Quarta-feira, 14 de Maio de 2008

Tarde Demais (III)

“Uma luz intensa e branca brilhava sobre metade da superfície da nave, a outra metade permanecendo na sombra e nos pálidos reflexos azul-esverdeados do planeta lá em baixo, a elevada altitude dando ao seu ocupante uma visão extraordinária de continentes e mares, encobertos aqui e ali por uma alva e pouco espessa camada de vapor de água, a ténue atmosfera erguendo-se algumas dezenas de quilómetros acima do horizonte. O computador quântico havia decidido ser aquele um destino aceitável, a análise espectrográfica indicando um mundo telúrico feito de silicatos, ferro e outros metais pesados, a existência de água no estado líquido e oxigénio em abundância declarando que a vida certamente florescera ali, no terceiro orbe a contar do Sol. Tinha procedido às manobras necessárias, o veículo alinhando-se primeiro com o plano da eclíptica e depois descrevendo a trajectória que o levara à órbita geossíncrona. Cedera o comando; os procedimentos que haviam levado ao despertar do ser biológico que com ele viajava revelando ter sido bem sucedidos, as decisões cabendo agora ao cérebro que lentamente ia recuperando a lucidez, num caminho sinuoso através de raciocínios ainda desconexos mas cada vez mais coerentes: atravessara uma distância incomensurável, sentia a garganta seca e o estômago vazio. Uma moinha incomodativa pesava-lhe sobre a cabeça, deixando-o nauseado. Mas, acima de tudo, sentia-se vivo…”
V.A.D. em Tarde Demais
Imagem: Terra (www.sages.ac.uk/image_gallery/general/earth-space.jpg)

publicado por V.A.D. às 03:00
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18 comentários:
De TiBéu ( Isa) a 14 de Maio de 2008 às 09:14
menina.jpg
Votos de um bom dia.
Beijinho


De V.A.D. a 15 de Maio de 2008 às 01:25
Obrigado, amiga... :-)

Desejo-te uma magnífica noite!

Um beijo e um enormeeeeeeeeee sorriso... :-)


De Emanuela a 15 de Maio de 2008 às 02:43
Este momento do teu conto me levou a pensar nos homens que realmente se aventuram em viagens espacias.Fiquei a analisar o quanto precisam estar preparados fisica e psicologicamente para tantas possíveis surpresas.O olhar de encantamento que lançam sobre tudo, deve sempre primeiro estar firme na razão, ou facilmente podem se perder ... São mundos tão diferentes deste nosso mundinho simples
( ao menos do meu)...
Beijinhos, amigo.


De V.A.D. a 17 de Maio de 2008 às 23:29
Era um garoto de apenas um ano de idade quando o Homem alcançou um outro planeta, o engenho tornando o sonho realidade, a grande aventura da conquista espacial tendo nessa data a sua mais elevada expressão. Desde essa época, parece ter havido uma alteração nas prioridades, as naves não tripuladas e os voos orbitais - ainda que arriscados - contribuindo para o enriquecimento do Saber, mas ficando aquém das expectativas... A esta altura, a humanidade já podia ter enviado astronautas a Marte; não perdi a esperança de assistir a um tal evento... :-)

Desejo-te uma óptima noite e um magnífico fim-de-semana, amiga!

Um beijo e um enormeeeeeeeeeeee sorriso... :-)


De Emanuela a 18 de Maio de 2008 às 00:51
Amigo, sabes que agora me fizeste disparar o coração? Lembrei-me daquele momento( eu já tinha oito anos e a televisão mal tinha sido conhecida por mim... )Vi na televisão de um vizinho alguma coisa a respeito da viagem à Lua. Provavelmente no noticiário. Lembro-me bem daquela época fantástica. Tuas palavras trouxeram-me as memórias.
Eu também tenho a esperança de assistir a um evento como este, com olhos adultos, que possam avaliar bem a realidade.
Um beijinho, bom domingo para ti


De V.A.D. a 18 de Maio de 2008 às 01:26
Sabes do meu interesse por estas questões, amiga. Deves imaginar o quão extraordinária para mim seria a oportunidade de assistir em directo à chegada da humanidade a um qualquer planeta do sistema solar, pois era ainda muito pequeno quando as missões Apollo tiveram lugar. Só me dei conta da sua importância alguns anos mais tarde, quando percebi o que de facto representaram e ainda representam... :-)

Votos de um magnífico domingo, amiga!

Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)


De TiBéu ( Isa) a 15 de Maio de 2008 às 15:42

Image Oferta minha



De V.A.D. a 18 de Maio de 2008 às 01:11
Muito obrigado, amiga, pelo gesto com que me brindaste. Fico muito contente por saber que o meu espaço consegue, de alguma forma, ser agradável.

Desejo-te uma óptima noite e um excelente domingo!

Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)


De Pérola a 16 de Maio de 2008 às 20:39
Leio solidão. Mas grande vontade e chegar ao objectivo.

Um beijo, amigo, um excelente fim-de-semana para ti!


De V.A.D. a 18 de Maio de 2008 às 01:16
Nem consigo imaginar a solidão que o protagonista sentiria, vendo-se confrontado com uma situação assim, sem saber se alguma vez iria rever os da sua espécie... Contudo, à imagem do que aconteceria com um humano, a esperança subsiste, assim como a perseverança... :-)

Agradecendo, também eu te desejo uma óptima noite e um magnífico domingo!

Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)


De Pérola a 18 de Maio de 2008 às 12:56
Também imagino sim, quando se tem um objectivo maior que nós, isso não deixa a esperança morrer.
Beijinhos amigo, e um excelente Domingo, com caracóis e minis! Eheheh! :p


De V.A.D. a 21 de Maio de 2008 às 01:19
Peço que me desculpes pelo atraso na resposta, amiga, mas tenho andado completamente embrulhado em afazeres que me roubam o tempo.
Subscrevo-te na íntegra: enquanto houver a mais ínfima possibilidade de se atingir algo, não se pode desistir.

Agradecendo-te, faço votos para que a tua noite seja magnífica!

Um beijo e um enormeeeeeeeee sorriso... :-)


De **** a 16 de Maio de 2008 às 23:30
"...atravessara uma distância incomensurável, sentia a garganta seca e o estômago vazio" - como eu me sinto, se bem que não partilhe esse desconforto com o teu personagem, mas sim tenha sido invadida por um sentimento de maravilha.
Por vezes tenho uma inveja muito mesquinha desses teus personagens... Tento beber cada uma das palavras com mais cuidado, compreender cada jogo de palavras e sentido com mais atenção, mantendo-me numa atitude teimosa uns instante mais por lá.

É algo que valeria a pena viver para ver, algo que nos devia sensibilizar um pouco para a sua protecção - "uma visão extraordinária de continentes e mares, encobertos aqui e ali por uma alva e pouco espessa camada de vapor de água". Mesmo que, aproximando-mo-nos, denotemos algumas coisas que não nos causam prazer algum ver, visto do espaço o planeta é um lugar lindo...


Beijos
e - já que não podemos (por enquanto) ver a terra do espaço, vejamos o espaço da terra - uma noite muito estrelada

Sophia


De V.A.D. a 18 de Maio de 2008 às 01:43
Sempre gentis, as tuas palavras, amiga...! Às vezes imagino-me em órbita, olhando para este lugar maravilhoso que é a Terra, uma ilha de vida nas vastidões cósmicas, cheia de extraordinárias belezas mas também de locais maltratados pela incúria do Homem... Pode ser que nos consciencializemos a tempo da necessidade de tratar melhor o planeta...
Tal como o protagonista, não podemos deixar morrer a esperança... :-)

Como habitualmente, tenho vindo a tentar construir, neste conto, um cenário plausível. Embora alienígena, este ser assemelha-se, em emoções e comportamentos, a um humano. Sente-se solitário e inquieta-se com as incertezas que o futuro lhe reserva. Mas não desiste de procurar... :-)

Desejo-te uma óptima noite e um magnífico domingo, amiga!

Um beijo e um enormeeeeeeeeeeee sorriso... :-)


De Maria João Brito de Sousa a 17 de Maio de 2008 às 23:33
Bom, cheguei tarde, mas não tarde demais para pôr a leitura em dia... parece que o nosso planeta azul é que está condenado neste teu "Tarde Demais"... mas com tanto oxigénio e tanta água ainda daria para o repovoar... ou não?
Um abraço e um fim de semana cheio de inspiração!:-)


De V.A.D. a 18 de Maio de 2008 às 01:56
Nunca é tarde demais, amiga...! :-)
Hummm... Na verdade, o protagonista é alienígena, embora apresente todas as características usuais num ser humano: desorienta-se com os infortúnios, emociona-se com as belezas do Universo, torna-se racional quando assim se exige e, sobretudo não perde facilmente a esperança. Quando confrontado com o resultado de um evento cataclísmico que dizimou a vida à superfície do seu mundo, procura nas estrelas a sobrevivência, acabando por se dirigir para a Terra... :-)

Para a construção do conto, usei como base Lalande 21185, um sistema a 8,21 anos-luz de distância. Nesse sistema, dois planetas (gigantes gasosos) foram já detectados, não sendo de excluir a hipótese de existirem planetas telúricos mais pequenos, algum deles até localizado naquela que é considerada a zona habitável.

Desejo-te uma óptima noite e um excelente domingo, amiga!

Um beijo e um enormeeeeeeeeeeeeee sorriso... :-)



De Maria João Brito de Sousa a 18 de Maio de 2008 às 02:29
As coisas que tu sabes sobre as estrelas e os planetas que traçam as suas órbitas em torno delas... mas olha que o nosso navegador espacial é muitíssimo humano, pelo menos por dentro...
Um abraço e uma excelente noite!:)


De V.A.D. a 18 de Maio de 2008 às 02:43
Não nego, amiga, que estes temas me apaixonam. Olho o céu nocturno sem nuvens e penso nos duzentos mil milhões de estrelas da nossa galáxia. E penso no incontável número de galáxias deste Universo. E penso na possibilidade de existir um número inquantificável de Universos... E penso que afinal a mente humana não consegue, de forma alguma, abarcar a vastidão de tudo isto... Contudo, pode-se maravilhar... :-)

Quanto ao protagonista, fi-lo semelhante aos humanos, por forma a dar-lhe os sentimentos que todos experimentamos... :-)

Obrigado, amiga. Formulo, uma vez mais, os votos de que a tua noite seja magnificamente estrelada.

Um beijo... :-)


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