“Queria lavar-se; sentia-se atormentado pelo profundo desejo de ser acariciado pela água corrente, mas só podia perceber o formigueiro das inaudíveis ondas sonoras massajando-lhe a pele, o duche ultrassónico expurgando-o dos resíduos acumulados na cútis durante as décadas de total imobilidade. Vestiu-se e permaneceu quedo durante alguns minutos, apreciando a extraordinária sensação de calor a invadir-lhe o corpo, o fato de voo aconchegando-o, o sangue voltando a fluir-lhe nas veias na cadência determinada pela natureza. Lá em baixo, um mundo novo aguardava-o, as incertezas emboscando-se pelos cantos escuros dos seus raciocínios, a esperança temerária asseverando-lhe que haveria de ser bem sucedido. Inspirou profundamente e olhou os monitores, concentrando-se na imperiosa tarefa de verificar as condições da nave, o longo voo exigindo-lhe redobrada atenção antes de accionar os retrofoguetes, uma órbita baixa afigurando-se-lhe apropriada à investigação de quaisquer sinais reveladores da presença de congéneres naquele planeta tão análogo ao seu. A trajectória marcada na mesa de navegação fez o veículo desacelerar momentaneamente, a gravidade obrigando-o cair, os pormenores da superfície tornando-se cada vez mais distintos, o computador sendo chamado a calcular as contínuas e indispensáveis correcções para que um ângulo de seis graus fosse mantido…”
V.A.D. em Tarde Demais
De
Fisga a 18 de Maio de 2008 às 16:13
Espero que a aterragem, ou a amaragem, seja um grande e autentico sucesso, e que a quarentena não tenha que ser muito grande, pois para clausura já basta. Um abraço e um bom resto de fim-de-semana.
De
V.A.D. a 21 de Maio de 2008 às 01:22
A ficção não difere muito da realidade actual. As aterragens podem já ser feitas automaticamente, a intervenção do piloto revelando-se totalmente desnecessária... :-)
Agradecendo as suas palavras, amigo, desejo-lhe uma óptima noite!
Um abraço.
Venho desejar uma boa semana . bj
De
V.A.D. a 21 de Maio de 2008 às 01:26
Amiga, peço-te que me desculpes por só agora responder às tuas amáveis palavras. Estou a atravessar uma fase em que o tempo escasseia de tal forma que me vejo impedido de retribuir atempadamente a gentileza com que sempre me presenteias através dos comentários.
Formulo os votos de que também a tua semana seja cheia de momentos agradabilíssimos!
Um beijo e um enormeeeeeeeeee sorriso... :-)
Não tens que pedir desculpa, não levo a mal. Eu quuando posso e me apetece virei sempre dar um bj.
De
V.A.D. a 22 de Maio de 2008 às 01:26
Agradeço-te e aproveito para te desejar uma óptima noite e um excelente feriado.
Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)
De
Emanuela a 20 de Maio de 2008 às 02:35
É uma das coisas que mais gosto de sentir em mim: "a extraordinária sensação de calor a invadir-me o corpo." Sempre me faz sentir viva e aconchegada, mesmo quando estou absolutamente só.
Beijos
De
V.A.D. a 21 de Maio de 2008 às 01:38
Amiga, ao fazer esta descrição vali-me da experiência, alguns quilómetros percorridos de mota em dias frios de inverno, essa extraordinária sensação de calor invadindo-me após a chegada ao destino... :-)
Desejo-te uma magnífica noite!
Um beijo e um enormeeeeeeeeeee sorriso... :-)
De
**** a 20 de Maio de 2008 às 20:40
"... formigueiro das inaudíveis ondas sonoras massajando-lhe a pele, o duche ultrassónico expurgando-o dos resíduos acumulados na cútis durante as décadas de total imobilidade." - não é a primeira vez que fazes referência a este tipo de duche e já anteriormente tinha ficado curiosa em relação à sensação... Gosto de sentir a água morna a escorrer pelo corpo, a estimular cada terminal sensitivo da pele nua, a carícia perturbadoramente humana da água corrente, acho que não a trocaria por essa. Contudo interrogo-me como será.
"o computador sendo chamado a calcular as contínuas e indispensáveis correcções" - parece que não só o computador necessita de se adaptar, mas também o organismo do teu personagem precisa de o fazer. Transmites maravilhosamente algumas sensações de certos despertares, amplificado pelas décadas que o corpo ficou em repouso.
E agora acho que vou eu tomar um banho - normal
Beijos
e uma óptima noite
Sophia
De
V.A.D. a 21 de Maio de 2008 às 02:03
Estou em total concordância contigo, amiga: a água morna massajando a pele é algo de extraordinário, não havendo certamente outra forma de duche que se lhe compare. No entanto, imagino excitantes, as sensações provocadas pelos ultra-sons, milhares de terminações nervosas sendo estimuladas em uníssono por sons que não se ouvem... :-)
Imaginei um torpor enregelado, aquilo que o protagonista estaria a sentir, as décadas de imobilidade exigindo um enorme esforço de adaptação para que a fisiologia regressasse à normalidade. Embora não o tenha referido, por não achar que fosse importante para a história, a minha concepção de um tão longo período de animação suspensa envolve algum método que impeça a atrofia muscular e a descalcificação óssea.
Agradecendo as tuas palavras, desejo-te uma magnífica noite, amiga!
Um beijo e um enormeeeeeeeeeee sorriso... :-)
Comentar post