som das palavras ouvidas parecendo esbarrar no meu corpo em vergastadas bruscas ou sedosas consoante o timbre das sílabas, uma absurda sinestesia submergindo-me ainda mais na estranheza de não saber o que fazia ali, um mal-estar latente apoderando-se de mim como um organismo gelatinoso e tentacular, tão repulsivo quanto um verme parasitário, verde e fedorento. E de súbito a emese, libertadora e dolorosa, arrancando-me o vazio às entranhas, as contracções involuntárias do corpo exaurindo as réstias de energia, o pânico mal dissimulado levando a um esgar de aflição… E o desfalecimento, inevitável e reparador, sobrevindo sem aviso, transformando-se num longo sono sem sonhos, numa completa ausência em parte alguma…”
É essa capacidade que eu gostava muito de ter, pois tempo é o que não me falta: Ou seja Transformar as minhas insónias numa história mirabolante, mas bonita ao mesmo tempo. Haverá por aí algum resquício da ideia de ir voar? De qualquer modo parabéns e boa semana. Um abraço.
Amigo, cabe-me agradecer a gentileza que sempre empresta às suas palavras. Sempre que me acho capaz, tento mergulhar nas fragilidades do Homem, os limites do organismo e as imposições de um relógio biológico, acertado pelos ciclos noite-dia, exigindo que um período de sono se suceda a algumas horas de vigília... A ideia de voar está sempre presente em mim. Aliás, sinto muitas saudades de um período em que o fazia regularmente, os voos de ensaio sendo sempre motivo de regozijo... :-)